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06/03/2020 às 08h00min - Atualizada em 06/03/2020 às 08h00min

Marcadores

WILLIAM H STUTZ

Existem, sabemos, vários marcadores de vida ou do passar dela, de nossa existência. Marcadores físicos são facilmente identificáveis, embora depois do botox, do silicone e em dias de avanços da medicina, nem sempre o que vemos por fora reflete a idade cronológica. Porém, inquestionável sinal do tempo passar está dentro de cada um e este não tem como esconder, nem fugir dele. Temos em nosso corpo estruturas denominadas telômeros, do grego "parte final”:

"As extremidades dos cromossomos, como aquelas pontas de plástico dos cadarços do tênis. Eles são partes do DNA muito repetitivas e não codificantes - sua função principal é proteger o material genético que o cromossomo transporta.

Na medida em que nossas células se dividem para se multiplicar e para regenerar os tecidos e órgãos do nosso corpo, a longitude dos telômeros vai se reduzindo e, por isso, com o passar do tempo, eles vão ficando mais curtos.” - BBC News abril 2018.

Ficando mais curtos, estes marcadores biológicos do envelhecimento, vão ditando como uma ampulheta o tempo que nos resta neste plano e agendando nosso encontro com a energia maior, o Divino para quem crê ou para o nada como alguns querem acreditar, com  Ele, não para acerto de contas, mas para em plenitude usufruir da eternidade. Carl Sagan nos dizia que somos poeira das estrelas, “Era o modo lírico dele de explicar nossas origens no Universo.”

Contudo, existem outros marcadores de tempo dos quais raramente nos damos conta. Podem ser músicas cantaroladas em reuniões de bons amigos, que pedem: Toca aquela do Adoniran! Ou, entre suspiros, alguém que de olhos fechados sussurra: Que saudade, me lembra Pierrot apaixonado, Fita amarela e Último desejo ou Palpite infeliz, estas do grande e eterno Noel Rosa.

Particularmente me deixo levar longe quando ouço Beatles, Pink Floyd, Led Zeppelin, Deep Purple, The Who, Elis Regina, Chico Buarque, Milton Nascimento e o pessola do Clube da Esquina ou outros gênios como Duke Ellington e seu mágico piano, de onde saiam o melhor jazz de todos os tempos. Posso ficar meses aqui lembrando marcadores: livros, quadros, peças de teatro, cheiros, viagens, amigos, gostos, paisagens, o perfume do primeiro e infantil amor, Lírio Selvagem. Mas, vou ficar com um especial, lembrado por Irmãos também especiais. 

Quando criança só usava calça Farwest e tênis Bamba. Eventualmente rolava um kichute e, para as ocasiões especiais, o sapato era um Vulcabrás lustroso. Dormia com a musiquinha dos cobertores Paranayba... Tá na hora de dormir, não espere mamãe mandar...

No inverno as casas Pernambucanas cantarolavam: não adianta bater eu não deixo você entrar... Acordava cedinho e logo tomava um banho com sabonete Gessy Lever. Lavava os cabelos com shampoo e os enxaguava com Creme Rinse.

Cabelo penteado com pente Flamengo (que nome horrível) e ajeitado com Gumex. Na adolescência o ritual do banho se encerrava com desodorante de leite de rosas e uma bela passada de perfume Lancaster, antes de colocar a camisa Volta ao mundo, engomada e tratada  com anil.

O escovar de dentes era com Kolynos. No desjejum Toddy, com leite em litro de vidro da Itambé.

Na pasta de escola do Instituto de Educação e de todas as escolas públicas a cartilha Caminho Suave. Havia um estojo escolar Faber Castell, com tampa decorada com tucanos e papagaios. Alguns levavam também a caneta tinteiro Parker 51. No pulso um belo relógio de Georges Beguelin, automático!

Merenda? Pão com goiabada, cobiçada. Os cadernos tinham na contra capa as bandeiras do Brasil e de Minas, além do hino nacional. Presentes para namorada tinham que ser das lojas Slopper, senão era rompimento. Depois do almoço o sofrimento da colher de sopa de Emulsão Scott, o temido óleo de fígado de bacalhau. Aquele vidro com o homem com o peixe nas costas nos dava arrepios.

A roupa era lavada com sabão de quadro e com o já citado anil. O carro da família era uma DKW-Vemag Belcar. Antes dele foi um Simca Chambord. Paqueras. A bicicleta era uma Göricke, as Phillips eram muito caras, Irmão Ézio e depois da conquista, sorvete na sorveteria São Domingos.

Há ainda alguns lembrados pelos Irmãos/amigos Ézio, Daniel, Roni e tantos outros: Conmel, bicicletas Humner e Reileih, Geladeira Admiral Springer, Óleo de Rícino, Gelada Kibon, pílulas de vida do Dr. Ross, Óleo de Lavanda, 1,2, 1,2 Regulador Xavier... Poderíamos ficar horas aqui detalhando estes marcadores que tantas lembranças nos trazem. Contudo, encerro citando início de uma das marcantes músicas do filme Casablanca de autoria do magnífico Louis Armstrong:

“You must remember this/
A kiss is just a kiss, a sigh is just a sigh/ The fundamental things apply/
As time goes by”.

Sim meus amigos, Time goes by. Mas como valeu e ainda vale muita a pena!

*O conteúdo desta coluna é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.












 

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