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23/05/2020 às 10h15min - Atualizada em 23/05/2020 às 10h15min

A dor do luto em tempos de coronavírus

TÚLIO MENDHES
Em 30 de janeiro de 2020, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou que o surto da doença causada pelo novo coronavírus (COVID-19) constitui uma Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional – o mais alto nível de alerta da OMS, conforme previsto no Regulamento Sanitário Internacional. Em 11 de março de 2020, a COVID-19 foi caracterizada pela OMS como uma pandemia.

Desde então o número de infectados no mundo supera os 5 milhões de casos de COVID-19, sendo 57.804 novos em 24 horas. E 318.789 mortes, sendo 2.621 novas também em 24 horas.

Entretanto, esses números contabilizam “apenas” os corpos, aferem a quantidade de vítimas, assim chegando nesse exorbitante e triste resultado que a cada minuto tende aumentar. Mas, afirmo que esses números não chegam a 0,1% da quantidade de pessoas que choram seus mortos, lamentam por seus amigos e familiares que estão em estado grave em UTIs; outros morrendo por não conseguir uma vaga nas unidades de terapia intensivas; Famílias que imploram por um respirador pra seus entes queridos que perecem com a COVID-19. O número de mortos pelo novo coronavírus no Brasil é um soco no estômago todos os dias. No momento em que redijo esse texto somam-se 19.148 vidas ceifadas pela COVID-19. Nessa semana, chegamos ao trágico patamar de terceiro país com maior índice de óbitos do mundo. Não dá tempo de sequer processar tanta informação.

Nesse momento de sofrimento, a coluna “Papo Saudável”, perpetuamente alerta tem a obrigação de fugir de sua pauta para falar sobre luto. Afinal, o número de prantos e de corações dilacerados é gigantesco. Assim, por conta do isolamento social, a internet tem sido um instrumento benéfico para lidar com a perda de uma pessoa nesse momento. Pois nossa construção enquanto ser humano se dá sempre nas relações interpessoais, em uma troca mútua e constante. Assim, se volte para as pessoas que você tem afeto e que te fazem bem. Lembre-se de que você é importante para alguém, assim como você se importa com outras pessoas. O encontro, mesmo que por WhatsApp, Skype, Telegram, Instagram etc... é um momento para relembrar quais os sentidos da vida. Guarde as boas lembranças dos mortos, viva encontros com os vivos.

Portanto, vale um encontro online com familiares e amigos. Vale ainda redigir um post exprimindo as memórias e afeições encaminhadas ao ente falecido. Vale acender uma vela e ao mesmo tempo dizer algumas palavras para a pessoa ausente. Vale um minuto de silêncio para expressar amor, perdão e gratidão. Publicar uma homenagem em redes sociais sobre o legado de vida que aquela pessoa deixou, é saudável. E assim, compartilhando-o, oferecerá aos seus contatos a oportunidade de expressar suas condolências e apoio.

O luto não vai parar, a dor da perda não é banida, a pessoa não deixa de sentir, ou de precisar de amparo por que nós estamos num momento de pandemia. Todos nós devemos apoiar as famílias no sentido de reconhecemos sua dor. Infelizmente tem famílias que não tiveram um funeral adequado e respeitoso, devido à possibilidade de contágio com o coronavírus, é inaceitável tratar a pessoa querida apenas como um número nesta soma macabra. Toda morte importa, cada número tem nome, idade, profissão e família. Por isso que não podemos abandonar ou ignorar a dor das famílias. Mesmo que não possamos nos abraçar, devido ao isolamento social, podemos e devemos dar um caloroso abraço distanciado na mesma intensidade do abraço real. Pois o luto não se resume ao sofrimento por alguém perdido, o luto é mais que isso, é a perda de uma perspectiva de vida, uma ideia, sonho e objetivo.

É importante esquecermos que o luto transforma, faz com que a pessoa evolua ou regrida. O mais importante nisso tudo é que após essa situação ninguém será mais o mesmo. Emociono-me quando escrevo, porque é muito difícil reconhecer o quanto as pessoas estão desamparadas diante de uma dor tão grande como o luto.
 
Pra hoje é isso. Até a próxima!



Esta coluna é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.


 
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