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28/01/2020 às 12h05min - Atualizada em 28/01/2020 às 12h05min

O museu – de silveira a vadico

ANTÔNIO PEREIRA
“Lá por 1929, o Senador Estadual Camillo Chaves, de Ituiutaba, apresentou um Projeto de Lei audacioso, criando uma Escola Normal em Uberabinha, que foi bem recebido pelo Presidente Antônio Carlos. Uberaba, líder regional, saiu para a guerra. Não aceitava”

Nos princípios do século passado, nossas escolas eram velhas casas adaptadas, impróprias e dirigidas por professores particulares. Já havia um grande mestre, o Antônio Silveira, que tinha sido funcionário da Embaixada Brasileira em Bruxelas. Trabalhou também no Consulado Brasileiro em Nova York e, ao aposentar-se, voltou para o Brasil. Rodou por muitas cidades e veio bater na velha Uberabinha, onde fundou o Ginásio Mineiro.

Na época, havia boas escolas particulares na região como o Diocesano de Uberaba e o Regina Pacis de Araguari. Uberabinha não tinha grande escola. Um grupo de idealistas, liderados pelo Carmo Giffoni, mais o Clarimundo Carneiro, o Tito Teixeira, o Arlindo Teixeira, José Nonato, Custódio Pereira, cel. Carneiro e muitos comerciantes consolidados, fundou uma instituição denominada Sociedade Progresso de Uberabinha, que arrecadou trezentos e vinte e seis contos de réis na praça para construírem um bom prédio escolar. Os primeiros a assinarem a lista de doações com polpudas importâncias foram eles. Contrataram um arquiteto prático, o Ribas, que construiu o prédio. Remanescentes da família Grillo afirmam que a planta foi idealizada por José Grillo. Uma planta elaborada por técnicos de São Paulo ficou exposta em vitrines de casas comerciais antes da construção.

Não sei qual foi a utilizada. Os trabalhos de construção duraram de 1919 a 1921. Terminada a obra, a Sociedade ofereceu-a ao Colégio Diocesano para instalar uma filial. Como o Diocesano não aceitasse, ofereceram-na para o professor Antônio Silveira, que aceitou e transferiu seu Ginásio Mineiro, que ficava na praça dos Bambus, para lá, mas ficou pouco tempo. Desentendeu-se com a diretoria da Sociedade e afastou-se mudando-se para Cravinhos, onde lhe fizeram proposta razoável. Assumiu a direção da escola, o combativo jornalista e escritor Juca Avelino, tio do Cyro da Goyana. Juca foi assassinado em Araguari, logo depois de deixar a direção da escola. Em seu lugar assumiu o Professor José Ignácio.

Lá por 1929, o Senador Estadual Camillo Chaves, de Ituiutaba, apresentou um Projeto de Lei audacioso, criando uma Escola Normal em Uberabinha, que foi bem recebido pelo Presidente Antônio Carlos. Uberaba, líder regional, saiu para a guerra. Não aceitava. Já tinha abrigado uma Escola Normal que o Estado de Minas desativara nos princípios do século XX sem dizer por que estimulando com isso o movimento de emancipação do Triângulo. Se se tivesse que abrir nova Escola Normal no Triângulo, tinha que ser lá. Uberaba ganhou a questão. O Presidente desculpou-se com Camillo Chaves e ofereceu-lhe um colégio do Estado que, de pronto, o senador aceitou. A Sociedade ofereceu o prédio em doação com uma cláusula de reversão se o Estado parasse de manter ou fechasse a Escola. Numa visita que Antônio Carlos fez a Uberabinha, o Promotor Público Mário Porto saudou-o de forma tão entusiasmada que o Presidente se dispôs a atender-lhe qualquer reivindicação. Mário Porto pediu a Reitoria do Colégio. Ganhou no ato. Mário Porto foi o fundador, com o dr. Antônio Vieira Gonçalves, do Liceu de Uberlândia.

Quando Mário Porto se mudou, Milton Porto, seu irmão, assumiu a direção. O Professor Mário Porto tinha umas ideias socializantes, uma visão progressista da sociedade, e logo criou arestas e achou melhor sair da cidade. Era meado dos anos 30. Substituiu-o o dr. Luiz Rocha. Depois de algum tempo, o dr. Luiz deixou o cargo, substituído pelo dr. Aniceto Maccheroni. Depois do dr. Maccheroni foi para a direção o Professor João Gonzaga Siqueira. Siqueira ficou uns três ou quatro anos e mudou-se para Belo Horizonte. Por essa época, o Professor Oswaldo Vieira Gonçalves, Vadico, era Assistente Técnico da Secretaria de Educação, em Belo Horizonte. Aproveitando o surgimento de uma vaga no Colégio, ele veio para Uberlândia.

Era 1938. Em 40, João Siqueira confidenciou ao Professor Vadico que pretendia deixar a direção. Se ele tivesse alguma pretensão podia pleitear. O Professor Vadico, que conhecia o Secretário da Educação, escreveu-lhe pedindo o cargo. Em resposta o Secretário orientou o Professor João Siqueira a passar-lhe o cargo provisoriamente, no seu afastamento, que se deu no dia 1º de junho de 1940. Houve surpresas desagradáveis. Muitos professores antigos acreditavam que, numa eventualidade daquela, seriam os escolhidos. O Professor Vadico assumiu com muita personalidade a direção provisória. Quatro meses depois, saiu sua nomeação definitiva e ele só deixou o “Museu” 26 anos mais tarde, quando se aposentou, com méritos, em fevereiro de 1967.

Fontes: prof. Oswaldo Vieira Gonçalves, Tito Teixeira, documentos da Sociedade Progresso de Uberabinha, Galba Gouveia Porto, jornais da época.



*O conteúdo desta coluna é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.






 
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