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16/01/2021 às 09h00min - Atualizada em 16/01/2021 às 09h00min

Janeiro Branco: conscientização sobre depressão

TÚLIO MENDHES
O Janeiro Branco é uma campanha brasileira que teve início lá em 2014, no estilo Outubro Rosa e a Campanha Novembro Azul. O seu objetivo é chamar a atenção da humanidade para as questões e necessidades relacionadas à nossa saúde mental e emocional. O primeiro mês do ano foi escolhido porque, em termos simbólicos e culturais, nós estamos mais propensos a pensarmos em nossas vidas, em nossas relações sociais, condições de existenciais. E, como em uma “folha ou em uma tela em branco”, todos nós podemos nos inspirar a escreveremos ou a reescrevermos as nossas próprias histórias de vida.

Contudo, precisamos falar com mais frequência sobre depressão que, infelizmente, é um transtorno mental frequente que, em todo o mundo, estima-se que mais de 300 milhões de pessoas, de todas as idades, etnias, classes sociais, de todos os credos, sofram. Essa condição difere das oscilações usuais de humor e das respostas emocionais de curta duração. Ela causa grande sofrimento e disfunção no trabalho, nos estudos, nas relações sociais e, inclusive, no meio familiar.

Especialmente, quando de longa duração e com intensidade moderada ou grave, a depressão pode se tornar uma crítica condição de saúde. Na pior das hipóteses, a depressão pode levar ao suicídio. Cerca de 800 mil pessoas morrem por suicídio a cada ano - sendo essa a segunda principal causa de morte entre pessoas com idade entre 15 e 29 anos. Para as inúmeras pessoas que lidam com o transtorno depressivo maior - aquele que inclui diferentes tipos de depressão e que persiste, no mínimo, por duas semanas -, os antidepressivos podem ter um papel valioso, amenizando no alívio dos sintomas, permitindo que essas pessoas deprimidas retomem a vida que tanto gostavam. No entanto, para aqueles que apresentam uma forma conhecida como depressão resistente ao tratamento (treatment-resistant depression, TRD), as medicações padrão proporcionam pouco ou nenhum alívio. O transtorno não é raro: até um terço dos adultos com depressão maior enfrentam sintomas - como sentimentos persistentes de tristeza, distúrbios do sono, pouca energia e pensamentos sobre morte ou suicídio - que não respondem ao tratamento.

Embora não exista um consenso sobre a definição de depressão resistente ao tratamento, geralmente, considera-se que um paciente apresenta a doença se o indivíduo não respondeu a doses adequadas de dois antidepressivos diferentes administrados por um período suficiente de tempo, que, geralmente, é de seis semanas.

Ainda há muito a aprender, mas vários avanços recentes e promissores estão ajudando a entender e a tratar a TRD. O melhor é escrever que existem quatro motivos pelos quais as pessoas que vivem há muito tempo com esse transtorno podem ter novas esperanças.

Não há como prever, com absoluta certeza, quais das pessoas com depressão não responderão ao tratamento, mas os pesquisadores observaram que determinadas populações são mais vulneráveis que outras. Mulheres e idosos, por exemplo, parecem apresentar TRD em taxas maiores, por motivos que, provavelmente, são biológicos e psicológicos. Indivíduos que apresentam crises graves ou, frequentemente, recorrentes de depressão também parecem mais suscetíveis. A saúde geral de uma pessoa deprimida também pode influenciar.

Pacientes com depressão que apresentam alguma doença clínica - como doença tireóidea e dor crônica - estão em maior risco para TRD. Outras doenças associadas com a TRD incluem o abuso de substâncias e transtornos alimentares e do sono, que têm potencial para tornar uma pessoa mais propensa a ser resistente ao tratamento com antidepressivos.

A depressão pode ter causas que ainda não compreendemos - e pode ser o motivo pelo qual os antidepressivos não funcionam para todos. Por um lado, a biologia da depressão ainda é, em grande parte, um mistério, por outro, a teoria mais popular é de que ela é causada por níveis cerebrais baixos de alguns neurotransmissores, como serotonina e norepinefrina, que são associados com os sentimentos de felicidade e bem-estar. No entanto, os neurotransmissores podem não ser os únicos culpados - portanto, os antidepressivos, que atuam aumentando os níveis de serotonina ou norepinefrina, podem não ser o único tratamento que funcione. Os antidepressivos tradicionais afetam somente os neurotransmissores, portanto, esse pode ser o motivo pelo qual alguns pacientes não respondem a eles. Embora as palavras “resistentes ao tratamento” possam soar como sinônimos de “ausência de esperança”, a realidade é que existem ferramentas para ajudar as pessoas com TRD. Mas como pra tudo existe solução, nossos brilhantes cientistas e pesquisadores trabalham ativamente em pesquisas conduzidas sobre depressão resistente ao tratamento. Por exemplo, estão realizando estudos clínicos com um composto que possui potencial para ajudar pessoas com TRD ao agir em vias cerebrais diferentes das dos antidepressivos.

Enfim, existem perspectivas que atenderão as pessoas propensas à depressão ou ao TRD - depressão resistente ao tratamento (treatment-resistant depression). É nosso dever conscientizar a humanidade, assim como as autoridades governamentais e legislativas do mundo, a respeito da importância de estratégias e de políticas públicas voltadas para a promoção das mental em nossas vidas. Assim, todos entenderão a importância de ações sociais, de intervenções adequadas, de políticas públicas, de orientações didáticas e da constante circulação de conhecimentos a respeito das temáticas sobre saúde mental. O mundo precisa de um pacto pela saúde mental!


*Esta coluna é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.
 
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