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05/01/2020 às 08h00min - Atualizada em 05/01/2020 às 08h00min

Como você reagiria?

ALEXANDRE HENRY

Nina, uma moça de pouco mais de vinte anos, precisava muito trabalhar. Foi quando viu um anúncio de emprego para massagista que não exigia experiência. No dia marcado para o teste, ela e mais várias outras mulheres compareceram ao local designado. Em um dado momento, um homem a selecionou dentre as candidatas e eles foram para uma sala de massagens. Ela começou a massageá-lo e ele teve uma ereção. Ele disse que esperava mais do que uma massagem. Ela cedeu, mesmo não sendo uma profissional do sexo ou coisa parecida.

Você teria cedido? Ou teria ido embora no mesmo momento? Provavelmente, lendo essa história aqui na segurança de onde você está, sua resposta não deixa dúvidas de que você não apenas não ficaria naquele teste de emprego, como denunciaria o sujeito que praticamente impôs uma interação de ordem sexual. Sim, eu sei, é bem assim mesmo: na teoria, a gente consegue prever exatamente como vai reagir em cada situação. A questão é quando as coisas saem no campo imaginário e colocam o pé no mundo real. Essa história aí do parágrafo anterior, da Nina, foi contada em um episódio do programa “Hidden Brain”, episódio esse chamado “No calor do momento: como emoções intensas nos transformam”. Nesse mesmo programa, foi narrado um experimento psicológico bem interessante. Vamos lá...

Testaram cerca de 200 mulheres apresentando a elas um cenário no qual, em uma entrevista de emprego, o entrevistador, homem na casa de trinta anos de idade, fazia várias perguntas até chegar a essas três: a) você tem namorado?; b) as pessoas te acham gostosa?; c) você acha importante que as mulheres usem sutiãs para trabalhar?

Lembre-se que o experimento, nessa parte, apresentava o caso de forma hipotética. “Cerca de 90% das mulheres pensaram que responderiam de uma maneira muito assertiva e às vezes agressiva. Então, cerca de 60% disseram que se confrontariam de forma assertiva, que diriam a ele que isso é inapropriado. Você não deve fazer essas perguntas. Cerca de 30% disseram que iriam sair da entrevista ou isso - costumavam dizer que eu o denunciariam ou que bateriam nele e depois sairiam” – conta o programa. A maioria das mulheres disse que ficaria com muita raiva, mas apenas 2% disseram que sentiriam medo.

Só que esse mesmo experimento teve outra fase em que cerca de cinquenta mulheres passaram por uma entrevista de emprego sem saber que se tratava de uma simulação e, na qual, o mesmo cenário foi montado, com um entrevistador na casa de seus trinta anos fazendo várias perguntas, incluindo as três acima. Nenhuma das mulheres abandonou a entrevista. Muitas responderam às perguntas, inclusive àquela sobre ser vista como desejável sexualmente. Ninguém deu tapa no entrevistador ou chamou a polícia. Poucas sentiram raiva e a boa parte sentiu medo.

Em geral, é realmente isso o que acontece. É muito difícil prever como você vai reagir em uma situação de estresse, quando sua razão tem que trabalhar juntamente com um mar de emoções, dentre as quais podem estar o medo, o pânico, a angústia e por aí vai. A valentona da situação hipotética, aquela que daria um tapa na cara do entrevistador, pode virar a cordeirinha da situação real ou, quem sabe, até mesmo aquela que entra de vez no papel e busca mais interação com quem, fosse aquele um caso teórico, seria repelido agressivamente. O contrário também às vezes acontece. Já vi caso de gente com uma aparência frágil reagir como o mais bravo dos guerreiros em uma situação de perigo real. Parece que, diante de um pico agudo de tensão, o que surge de dentro daquela pessoa não é uma presa prestes a ser devorada e, sim, um furacão poderoso a reagir à ameaça.

Muitas histórias semelhantes foram contadas no episódio de “Hidden Brain” que citei. Aliás, tem outro episódio desse interessantíssimo programa que, por outro viés, foi na mesma linha (chama-se “The Ventilator: Life, Death And The Choices We Make At The End”). Ouvindo tais histórias, uma das conclusões a que se chega é a de que nunca se deve criticar a reação de uma pessoa a uma determinada situação estressante, especialmente se você está se colocando na mesma situação de forma hipotética. “Ah, eu nunca faria isso! Ah, eu nunca reagiria daquela maneira! Ah, que pessoa fraca!”. Não, nunca diga isso, pois você não tem a menor ideia de como você mesmo se comportaria se passasse por um caso idêntico. Como dizia a velha frase, na prática, a teoria pode ser completamente diferente.

*O conteúdo desta coluna é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.










 

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