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13/11/2019 às 07h42min - Atualizada em 13/11/2019 às 07h42min

Educação e limites

MARIÙ CERCHI BORGES | PROFESSORA

Um conceito que tem sido muito debatido nos dias atuais por parte de educadores, pais, professores, psicólogos, pedagogos, leigos e especialistas, diz respeito ao estabelecimento de limites na educação das crianças. De um modo geral, chegou-se a um consenso: a criança precisa conhecer limites para o seu agir.

Emmanuel Kant, filósofo alemão (1724- 1804), já dizia: “É importante deixar a criança exercer a sua liberdade em todos os sentidos desde que ela própria não constitua obstáculo à liberdade do outro”. Reforçando ainda mais essa mesma ideia, ele diz: “Nada deverá impedir que a criança alcance os seus fins almejados desde que esses fins não sejam obstáculos a que outras crianças alcancem os seus”.

Sabemos que a influência de fatores socio-econômicos-culturais decorrente do “corre-corre” da vida moderna foram, em parte, responsáveis pelo descaso quanto ao estabelecimento de princípios tão simples como esses, na educação das crianças. Houve (e, ainda está havendo) quase um “laissez-faire” em educação, trazendo como consequência crianças autoritárias, exigentes, egoístas, voluntariosas. Hoje, as crianças se comportam inadequadamente em qualquer ambiente, não conhecem limites! Precisam ter disciplina e compreender que nem todo lugar em que se encontram é uma extensão da sua casa. Felizmente, pais e educadores estão reconsiderando a importância de se dizer “NÃO” às crianças, e isso já é de bom caminho a seguir.

Vale lembrar, no entanto, que o processo educativo é bem mais amplo do que se imagina e que estabelecer limites faz parte do processo, mas não é o processo enquanto um todo. A ação educativa é inevitável e ocorre quer queiramos ou não, preparados ou não para exerce-la: calados ou falantes, neutros ou atuantes, já estamos educando. Assim como ninguém dá o que não tem, precisamos fazer uma “ausculta interna” referente à nossa inserção no mundo de hoje. Primeiramente, precavendo-nos da confusão que vem ocorrendo entre o que é comum e o que é normal; não é porque certos comportamentos praticados pelos jovens se tornaram comuns, que são normais. A violência registrada, por exemplo, nas relações sociais, tem se tornado comum, mas não é normal. Precisamos fundamentar nossas ações em conceitos próprios, procurando posicionamentos frente às seguintes questões: Que temas sociais são debatidos no dia-a-dia do cotidiano familiar: Políticos? Comunitários? Religiosos? Morais? Televisivos? Vida alheia? Que leituras, programas de TV, jornais, revistas, livros circulam em nossa casa? Que “deuses” são venerados pela família: status, riqueza, ostentação? Honestidade? Responsabilidade? Jogos eletrônicos? Qual o tempo dedicado ao diálogo com os filhos? Que sentido atribuímos à vida?

A ação educativa resulta desses posicionamentos. Censurar apenas os jovens, deslocando para eles a responsabilidade dos desacertos atuais é, no mínimo, cômodo e nos protege do enfrentamento e da coragem de encarar o nosso despreparo como educadores. Colocar limites na educação das crianças é importante, desde que tais limites sejam “encaixados” numa linha de conduta lógica, coerente e fundamentada.

*O conteúdo desta coluna é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.









 

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