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17/03/2020 às 08h12min - Atualizada em 17/03/2020 às 08h12min

Energia e progresso

ANTONIO PEREIRA

No dia 10 de fevereiro de 1.908, a Câmara Municipal de Uberabinha concedeu à firma Carneiro & Irmãos o privilégio de explorar o fornecimento de energia elétrica à cidade por 25 anos. “A luz se fez”, como um presente de Natal, no dia 25 de dezembro do mesmo ano. Eram 500 HPs aumentados para 1.500 em 1.912. Todo esse despropósito de potência para uma insignificante iluminação pública com apenas 365 lâmpadas. A iluminação particular atendia a 800 prédios. Só. A energia produzida era suficiente para 35.000 habitantes. Uberabinha estava longe dos 10.000. Décadas depois, a Companhia Prada de Eletricidade adquiriu as instalações e a concessão dos Carneiro. A nova concessionária suportou, por pouco tempo, o crescimento da cidade. A partir de 1.931, Uberlândia esteve à mercê de constantes faltas de energia. Há um fato pitoresco de 1.934. O interventor Benedito Valadares visitou a cidade e foi recepcionado com um baile no prédio da Câmara. O interventor foi apresentado à Miss Uberlândia e, quando a música começou, saiu a voltear com ela, seguido por outros pares. De repente, a luz se apagou e foi aquele fiasco. Acabou-se a festa. A partir de 1.935, eram constantes os cortes de energia e consequentes faltas d’água. A Prada, esperança de sustentação do progresso da cidade, virou um entrave. Não conseguia, nem queria ampliar a captação de energia. Em vão os cidadãos e suas instituições, os políticos, tentavam contornar a crise. Na década de 1.951, a potência ainda era a mesma do tempo dos Carneiro. Certa noite, fez-se, pelas ruas da cidade, uma procissão de velas, comandada pelo maestro Innocêncio Rocha, pai da pianista Nininha Rocha, em protesto à constante desiluminação da cidade. Houve o caso de uma fábrica de garrafas que oferecia 30 empregos diretos e queria instalar-se na cidade. Não conseguiu por falta de energia embora se comprometesse a funcionar apenas quatro horas por dia. Fez-se de tudo. A Prada colocou ações na praça. Empresários e populares compraram todas. Não aconteceu nada. Em 1.956, um grupo de pessoas ameaçou fundar uma nova empresa para concorrer com a concessionária apoiado por todos os partidos políticos, todas as instituições, inclusive a Prefeitura. Não aconteceu nada. Levantaram-se capitais particulares e verbas públicas. Abriam-se espaços nos Orçamentos. Particulares conseguiram com autoridades a liberação da importação de usinas termoelétricas pela Prada, sugeriu-se a compra de geradores no mercado interno. O dinheiro aparecia, mas a Prada continuava inerte. Comissões de políticos, empresários, maçons, rotarianos, tudo, todos iam ao Governador do Estado, ao Presidente da República. O que se conseguia, morria nas mãos da Prada.

A Prada era empresa que visava lucros, como todas. A aplicação de capitais era jogar dinheiro fora porque os seus lucros eram estabelecidos por Lei, limitados a 12% ao ano, enquanto a inflação superava esse limite principalmente na década de 1.951. Era e explicação. A construção de Brasília é que permitiu mudança nos rumos do fornecimento de energia para Uberlândia. Começou com os estudos para o aproveitamento de Cachoeira Dourada, porém, ocorreram tantas confusões e sabotagens e falhas da administração pública que só muita luta e muita sorte ajudaram o Triângulo a pegar uma beirada na distribuição da energia. Quando da assinatura do Convênio entre o Banco do Desenvolvimento Econômico, as Centrais Elétricas de Goiás e a Novacap para a segunda etapa da construção das usinas de Cachoeira Dourada, o Estado de Minas Gerais não se habilitou, sendo que os grandes batalhadores e interessados nessa construção eram o Triângulo e a Cemig. Minas só entrou no Convênio porque o Presidente da República era mineiro, o Juscelino, e impôs a participação do seu Estado ainda que por inclusão posterior. A luta seguia. A Câmara Municipal, em 1.961, complicou adiantando sessões para votar nova concessão do privilégio para a Prada.

Uberlândia começou a lutar por um sistema de interligação entre os sistemas de captação e fornecimento de energia porque, desse jeito, enfiariam a Prada no meio do complexo de Furnas, Peixoto, Cachoeira Dourada, Rochedo e Paranoá. Para a integração da Prada no complexo ela teria que construir uma estação de rebaixamento. Você construiu? Nem ela. Só por interferência da Cemig se fez a interligação. Mas a Prada continuou desinteressada. Continuou complicando até 16 de outubro de 1.973 quando, finalmente, foi encampada pela Cemig. E aí, Uberlândia desafogou e pôs para fora toda a sua “energia”.
 
Fontes: Revista Aciub, Waltercides Silva, Orvenor Fernandes, Geraldo Migliorini, jornais da época, atas da Aciub, Nininha Rocha.

*O conteúdo desta coluna é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.


















 

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