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05/09/2020 às 08h30min - Atualizada em 05/09/2020 às 08h30min

Vergonha da solteirice?

KELLY BASTOS (DUDI)
Bom dia!

Vamos falar da solteirice feminina? Você é uma das mulheres que são afetadas emocionalmente por ela?

Vamos lá!

Segundo nossa consultora, Eliana Alves Pereira, psicóloga, “seja através de um olhar que expresse pena ou de algum comentário típico de reuniões familiares (como o famigerado "e os namoradinhos?"), muitas mulheres se sentem frequentemente intimidadas e encabuladas simplesmente por não estarem em um relacionamento romântico com um homem. Destas situações rotineiras, surgiu a expressão inglesa single shaming (algo como "vergonha da solteirice", em português), que serve para definir diversos  acontecimentos onde uma mulher se vê julgada pura e simplesmente por estar solteira - como se o status amoroso definisse a felicidade ou o caráter da pessoa. Muito além do que um nome, esse termo também está atrelado a uma série de consequências psicológicas e emocionais que impactam diretamente a vida da população feminina. Portanto, é fundamental entender o que está por trás do single shaming para quebrar certos tabus que ainda permeiam a figura da mulher na sociedade. Os homens são considerados "completos" mesmo quando não estão namorando ou casados e o status de solteiro faz com que sejam vistos como "machões". Já para as mulheres, ser solteira reserva um sentimento de incapacidade, baixa autoestima, incompletude e até isolamento do restante da sociedade”. Esse sentimento mostra que ainda vivemos em um mundo onde homens e mulheres não são tratados com igualdade", explica a psicóloga. 

“Isso porque a sociedade ainda associa a figura feminina à instituição do casamento, da família e do lar. E esses conceitos vêm atrelados, erroneamente, à necessidade de estar com um homem. Por outro lado, “esse estado” não parece afetar os homens e, segundo a Eliana, “isso ocorre por conta dos sistemas de gênero”. Explicando: "Significa que a sociedade atribui valoração diferenciada a homens e mulheres em todas as situações e contextos. Apenas a maternidade é simbolizada positivamente, o que também não significa que ela seja valorizada de fato", aponta.

A dúvida pairando: ser solteira e feliz, não é possível? Ser solteira faz com que algumas mulheres sintam que devem convencer os outros que sua felicidade não está ligada, de nenhuma forma, a uma relação romântica. "Uma solteira feliz soa como uma inverdade, porque há uma ideologia do casamento, da família perfeita, da felicidade conjugal", afirma a profissional. Nesse sentido, ela acrescenta que essa mulher é considerada "desnatural" e em estado de negação sobre o que realmente quer - enquanto consideram os homens capazes de ter uma vida feliz apenas com a carreira, por exemplo.  A questão é que quebrar esse estereótipo que cerca as mulheres não é uma tarefa fácil, principalmente quando ele é reforçado por amigos, familiares e conteúdos midiáticos que consumimos todos os dias. Séries e filmes populares, como O Diário de Bridget Jones e Sex and the City, retratam a mulher solteira se afundando no sofá, com seu pijama e um pote de sorvete, enquanto sofre e se martiriza por não estar em um relacionamento - daí temos um perfeito exemplo do que estamos falando”. Esse retrato é prejudicial às consumidoras e sustenta mitos como o do amor romântico, do relacionamento como único meio para a felicidade e do "cara certo". Assim, todos esses elementos fazem com que mulheres que não se encaixam no "em um relacionamento sério" sintam que há algo de errado com elas. Além de reforçar ideias machistas e prejudicar o modo como as mulheres enxergam a si próprias, o “estar solteira” promove a ideia de que relacionamentos românticos são uma necessidade, uma evidência de felicidade e sucesso”. “Antes de sofrer por estar solteira, a psicóloga orienta para que a mulher se pergunte: "o que estou procurando?". "Se o que você busca é validação, eu te prometo: um parceiro não irá te proporcionar isso a longo prazo. É você quem dá seu valor próprio", diz ela. “Criar um vínculo consigo mesma é fundamental e o amor-próprio é uma peça importante nesse processo. Testar novas habilidades, aprimorar aquelas que já tem, aproveitar as coisas boas que já estão presentes e se conectar com o seu corpo, vida e mente, são algumas maneiras de exercer o autocuidado e a autoestima”. “Portanto, as mulheres devem se posicionar sempre que presenciarem ou forem vítimas de preconceito da solteirice, além de estarem atentas para não praticá-lo, conversando umas com as outras sobre assuntos variados (como carreira, festas, programas de TV, sonhos e objetivos), sem focar apenas em relacionamentos. Como conselho final, a profissional orienta: "nunca comece um relacionamento se você não o quer de verdade. Só há uma pessoa com quem você precisa ter uma boa relação: você!”

 
Bom final e boa semana!

*Esta coluna é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.


 
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