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08/12/2019 às 10h00min - Atualizada em 08/12/2019 às 10h00min

A atuação da polícia

ALEXANDRE HENRY
Já escrevi mais de uma vez sobre a atividade policial e sobre como ela é difícil. Fico imaginando a pessoa no trabalho, de madrugada, tendo que enfrentar todo tipo de malandragem. Atender a uma ocorrência às quatro da manhã, sem saber se, ao chegar lá, será recebido com tiros ou não, realmente é algo estressante. Mais do que isso, controlar os nervos e não perder a calma diante de uma situação extrema, tudo isso faz com que a atividade policial tenha que ser respeitada e tida como uma das mais nobres e difíceis da sociedade.

Pelas dificuldades que o trabalho apresenta, acredito na necessidade de uma seleção que tenha um excelente exame psicotécnico. Eu não estou preparado e, provavelmente, nunca estaria, para trabalhar em uma emergência de hospital, pois não sei lidar com corpos mutilados ou qualquer tipo de ferimento grave. Se fizessem um exame psicotécnico em mim para uma seleção de atendentes em unidade de emergência médica, eu teria que ser reprovado e, se fosse aprovado, o psicólogo é que teria que ser reprovado. Além dessa seleção inicial, é preciso um treinamento muito bem feito, ao longo de vários meses, para colocar à prova o candidato ao cargo de policial nos mais diferentes cenários, especialmente aqueles de estresse agudo. Ao longo do estágio probatório, também tem que ser feita uma análise apurada sobre a capacidade do policial de enfrentar situações extremas sem ter um colapso psicológico ou sem ferir a lei.

Tudo isso é importante porque, como eu disse, trata-se de uma atividade muito difícil e que não foi feita para qualquer um. Como são poucas as pessoas capazes de trabalhar com calma e equilíbrio mental em atividades de socorro, são poucas as que conseguem prender um bandido violento sem perder a sensatez e sem descambar para atos incompatíveis com o cargo.

E por que eu estou falando tudo isso? Para comentar o que houve na favela de Paraisópolis. Como admiro a atividade policial, não sou dos que saem xingando a corporação e seus integrantes diante de notícias como a que vimos nos últimos dias. Porém, não sou do outro extremo. Recebi uma postagem com fotos e vídeos de bandidos e a seguinte mensagem: “Conheça os coitados de Paraisópolis – SP, a favela que afronta o Estado”. Dialoguei com quem me mandou a mensagem e escrevi: “Sim, aquilo ali pode ser uma terra sem lei. É verdade. Mas, todo mundo que mora ali é fora da lei? Não, pelo contrário. E quem não é fora da lei mora ali por que quer? Não. Mora porque o aluguel é mais barato e não tem condições de pagar em outro lugar. E essas pessoas que não são foras da lei, mas que moram em um lugar dito fora da lei, vivem como? Vivem sem a proteção estatal, que não consegue fazer seu serviço direito e deixa a comunidade nas mãos da bandidagem. E, quando tenta fazer seu serviço, o Estado quase sempre faz errado e só joga a população de bem ainda mais nas mãos do bandido”.

Tenho para mim que há falha na atuação policial sempre que um inocente morre em uma operação da polícia. Não digo, de antemão, ser uma ação que intencionou matar o inocente, não é isso. Digo apenas que houve erro e ponto final, já que a polícia está ali para proteger o inocente e não para permitir que ele perca a sua vida. “Ah, mas quero ver você enfrentar uma multidão cheia de malandros, uma multidão que xinga e agride policiais! Quero ver se você vai ter sangue frio para lidar com essa gente!” – alguém pode me dizer. Bom, em primeiro lugar, é preciso saber se realmente, ao menos no caso de Paraisópolis, essa situação de fato ocorreu. Em segundo lugar, mesmo que tivesse ocorrido, a resposta oficial não deve ser mais violência e morte de inocentes, pois o que se espera do policial que está ali é equilíbrio, calma e discernimento. Se a autoridade policial perde a compostura e sai dando bordoada em qualquer um ou atirando sem se preocupar com os riscos desse ato, é porque deveria ter sido reprovada lá no exame psicotécnico do concurso, pois isso é uma demonstração de incompatibilidade com a atividade policial.

Em resumo, é preciso reforçar os critérios de seleção dos novos policiais, ampliar os treinamentos iniciais, tornar mais rígida a avaliação durante o estágio probatório, continuar dando treinamentos durante toda a vida profissional do policial e, por fim, retirar do cargo aqueles que não se mostram compatíveis com ele. Quem passar por essa necessária peneira, por outro lado, deve receber todo o respeito da sociedade, toda a admiração, já que, como eu disse, essa é uma das atividades mais difíceis que há.


*Esta coluna é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.





 
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