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29/10/2019 às 07h47min - Atualizada em 29/10/2019 às 07h47min

Erros mais comuns que levam empresas a entrar em crise

MAX MUSTRANGI | ESPECIALISTA EM RECUPERAÇÃO DE EMPRESAS

Vivenciamos diariamente diversos casos de empresas em crise onde os controladores, responsáveis legais ou executivos deixam o negócio chegar a situações extremas que requerem, como única e última forma de evitar a falência, a solicitação do pedido de Recuperação Judicial (RJ). Ninguém fala para o acionista ou controlador do negócio que ao adentrar no mundo da RJ ele será conhecido e tratado como indesejável. Entendemos claramente que o processo de recuperação judicial não é o melhor encaminhamento para a resolução do problema estrutural que levou a empresa a esse ponto de pré-falência.

A grande maioria das crises empresariais decorre de comportamentos e crenças culturais (corporativas) fora de sincronismo com a batida do competitivo mercado de negócios e da falta de enfrentamento com a devida intensidade, coragem e timing. Muitas vezes a solução do problema não reside fora da empresa, mas sim dentro dela, pela mudança do comando e reorientação do processo decisório das prioridades operacionais e financeiras.

Minha experiência como empresário que atua na modalidade de gestão interina em empresas que estejam em situação de crise nos mostra que na maioria das vezes as razões que levam à crise são sempre as mesmas.

Tudo se inicia com uma sequência de erros estratégicos de leitura de mercado, de análise de competidores, de precificação e políticas comerciais, de priorização de projetos, de alocação de recursos. Tais erros levam à perda de foco operacional do negócio e à consequente perda de eficiência financeira.

Adicionalmente, o foco do executivo costuma ser no agressivo crescimento do faturamento da empresa sem os contrapesos de Rentabilidade, EBITDA e Geração de Fluxo de Caixa. Dessa forma, o executivo é incentivado a vender a qualquer custo e margem, ponto de partida para a instalação da crise financeira, com a consequente queda na rentabilidade.

Mesmo com a crise financeira já iniciada, acionistas, conselhos de administração e executivos de empresas nacionais não reconhecem ou não são incentivados a reconhecer o problema. Não largam o leme e não são retirados do comando.

Para piorar, tem a questão da assimetria do ponto de vista dos interesses de curto e de longo prazo. Os funcionários querem ganhar tempo, pois não têm o incentivo de longo prazo que o acionista tem, e ficam em silêncio em busca de mais alguns meses ou anos de salário, mesmo percebendo a crise de resultados já instalada.

Na tentativa de sair da zona de crise de caixa, o acionista e seus executivos, em geral, aceleram as vendas a qualquer custo, com margens decrescentes, prazos de recebimento alongados, concedem mais limite de crédito (aumentando em muito o risco de inadimplência), entre outros, o que só agrava a situação do caixa.

Nessa altura, a falta de senso de urgência para sair da zona de conforto agrava ainda mais a situação. A estabilidade alcançada pelos sistemas corporativistas não meritocráticos criam uma zona de conforto e de falsa segurança, o que estimula a resistência à mudança.

Eis que surge a incapacidade de honrar com os compromissos do dia a dia: fornecedores, folha salarial, impostos, parcelas de financiamento e por aí vai. O caixa fica insuficiente e as dívidas vão se acumulando.

Com o rápido passar do tempo e o não cumprimento de acordos negociados para quitar a dívida em aberto, o risco de pedidos de falência aumenta exponencialmente e o acionista se vê obrigado a recorrer aos atores da Recuperação Judicial, em busca de abrigo jurídico da falência e para ganhar tempo enquanto blinda o patrimônio.

A partir daí o foco operacional e no negócio fica em segundo plano, pois tudo começa a girar em torno dos escritórios de advocacia, das consultorias e advisors em busca de soluções jurídicas e “de Excel” para resolver o problema. E aí está o erro maior, pois o que os atores da Recuperação Judicial fazem é apenas uma peça jurídica com anexos de Power Point, Excel e Word para sustentar o plano de RJ em busca da aprovação por parte dos credores.

Sendo assim, ninguém está preocupado e focado na reversão e recuperação operacional do negócio, fonte básica da sobrevivência e chance de continuidade da empresa. O buraco de resultado e de caixa continua a aumentar. A aprovação do plano de RJ, com o alongamento e “hair cut” da dívida, por si só, não é métrica de sucesso.

Moral da história: Normalmente, apenas 5% ou menos das empresas conseguem cumprir com os termos acordados no plano da RJ e sair da mesma garantindo a sua chance de continuidade. Resultado? O acionista não larga o leme, vai para o fundo do poço com sua embarcação e tripulação e não consegue evitar o pior. E o prejuízo ocorre em cadeia, como numa fileira de dominós.

*O conteúdo desta coluna é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.





 

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