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24/11/2020 às 08h00min - Atualizada em 24/11/2020 às 08h00min

A Revolução de 1930

ANTÔNIO PEREIRA
Era Presidente da República o paulista Washington Luiz.

Chegavam as eleições. As oligarquias mineira e paulista, agroexportadoras, para manterem seus privilégios, adotaram uma prática política em que os Presidentes da República se alternariam no poder: uma vez era mineiro, outro vez, paulista. Washington Luiz furou o esquema e indicou para seu sucessor outro paulista, Júlio Prestes.

A crise mundial de 1929 atingiu profundamente o país em suas consequências econômicas, principalmente com o desemprego, o que desagradou o povo que via o governo como um dos responsáveis pela situação.

A oposição, que pretendia acabar com o poder das oligarquias agrícolas, apresentou Getúlio Vargas candidato a Presidente e João Pessoa a vice. João Pessoa foi assassinado na Paraíba por questões sentimentais, mas a oposição transformou o crime em ação política.

Realizadas as eleições, como era de se esperar, Júlio Prestes ganhou com larga vantagem sobre Getúlio Vargas. A oposição não quis aceitar esse resultado alegando fraude. A fraude era muito comum. Nenhum Presidente da República, antes de Getúlio Vargas, foi eleito sem fraude. 

Essas quatro circunstâncias justificaram o golpe de Estado que derrubou Washington Luiz e impediu Júlio Prestes de tomar posse.
O golpe foi dado com uma revolução armada em que o Rio Grande do Sul aliou-se à Paraíba e a Minas Gerais para derrubar o governo.

O Estado de Goiás aliou-se a São Paulo para tentar impedir o golpe e o Triângulo Mineiro ficou numa situação melindrosa, cercado pelos dois Estados amigos.  

As forças goianas pretendiam unir-se às paulistas, porém, para isso, teriam que atravessar o Triângulo.

O governo mineiro criou duas frentes para impedir a invasão do Triângulo e a união dessas forças. Uma com sede em Uberaba, para conter os paulistas, e outra com sede em Uberlândia, para conter os goianos. A de Uberlândia teve dois comandos, um civil, entregue ao senador estadual Camillo Chaves, que era de Ituiutaba, e outro militar entregue ao capitão José Persilva.

Formaram-se pelotões nas cidades triangulinas para defender o seu chão. Os de Uberlândia foram enviados à ponte Afonso Pena. Ficaram na Alvorada. Do lado de cá da ponte. Cumpriram seu dever de impedir a invasão das forças goianas, em torno de 500 homens.

Os combates se deram apenas na troca de tiros, que não era constante. Os goianos não arriscaram a travessia porque seria trágica para eles. A ponte era comprida e estreita. Os soldados seriam alvos fáceis.  

A luta começou no dia 3 de outubro e terminou no dia 24 com a prisão do Presidente. Tivemos apenas uma baixa, a do sargento Virmondes, promovido a tenente post mortem.

Tivemos um fato curioso: para reforçar nossas tropas, a Oficinas Crosara, montou um canhão usando um tubo de oxigênio e um poste de energia elétrica. Suas bombas foram feitas com latas vazias de soda cáustica. Seu uso na frente de combate foi eventual e causou mais efeito moral que qualquer destruição. Esse canhão foi apelidado de “Emílio” e se encontra hoje no Museu Nacional do Rio de Janeiro.


*Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.

 
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