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18/12/2019 às 13h22min - Atualizada em 18/12/2019 às 13h22min

Um presente de Natal

Por Ana Maria Coelho Carvalho, bióloga
Muitas vezes, ao lembrarmos de nossa infância, a associamos a um brinquedo ou passatempo favorito. Na minha infância, tive larga experiência em construir casinhas e cabaninhas, que geralmente terminavam em tragédia.

Algumas eram bem simples, como a construída debaixo da mangueira frondosa, no enorme quintal de minha casa, na cidadezinha de interior. As amigas de infância e eu varríamos o chão e separávamos os cômodos com as montanhas de folhas. Mas a gente sempre brigava e sentava a vassoura na cabeça da outra. Outras bastante criativas, como a inventada por mim e meu irmão, em cima dos galhos da mangueira: metade dos galhos era a casinha dele, a outra era a minha. As duas, unidas por uma “pinguela” (tábua). Um dia, ele foi tomar cafezinho na casa da comadre (eu) e despencou da tábua. Bateu a cabeça numa pedra e levou uns sete pontos. Meu pai ficou uma fera, mais do que já era.

Partimos então para cabaninhas mais elaboradas, como a que eu e os dois irmãos construímos em cima de outra mangueira, de tábuas pregadas, cobertas por folhas de coqueiro, um primor. Mas eles gostavam de fazer experiências lá dentro. Um dia, usaram fósforos junto com vários ingredientes e a cabaninha incendiou-se. Cascudos do pai bravo na cabeça de todos.   

Tentamos depois algo mais seguro: uma casinha subterrânea. Juntamente com amigos, passamos bom tempo cavando um buracão embaixo da terra, tipo um túnel. Um dia, meu pai, checando as cercas do quintal, passou em cima do teto da casinha. Ela desabou e ele quase foi soterrado. Cascudos na cabeça de novo e castigo. Depois de tantas confusões, conclui que o bom mesmo era a casinha das minhas amigas. O pai delas construiu, de tijolo e cimento, com portinha e fogãozinho de verdade. Eu nunca tive inveja de nada, mas daquela casinha eu tive.

Depois, ao longo da vida, vieram as construções de cabaninhas com os filhos, feitas com lençóis, colchas e papelão. Mas sempre desabavam. A mais duradoura foi uma caixa de papelão que veio envolvendo a geladeira e que se transformou em uma casinha perfeita. Quando ela esborrachou de vez, o filho pequeno olhou e disse: -“Nossa, o lobo mau soprou”.

Por tudo isso, já na terceira idade, há um tempo atrás, resolvi aderir às maravilhas do século XXI e comprei uma casinha prontinha, de presente de Natal para mim. De plástico grosso, com teto e janelas azuis, paredes amarelas e 1,65 m de comprimento. Para curtir com os netos e talvez com os bisnetos, pois as informações técnicas diziam que esta casinha não acabava nunca e resistia ao sol e à chuva. O problema foi a porta cor de rosa e o fogãozinho também. Como todos os seis netos, na época em que a comprei, eram homens, discriminaram a casinha. Mas brincaram muito em cima do teto, com espadas e cordas. Sorte que depois vieram as três netinhas e brincamos muito de boneca e de fazer comidinha.

Dessa forma, o meu sonho de criança se realizou na terceira idade. Nestes tempos em que se almeja a paz mundial, mas que perdura a guerra nos lares, é bom ter uma casinha de brinquedo no quintal. No entanto, por precaução, eu sempre dava uma olhada para ver se a casinha colorida continuava lá, firme e forte. Medo de aparecer algum lobo mau e soprar com força. Hoje, dez anos após, a casinha ainda existe, bem conservada, na varanda da fazenda e cheia de histórias pra contar.

Assim, nesta época de Natal, pensei neste presente tão bom que um dia eu me dei. Mas o maior presente é sempre o Menino Jesus, que se deu para nós, na forma de amor que se fez criança. E que continua, através dos séculos, procurando um lugar para morar. Que nós saibamos transformar nossos corações em uma casinha acolhedora para o Menino Deus e que nela, deitado em sua manjedoura, Ele encontre aconchego, paz, amor, ternura e bondade. Feliz Natal para todos!


*Esta coluna é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.











 
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