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13/10/2019 às 08h30min - Atualizada em 13/10/2019 às 08h30min

A tragédia uberlandense

ALEXANDRE HENRY

Em Uberlândia, foi construído um conjunto residencial próximo às instalações da Petrobrás, que ficam no caminho da cidade do Prata. De carro, pelo caminho mais curto, as casas na periferia do bairro ficam a cerca de dezessete quilômetros da Praça Tubal Vilela, considerada o ponto central da cidade. Porém, a pouco mais de dois quilômetros da mesma Praça Tubal Vilela, atrás do Bairro Lagoinha, há uma área grande de cerrado sem qualquer perspectiva de loteamento. A uma distância até menor, na baixada da Avenida Nicomedes Alves dos Santos, entre o Cajubá e o City Uberlândia, existem também bons espaços vagos sem qualquer construção.

Há décadas, penso na questão da ocupação do solo por estas bandas. De férias em Uberlândia, fazendo meus passeios de bicicleta, notei que foi autorizado e está sendo construído um loteamento atrás do Condomínio Esplêndido, após o Anel Viário Sul da Cidade, mesmo com áreas gigantescas à espera de loteamento muito mais próximas do centro. O mesmo ocorre perto do Uberlândia Shopping e em muitos lugares desta nossa cidade de quase 700 mil habitantes.

Agora, responda-me uma só questão: por que autorizar a construção de um bairro a dezessete quilômetros da praça central e deixar que áreas grandes, a menos de três quilômetros, continuem sem ser loteadas? A resposta é muito simples. Desde sempre, há algumas famílias que se enriquecem com isso com a permissão de prefeitos e vereadores. Não há qualquer razão urbanística para a expansão territorial de Uberlândia ser feita da forma como tem sido nas últimas décadas. Aliás, quem conhece o mínimo de ocupação correta do solo urbano sabe que o ideal é justamente o contrário. Como deveria ser feito? A primeira coisa que se deve ter em mente é que uma boa cidade deve evitar grandes deslocamentos de seus habitantes, a fim de reduzir os custos financeiros e humanos com congestionamentos, construção e manutenção de vias, expansão de redes de água, esgoto, energia e telecomunicações, entre outras coisas. Para isso, deve-se verticalizar a cidade, buscando ocupar a menor área possível para a maior população. A fim de dar qualidade de vida, é preciso intercalar blocos de prédios residenciais com praças e parques que permitam lazer e contato com um pouco de natureza. O transporte deve ser, preferencialmente, por meios públicos, os quais, se a cidade não ocupar uma área grande, não terão custo muito elevado. Afinal, construir uma linha de metrô de dois quilômetros é absurdamente mais barato do que construir uma linha com dezessete, não é?

Em Uberlândia, temos exatamente o contrário disso e, o que me deixa mais estarrecido, continuamos no mesmo caminho de abrir loteamentos distantes do centro, deixando espaços vagos em locais muito mais próximos. É inimaginável o custo que isso traz para a população. Quanto a prefeitura não tem que gastar construindo e reformando ruas e avenidas? E as redes de água, esgoto e energia? É a população que, no fim, acaba pagando por tudo isso, de um jeito ou de outro.

Tenta-se, há alguns anos, implantar um sistema de IPTU progressivo que, a meu ver, é absolutamente ineficiente e busca, na verdade, mascarar a continuidade da especulação sem fim com lotes e áreas na cidade. O ideal seria fazer algo agressivo, muito agressivo, revendo os valores venais de terrenos e colocando alíquotas cruéis com os especuladores, mas humanas com as pessoas de baixa renda que se esforçaram para construir suas casas. O ideal seria não permitir qualquer loteamento novo que ficasse em locais mais distantes do que as inúmeras áreas centrais desocupadas. O mais indicado seria fazer uma fiscalização absurdamente rígida, com multas pesadíssimas, para quem tem lotes sem calçamento e sem cerca.

Isso seria o ideal, mas não vai acontecer. Não vai porque geraria uma “grita” gigantesca de quem, hoje e sempre, é beneficiado pela especulação imobiliária na cidade e que, em muitos casos, tem relações de parentesco ou financiamento com parte da classe política local. Se eu fosse um desses grandes incorporadores imobiliários da cidade, que constroem bairros mais distantes para valorizar suas áreas mais centrais, gerando os diversos custos para a população, eu teria vergonha de mim mesmo. Vergonha pelo desprezo com a população e com os cofres públicos. Mas, quem despreza não se envergonha. Especialmente se estiver muito ocupado fazendo novos planos para ganhar ainda mais com as mesmas práticas de sempre.

*O conteúdo desta coluna é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.






 

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