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01/09/2020 às 07h30min - Atualizada em 01/09/2020 às 07h30min

Nuances da Sucessão Municipal

BENITO SALOMÃO | DOUTORANDO EM ECONOMIA

As eleições municipais estão se aproximando. Nas próximas semanas devem ocorrer um número grande convenções partidárias que devem coroar os candidatos aos cargos de prefeito, vice-prefeito e vereadores por todo o país. Em Uberlândia, a eleição será atípica, não apenas pela pandemia do coronavírus que deve limitar os encontros presenciais dos candidatos, mas também pela quantidade de candidatos que vão concorrer ao pleito. Pela primeira vez, o município terá entre 6 e 8 candidatos a prefeito e, talvez, mais de mil candidatos a vereador. Será uma eleição bastante concorrida, disputada e, se espera, que seja propositiva, pois são inúmeros os desafios que a administração 2021/24 irá enfrentar.

Neste contexto, ainda em um cenário pré-eleitoral, foram publicadas duas pesquisas eleitorais que buscam captar as intenções do eleitor para o pleito que se aproxima, uma realizada pelo Instituto Veritá e outra pelo Ibope. O primeiro dado relevante a ser observado na pesquisa Veritá é uma espécie de paradoxo do voto. Na pesquisa estimulada, 46,4% dos entrevistados declararam pretender reconduzir o prefeito Odelmo Leão para mais 4 anos à frente do executivo municipal. Na mesma pesquisa, entretanto, 55,1% declararam desejar mudar a maior parte ou mudar tudo em relação a maneira como a cidade vem sendo administrada.

Chamamos de paradoxo porque o eleitor mediano (o eleitor que dá aquela resposta de maior frequência no questionário, revelando sua preferência e que decide a eleição) declara seu voto no candidato de situação ao mesmo tempo que declara desejar mudanças na condução da administração. Isto parece ilógico à primeira vista, no entanto, a ciência política contemporânea, que estuda o comportamento do eleitor, sabe que este tem preferências e que estas preferências são transitivas e, portanto, podem ser ranqueadas. Trocando em miúdos, no ranking da preferência do eleitor mediano, ele declara priorizar mudanças bruscas (55,1%), mas sua preferência secundária é que esta mudança seja conduzida pelo atual chefe do executivo.

Mas por qual razão o eleitor prefere que as mudanças desejadas sejam reconduzidas pelo candidato de situação? Nesta fase pré-eleitoral, sob as preocupações da pandemia e com um cenário nacional repleto de ruído, a intenção de voto importa pouco. O dado que precisa ser observado agora é o nível conhecimento dos candidatos. A pesquisa Ibope, cuja pontuação do prefeito Odelmo é 47%, (muito semelhante ao Veritá), mostra que ele é conhecido por 95% dos eleitores. Além do prefeito, a pesquisa incluiu outros 9 nomes no questionário que somados têm 29% das intenções de votos, no entanto, a média de conhecimento destes candidatos é de 38%.

Por que este dado é importante? Porque ele nos permite inferir tendências futuras. O prefeito é conhecido por praticamente todos os eleitores do município, logo, ele tem pouco potencial de crescimento, pois a probabilidade dele absorver intenções de votos de adversários que pontuam pouco é menor do que a probabilidade destes adversários absorverem votos seus. Por exemplo, alguns dos seus adversários diretos, como os vereadores Adriano Zago e Thiago Fernandes, que empatam na terceira posição com 6% de intenções de votos, são desconhecidos respectivamente por 51% e 58%. O mesmo pode ser inferido sobre as intenções de votos do ex-reitor da UFU Prof Arquimedes, do PT, que não pontuou nesta pesquisa Ibope, porém é desconhecido de 72% dos eleitores uberlandenses. É sabido que o PT é um partido que possui engajamento orgânico e militância espontânea, é possível que Arquimedes, bem como Zago e Fernandes aumentem as suas pontuações conforme se tornem conhecidos do público. Por este critério, o ex-deputado Felipe Attiê, que é o segundo colocado no Ibope com 10%, tem potencial de crescimento limitado, pois é conhecido por 70% e tem a maior rejeição (26%). A chance do petebista é utilizar a segunda posição para se vender como um eventual voto estratégico ao eleitor de seus adversários diretos.

As eleições estão apenas no começo, estas primeiras pesquisas mostraram um retrato de momento que pode se alterar. Embora o atual prefeito lidere com folga em relação ao segundo melhor pontuado, a presença de muitos candidatos, ainda que pontuem pouco, não permite descartar a hipótese de uma eleição em dois turnos. Como dito, o prefeito começa com 47% das intenções de votos e a oposição somada com 29%, existem indecisos e um processo natural de migração de votos dos candidatos mais conhecidos para os menos conhecidos. Por ora, nos resta torcer para que o excesso de candidato reflita no excesso de boas propostas para desenvolver nossa cidade.

*Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.


 

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