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31/10/2019 às 08h06min - Atualizada em 31/10/2019 às 08h06min

Uma ponte para o futuro?

EDUARDO MACEDO DE OLIVEIRA | SERVIDOR FEDERAL

Play. Brasil 2040. Naquela tarde, na ponte sobre o rio Uberabinha antes do Praia Clube, dois jovens desceram de suas bicicletas, exaustos e sedentos, pois as ondas de calor na cidade bateram recordes de temperaturas. Além disso, em razão da severa estiagem na primavera, a vazão do rio se resumia a um filete de água, e o abastecimento da população se devia à captação de água da represa de Capim Branco, mas limitado à distribuição a cada cinco dias. Além disso, blecautes no fornecimento de energia se tornaram mais frequentes comprometendo o sistema de abastecimento.

Naquele cenário devasto e sombrio, um deles assinalou: meu avô me disse certa vez, que acompanhado por um professor de natação na época, tinha percorrido a nado as águas deste rio, por diversas vezes. Inclusive, que as cinzas do professor tinham sido lançadas deste local no passado. Relatava com emoção a oportunidade de convívio com muitos nadadores da época e pelo fascínio que esta geografia e cidade lhe tinham proporcionado durantes anos. E o amigo completou: este rio proporcionou uma qualidade de vida durante dezenas de anos aos habitantes desta cidade, desde a sua fundação. E que se lembrava, também, que vinte e um anos atrás, em 2019, o avô também lhe dissera que o mesmo professor tinha escrito um texto para o jornal Diário de Uberlândia alertando sobre um drama que estaríamos vivendo atualmente.

Pausa. Em 2015, o governo federal divulgou o maior estudo já realizado sobre impactos da mudança climática no Brasil. Trata-se do “Brasil 2040 – Alternativas de Adaptação às Mudanças Climáticas”, encomendado pela Secretaria de Estudos Estratégicos da Presidência da República a diversos grupos de pesquisa do país e divulgado, sem alarde, na página do extinto ministério na internet (Eco,
https://bit.ly/1N5S5GM) O que o estudo revelou foi que, em todos os cenários, o Brasil de 2040 será um país mais quente e mais seco. As temperaturas médias nos meses mais quentes do ano podem subir até 3ºC em relação às médias atuais no Centro-Oeste. A região Sul tende a ficar mais chuvosa, enquanto o Sudeste, o Centro-Oeste e partes do Norte e Nordeste teriam reduções às chuvas, em especial nos meses de verão.

Como se não bastasse: “O resultado é dramático para quem acha que o Sudeste do Brasil já sofreu o suficiente com falta d’água e ameaça de racionamento de energia nos últimos três anos: no melhor cenário, vários rios de Minas Gerais, São Paulo, Goiás, Tocantins, Bahia e Pará terão reduções de vazão de 10% a 30%”. (Idem). Na Amazônia, região eleita pelo governo a nova fronteira da hidroeletricidade no país, as quedas também seriam significativas, como adiantou o portal em abril: a vazão de Belo Monte cairia de 25% a 55%, a de Santo Antônio, de 40% a 65%, e a da usina planejada de São Luís do Tapajós, de 20% a 30%. E complementa: “A análise dos pesquisadores mostra que, em todos os cenários analisados, há uma queda na vazão das principais bacias hidrográficas brasileiras, que empurra o sistema elétrico para uma situação de desequilíbrio estrutural: o sistema não dá conta de atender a demanda, provocando cortes de carga – em português claro, apagões.”

Play. Já anoitecia, e os dois amigos, montam em suas bicicletas, e antes de partirem, um deles afirmou: não tivemos as mesmas oportunidades do meu avô, e que talvez as cinzas e o texto do referido professor já fossem um prenúncio para nossas vidas no presente.

*O conteúdo desta coluna é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.






 

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