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17/11/2020 às 08h00min - Atualizada em 17/11/2020 às 08h00min

Curiosidades místicas

ANTÔNIO PEREIRA

Quando se estava transformando a velha Câmara Municipal, construída por Cypriano del Favero em 1917, em Museu Municipal, ao aprofundar seus porões para ganhar mais espaços, o engenheiro Occhiuchi foi informado por um dos peões da obra de um encontro macabro: ossos humanos. Occhiuchi já ia registrar o encontro na Delegacia de Polícia, quando um velho morador, disse-lhe que não se preocupasse. A praça tinha sido cemitério e muitos esqueletos descansavam eternamente por ali.

Mas já houve encontro mais assustador no velho cemitério desativado no início do século XX. Dona Ernestina Machado da Silveira, casou-se com Herculano Ferreira, homem parcimonioso que não gastava à toa de jeito nenhum. Era mulher de extrema bondade, dada a atos caridosos com o que o marido nem sonhava.

Com a ajuda de um escravo, Gaspar, ela doava roupas e agasalhos aos necessitados. Ela mesma confeccionava as peças e entregava ao Gaspar para levá-las a pessoas que ela indicava. Quando faleceu, nos fins do século XIX, foi enterrada no cemitério que havia na praça Clarimundo Carneiro.

Passados anos do seu falecimento, os coveiros João José e Sérgio, ao abrirem velhas covas para novos sepultamentos, depararam com o corpo de d. Ernestina em perfeito estado de conservação, com as roupas e os galões muito bem conservados. Assustados com o achado, correram a relatar o fato ao padre Pio Dantas Barbosa. O pároco mandou que se recobrisse o corpo e se abrisse outra sepultura. Determinou-lhes também que mantivessem o mais estrito segredo sobre o que tinham visto alegando que comunicaria tudo ao Bispo. Ninguém soube o que bispo decidiu.

Quem contou isso ao memorialista Tito Teixeira foi um pedreiro, escravo liberto, chamado Marinho Machado da Silveira. É possível que os restos mortais da piedosa d. Ernestina, como dos demais sepultados naquele logradouro, continuem lá, sob as plantas do jardim que o agente executivo Joanico mandou construir. Tito Teixeira, que nos revelou esse fato, nos contou outro no seu livro Bandeirantes e Pioneiros do Brasil Central, volume 1.

Quando foi para se instalar o Colégio Nossa Senhora, à praça hoje Coronel Carneiro, por iniciativa do padre Albino Figueiredo e autorização do bispo diocesano de Uberaba dom frei Luiz Maria de Santana, as irmãs missionárias de Jesus Crucificado aceitaram a incumbência da instalação dessa escola em Uberlândia. Madre Maria do Calvário veio a Uberlândia analisar a possiblidade da instalação.

Aceita a incumbência a madre superiora, acompanhada das madres Maria Josefina do Coração Chagado de Jesus e Amália Maria de Jesus Flagelado, chegaram a Uberlândia em novembro de 1931 e se hospedaram na casa de Arlindo Teixeira (demolida) que ficava na praça dr. Duarte.

Uma das freiras (não a madre), às sextas-feiras, aparecia com manchas de sangue na palma das mãos e na testa. Nas conversas à sala, à noite, após o jantar, com convidados que queriam conhecer as freiras, um dia o anfitrião disse à madre que gostaria de saber qual freira recebia aquela graça. Madre Maria do Calvário disse ao Teixeira: “ela hoje é hospedeira desta acolhedora residência, porém, solicitamos a todos os presentes absoluto segredo, a fim de evitar a curiosidade pública.”

E, dessa forma, não ficamos sabendo quem era a agraciada freira.
 
Fontes: engenheiro Ochiuchi e Tito Teixeira.


*Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.


 

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