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30/05/2020 às 08h34min - Atualizada em 30/05/2020 às 08h34min

Aprendemos que não estamos sozinhos

KELLY BASTOS (DUDI)
Bom dia!!!
 
Aprendemos que não estamos sozinhos, concordam? Durante esses meses fechados em casa, total ou parcialmente, recorremos sobretudo a meios digitais para poder conversar. Uma aproximação realizada numa linguagem universal. Tem refletido sobre isso?
Segundo a nossa consultora Eliana Alves Pereira, psicóloga, “O ser humano é [naturalmente] social. Estar confinado em poucas divisões é como estar numa espécie de prisão sozinho ou [mesmo que esteja] na companhia de algumas pessoas, a conversa é, obviamente, pobre e não necessariamente amigável no meio de tantas dificuldades práticas”.

“Perde-se a liberdade dos movimentos, de andar e, em certa medida, até de pensar. No entanto, aprendemos algo: o quanto os outros são necessários para a nossa vida, que não estamos sozinhos e que a língua falada é, de longe, mais rica do que o ato de escrever mensagens num computador”.

“A linguagem das palavras, a linguagem falada, é a principal diferença entre os seres humanos e os outros primatas.  A fala humana é uma cadeia de acontecimentos ligados por uma lógica rigorosa e precisa de tempo para ser processada. É necessário juntar-se muitas palavras para que elas se tornem numa mensagem e, portanto, isso dá ao ser humano tempo para pensar antes de tomar uma decisão”, explica a psicóloga.

“Com o advento da revolução digital, a conversa tem sido um pouco negligenciada a favor da mensagem de texto via smartphone, particularmente nas famílias em que não só as crianças estão ocupadas com o seu smartphone, mas também os seus pais, e a conversa em família é o silêncio. Muitos professores das escolas primárias dizem que a sua principal tarefa é ensinar os seus alunos a falar…”

“É bastante difícil prever o que vai acontecer às crianças expostas durante dias em frente à televisão. Como psicóloga, penso que podem ocorrer síndromes psicopatológicas. Quanto aos danos linguísticos, estes dependem do nível sociocultural da família. Em geral, imagino que a língua possa ser menos rica, mas irá tudo depender dos programas escolares”.

A ciência não pode ser refreada ou recusada. A [viragem para o digital] é sem dúvida um avanço no conhecimento e no progresso, mas como qualquer grande mudança ou revolução, como a digital, pode ser acompanhada de efeitos secundários indesejados. O efeito positivo é a eliminação das fronteiras dos países também para as diversas relações. O efeito negativo, na minha opinião, é o desaparecimento da história ao desenhar com o passado uma ranhura divisória na vida de todos e a perda de valores.

Antes da chegada de uma pandemia a linguagem já caminhava para um local obscuro. Voltaremos a dar uso à palavra, ou perderemos anos de evolução cingindo-nos quase exclusivamente ao mundo digital? Depende.  Certamente, a língua está em perigo.  Em relação ao pensamento a resposta é mais difícil.

Estamos cada vez mais sós, ou sempre estivemos sós? Será esse conceito algo ambíguo, uma vez que muitos dizem que a tecnologia e a globalização levam a que se sintam "virtualmente rodeados"?

A globalização gerou solidão nas pessoas, especialmente nos jovens e nos mais velhos, apenas como consequência da revolução digital. Os jovens são conhecidos por passarem muito tempo nos seus computadores ou smartphones para comunicar, sozinhos nos seus quartos, com outras pessoas em todo o mundo que não conhecem, e a quem não podem apertar a mão.

E as pessoas mais velhas? Mais triste ainda é o caso da solidão das pessoas idosas que não conseguem alcançar as novas tecnologias da comunicação e muitas vezes nem sequer compreendem o significado das novas palavras técnicas; são deixadas para trás na vida social.

Será que há alguma esperança, agora, em resgatarmos aquilo a que chama de "o espanto perante o novo, o espanto do encontro"?
Certamente haverá um alívio do confinamento, mas creio que dentro de pouco tempo as pessoas voltarão ao seu comportamento habitual.  As desigualdades aumentarão à medida que a pobreza aumentar e com estas dificuldades surgirá também uma desilusão, não se podendo excluir a possibilidade de alguma rebelião. Este "senhor vírus" tem sido democrático no ataque à população, mas antidemocrático nos efeitos dos seus ataques.

Pense: qual é a maior lição que aprendeu com as suas reflexões e conhecimentos nessa quarentena?
 
 

Esta coluna é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.

 
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