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16/05/2020 às 08h25min - Atualizada em 16/05/2020 às 08h25min

Maconha, uma solução para o coronavírus?

TÚLIO MENDHES
Não é segredo que sou adepto das propriedades daquela plantinha arbustiva de origem asiática. Na comunidade científica ela é conhecida como Cannabis Sativa, por ser obtida da extremidade do Cânhamo. Na sociedade comum ela tem vários nomes, por exemplo, “haxixe”, “charas”, “marijuana” ou simplesmente “maconha”.

Muita calma nessa hora! Eu não seria maluco de propagar algo ilícito! Muito menos aqui no Diário, um veículo de comunicação tão importante. Além do que, sou regido pelo Estado Democrático de Direito – o que todos estão submetidos ao império do Direito, ligado ao respeito às normas e aos direitos fundamentais. Enfim... voltando à Cannabis... os primeiros registros sobre o seu uso para fins medicinais é datado por volta de 2700 a.C. e são atribuídos ao imperador chinês ShenNeng, considerado o pai da medicina chinesa, que prescrevia a erva para o tratamento da gota, artropatias, malária e, por incrível que pareça, para o déficit cognitivo. Com o tempo, a popularidade da planta como remédio se espalhou pela Ásia, Oriente Médio e Costa oriental da África.

Saltando da Idade Antiga para a Contemporânea, temos o registro da Cannabis em 1843 pelo médico irlandês William O’Shaughnessy, que a prescrevia para tratamento da cólera, reumatismo, tétano, raiva, dores e convulsões. Foi através do artigo de sua autoria que, indubitavelmente colaborou para a propagação do uso medicinal da Cannabis na Europa do Século 19. Desde então se transmitiu a ideia para as Américas, incluindo o Brasil.

Mas você deve estar se perguntando: qual é a razão de dar toda essa “volta” pra associar propriedades da Cannabis com a grave pandemia do coronavírus? Bem, é que é bom entender que a inserção da Cannabis na medicina tem toda uma história, pesquisas, testes, etc. E falando em pesquisa, Igor Kovalchuck, professor de ciências biológicas da Universidade de Lethbridge; e Darryl Hudson, formado pela Universidade de Guelph, em Ontário, ambos canadenses, tiveram a brilhante ideia: “Eureka! A maconha pode ser eficaz no tratamento da Covid-19! Por que não?”.

Um novo estudo está lançando luz à possibilidade de a maconha ser eficaz no tratamento da Covid-19. Pesquisadores da Universidade de Lethbridge, no Canadá, estão investigando a hipótese de que princípios ativos da planta podem ter o efeito contrário à nicotina, o que pode elevar a proteção das células contra a Covid-19. Igor Kovalchuck concluiu que a espécie Cannabis sativa é capaz de reduzir as chances de o vírus chegar aos pulmões, onde o Sars-Cov-2 encontra um receptor, a enzima conversora da Angiotensina-2. É com essa enzima que o patógeno entra no tecido pulmonar. Os pesquisadores focam na espécie Cannabis devido ao seu alto teor de Canabidiol (CBD), que é um anti-inflamatório. A hipótese é de que os canabinoides modificariam os níveis de ECA2, tornando-nos menos vulneráveis ao vírus e reduzindo o risco de infecção. Contudo, existe um empecilho que, de acordo com os pesquisadores, é muito difícil conseguir patrocinadores para a realização de pesquisas com a maconha, mesmo no Canadá por causa da visão preconceituosa de parte da opinião pública e de políticos.

Os cientistas canadenses asseguram que a maconha medicinal pode ser um aliado de fácil aplicação no tratamento da doença, similar ao uso de antissépticos bucais no uso clínico ou doméstico, sem oferecer riscos à saúde dos pacientes. Entretanto, “a falta de testes clínicos é uma barreira”, afirmou os pesquisadores.

Por outro lado, o neurocirurgião Pedro Pierro, médico prescritor da Cannabis medicinal do Brasil, afirma que “o canabidiol e a maioria dos canabinoides podem ajudar a reforçar o sistema imunológico como um todo, mas não como tratamento para o coronavírus e também não há qualquer tipo de indicação médica nesse momento”.

Então, a fim de evitar a contaminação pelo vírus, continuemos seguindo o mais eficaz: cobrir a boca ao tossir ou espirrar, lavar regularmente as mãos com água e sabão, evitar tocar nos olhos ou no nariz e por ora manter o isolamento social.
 
Até a próxima!



Esta coluna é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.


 
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