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06/11/2020 às 09h00min - Atualizada em 06/11/2020 às 09h00min

Vizinhança

CELSO MACHADO

Evidente que toda pessoa sensata evita problemas. Mas quando situações saem do controle não há como fugir deles. Melhor enfrentá-los e procurar ver o que aprender com eles. A pandemia que estamos vivendo é um desses casos. Com tudo de ruim, de trágico, de prejuízos é preciso reconhecer que tem nos ensinado muito.

O lar e o convívio com a família passaram a receber atenção maior. De repente descobrimos cantos na nossa casa que há muito não utilizávamos, sequer percebíamos. 

Passamos a fazer tarefas até então terceirizadas como cozinhar, arrumar a cama, lavar pratos, cuidar do jardim, lavar os carros, arrumar armários, guarda-roupas e outras atividades que pouca ou nenhuma atenção recebiam de nossa parte.

Quantas peças de roupas redescobrimos, que estavam guardadas há anos, que nem lembrávamos que tínhamos. O que também aconteceu com sapatos, tênis e outros apetrechos do vestuário. Percebemos que dá para vivermos um bom tempo sem gastar com esses quesitos.

Na questão de comportamento, ficamos contemplativos e valorizamos muito mais quem nos dá atenção verdadeira, com quem podemos compartilhar opiniões, ouvir sugestões, desfrutar do convívio.

Interessante que passamos a refletir sobre o ritmo de vida que tínhamos, as escolhas que fazíamos, as concessões e renúncias para seguir caminhos cujo destino proporcionavam instantes muito efêmeros de satisfação. E um preço bastante caro para alcançá-lo.

Por outro lado, velhas práticas consideradas obsoletas voltaram a fazer sentido. Só para citar um exemplo, assistir filmes dentro do carro, o velho cinema drive-tru. Isso me dá uma esperança enorme da volta do conceito de vizinhança. Nesta época de edifícios e condomínios, em que pessoas moram lado a lado há tantos anos e pouco se relacionam, como seria bom como era antigamente ter no vizinho, muitas vezes até mais do que um parente. Um amigo pra tudo e pra todas as horas.

Não aquele que olhava se havíamos comprado um carro novo ou reformamos a casa. Mas os que nos acompanhavam em todos os momentos, cuidavam da nossa casa quando viajávamos. Nunca deixavam de mandar uma mostra da comida que faziam, das frutas e verduras que produziam. Que tinham interesse real, verdadeiro e desinteressado em nosso bem. Que nos queriam pelo que éramos, não pelo que possuíamos. Pacienciosos para nos escutar e corajosos para nos alertar quando estávamos equivocados.

Quando vejo lançamento de um empreendimento imobiliário destacando itens como salão de festas, academia, pista de caminhada, sistema de vigilância, me ponho a pensar que sucesso seria aquele que anunciasse: ambiente ideal para ser e ter vizinhos com quem conviver. Fica a reflexão. 

*Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.

 

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