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23/10/2019 às 08h05min - Atualizada em 23/10/2019 às 08h05min

Jovens invisíveis

EDUARDO MACEDO DE OLIVEIRA | SERVIDOR FEDERAL

Paris, maio de 1968. Nos muros da capital francesa, pintavam-se e espalhavam-se frases, tais como: “a imaginação ao poder”, “só a verdade é revolucionária”, “amai-vos uns sobre os outros”, “não me libertes, eu me encarrego disso”, “o ato institui a consciência”, “é proibido do proibir”, “o Estado somos nós”, “sejam realistas, peçam o impossível”, “a ação não deve ser uma reação, mas uma criação”. Muros rebeldes, sem dúvida, consequência de um movimento sem precedentes de greve e protesto, iniciado por jovens e estudantes, que tomaram proporções revolucionárias naquele ano. Uma resposta contundente, ousada e criativa à sociedade dos anos 60.

No final do mês de agosto (2010), esteve em Porto Alegre (RS) um dos líderes mais expressivos daquele movimento, Daniel Cohn-Bendit, “Dani, o Vermelho”, como era conhecido em 1968. Com 65 anos, deputado no parlamento europeu e líder do Partido Verde alemão, proferiu palestra naquela cidade e encontrou-se com a candidata à presidência Marina Silva.

Em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo (p. E4, 25/08/10) afirmou: “é preciso esquecer maio de 1968”. Discorreu sobre o fracasso das utopias do passado “a revolução francesa, comunismo, fascismo e revolução cubana”, justificando-se a sua ideia, pois todas elas resultaram em barbárie. Ressaltou: “a democracia burguesa é a única alternativa possível, pois ela constitui a base das sociedades abertas”. Durante a entrevista, surgiu uma pergunta crucial: “qual a diferença entre ser jovem hoje e nos anos 60?”, e Cohn-Bendit respondeu “hoje é muito mais difícil. Em 68, todas as utopias – as mais justas, as mais tolas – estavam à nossa disposição. Hoje, elas não querem dizer mais nada, e as crises – econômica e ecológica – são mais profundas, o que torna mais difícil para o jovem encontrar o seu lugar”.

Em breve, estaremos diante das urnas optando por representantes para o poder executivo e legislativo no âmbito municipal. Dentre as propostas dos partidos e candidatos, quais e quantas seriam focadas nos jovens? Parafraseando Cohn-Bendit, qual o lugar dos jovens no século XXI, especialmente em nosso país?

Pesquisas, diagnósticos e fatos se multiplicam, e as notícias não são promissoras. Em Uberlândia, por exemplo, basta acompanhar a mídia eletrônica e impressa, para constatarmos nas suas páginas e programas policiais o alarmante e significativo número de jovens infratores e ocorrências associadas. Na educação, somente 50% dos jovens entre 15 e 17 anos encontram-se no ensino médio.

Obviamente, temos jovens e jovens, dependendo das barreiras e preconceitos sociais, culturais, étnico-raciais, de gênero, classe social, nível de instrução, entre outras.

Neste contexto, as políticas públicas desconhecem territórios tornando-se estéreis e ineficazes para apresentar e garantir oportunidades e horizontes para os nossos jovens, que representam na América Latina (entre 15 a 24 anos), 19,5% da sua população.

Na edição de hoje do jornal Diário de Uberlândia, da qual você esteja lendo neste momento, com certeza algum dos nossos jovens se tornou mais uma pauta, uma notícia, em especial na área de segurança pública, vítima da exclusão social e econômica, da miopia e insensibilidade de nossas autoridades. Infelizmente, os jovens são invisíveis para a sociedade. Para cuidar da juventude não basta organizar uma partida futebol ou show de rock!

*O conteúdo desta coluna é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.





 

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