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19/12/2020 às 08h00min - Atualizada em 19/12/2020 às 08h00min

Covid-19: Uma retrospectiva da doença que mudou 2020!

JOÃO LUCAS O'CONNELL
O ano de 2020 começou com a divulgação de uma doença misteriosa, semelhante a uma gripe, que vinha causando doença e morte em uma província do país mais populoso do mundo: a COVID-19 na China. Desde então, inúmeras dúvidas e controvérsias relacionadas à doença e ao seu impacto nos inquietaram durante todo o ano. Vários questionamentos surgiram: A doença vai chegar ao Brasil? Qual vai ser o padrão de disseminação? O calor vai nos proteger? Teremos proteção por termos tomado BCG ou por termos mais vitamina D? Qual vai ser a letalidade da Covid? Usar ou não a máscara? Isolamento social? Testar toda a população para evitar a disseminação? Quem deve ser internado? A Cloroquina salva vidas? E a Ivermectina?  Quando usar corticoide? E os antibióticos? A vacina é segura?  
 
Discutimos tudo isso por aqui, nesta coluna, ao longo do ano. Chegamos ao fim de 2020 com muitas respostas científicas, mas, também, algumas dúvidas que ainda persistem em relação a algumas destas perguntas... A doença não só chegou ao Brasil, como bateu forte por aqui. O Brasil é o segundo maior país em número de casos registrados até aqui. Foram mais de 7 milhões de pessoas com o diagnóstico confirmado de Covid (fora os que tiveram a doença assintomática e os que não fizeram o exame para confirmação).
 
Já tivemos mais de 180.000 óbitos! Foi menos do que alguns pessimistas imaginavam, mas, muito maior do que a grande maioria dos céticos previu. O clima mais quente e mais ensolarado do Brasil, o uso prévio da vacina BCG, níveis mais altos de vitamina D que dos europeus e o uso precoce de algumas medicações não nos protegeram contra o vírus.
 
Apesar de todas as perdas que tivemos, o cenário poderia ter sido pior! No início da pandemia, taxas de letalidade de até 10% foram divulgadas, o que levou pânico ao mundo. Assim, a constatação de que a taxa real de letalidade era menor que 2%, trouxe alívio, mas também um imprudente desleixo por parte da população. Como a doença se mostrou menos mortal do que inicialmente previsto, pelo menos entre os mais jovens e saudáveis, medidas como evitar aglomerações, isolamento social e o uso de máscara passaram a ser cada vez mais questionados, inclusive entre nossos governantes.
 
A falta de consciência coletiva de que as medidas preventivas são importantes não só para cada indivíduo, mas, especialmente, para os mais frágeis e idosos acabou facilitando a disseminação da doença.
 
Nada foi mais variável e imprevisível do que o ritmo de disseminação da doença. Quando a doença começou na China e na Europa, houve um aumento rápido e expressivo do número de casos, levando a um fechamento geral de bairros e cidades. Assim, por lá, houve uma onda rápida de disseminação da doença que levou à grande sobrecarga do sistema de saúde.
 
Já no Brasil, medidas adotadas entre Abril e Julho, como a restrição da circulação de aproximadamente metade da população por várias semanas, ajudaram no achatamento da curva de disseminação da doença. Isto evitou o possível colapso de nosso sistema de saúde. Entretanto, tornou a epidemia bem mais arrastada do que a maioria previu.
 
Além disso, o abandono de medidas preventivas por parte da população nos últimos meses, associado a aglomerações em bares, restaurantes e festas levou a um novo aumento do número de casos e de mortos nas últimas semanas, que não teria acontecido caso algumas restrições tivessem sido mantidas por mais alguns meses.
 
Entretanto, vale lembrar que as medidas restritivas para evitar a disseminação da doença são inversamente proporcionais aos danos econômicos que elas causam. Assim, estabelecer um equilíbrio entre proteção da saúde coletiva versus proteção da economia também foi uma constante no debate político polarizado nacional ao longo do ano.
 
Por fim, outro tópico que gerou muita controvérsia foi o tratamento da Covid. Chegamos ao final do ano sem uma evidência robusta de que algum tratamento medicamentoso seja eficaz em tratar precocemente a doença evitando a sua progressão para formas mais graves. Medicamentos promissores como hidroxicloroquina, azitromicina, remdemsevir, nitazoxanida e outros se mostraram ineficazes.
 
O uso de corticoides, colchicina, antibióticos, anticoagulantes, oxigênio, suporte ventilatório salvaram muitas vidas quando utilizadas em pacientes graves. Dúvidas ainda permanecem sobre o eventual benefício de suplementação de vitamina D e da Ivermectina, que se mostraram úteis apenas em estudos observacionais. Um novo medicamento antiviral chamado Molnupavir se mostrou muito eficiente em animais de experimentação (furões) e se tornou uma grande promessa para os próximos meses.
 
Entretanto, a melhor e mais positiva notícia ao longo dos últimos meses foi o desenvolvimento de várias vacinas para a prevenção da Covid-19. Pela primeira vez na história, várias vacinas eficazes e seguras foram desenvolvidas numa incrível velocidade (menos de um ano)! 
 
Isto mostra a excelência da tecnologia aplicada atualmente em saúde. Por fim, gostaria de desejar a todos um Feliz Natal e um Ano Novo repleto de esperanças e expectativas positivas. Temos que relembrar nossas dificuldades ao longo do ano e lamentar nossas perdas! Mas, também, quem chegou com saúde e comida na mesa, tem motivos de sobra para celebrar a vida com seus amigos e familiares mais próximos, de preferência em ambientes abertos e bem arejados. Evite aglomerações, reuniões com mais de 10 pessoas, ou com quem você não convive habitualmente.
 
Siga as medidas de higiene manual e respiratória exaustivamente discutidas por aqui durante o ano também durante suas comemorações. E até 2021!


*Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.
 
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