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01/10/2019 às 08h15min - Atualizada em 01/10/2019 às 08h15min

Bem tombado - Praça Clarimundo Carneiro

ANTONIO PEREIRA

Nos primeiros tempos, a Cidade Velha terminava ali. O marco era o cemitério. Esse cemitério foi criado em 1898 quando o que ficava no adro da igreja de Nossa Senhora do Carmo lotou e foi desativado, virando uma área abandonada, cheia de assombrações. Em 1908, iniciam-se entendimentos com a Igreja para a desapropriação da área com o fim de se construir um local de passeio público e a sede da Câmara Municipal. Em 1910, o menino Avenir Gomes começou a chutar uma bola velha que trouxe de Uberaba, num canto sem túmulos do cemitério. Foi aí que nasceu o futebol uberlandense que nos deu o glorioso UEC. Quando a primeira Câmara nomeou os logradouros públicos, a área recebeu o nome de Largo da Liberdade. De fim da Cidade Velha, o Largo da Liberdade passou a início da Cidade Nova. A partir dela é que o engenheiro James Mellor, em 1906, fez a planta do futuro centro, até a linha da Mogiana, que passava pela praça Sérgio Pacheco. Foram criadas, no papel, as avenidas Cesário Alvim, Floriano Peixoto, Afonso Pena, João Pinheiro e Cypriano del Favero, sem nome ainda. E estabeleceu-se uma disputa entre as duas áreas: Cidade Nova e Cidade Velha. A Nova ganhou a parada. Entre as duas, o Largo da Liberdade – nem Cidade Velha, nem Cidade Nova.

A praça foi estruturada por Cypriano del Favero para ajardinar o entorno da sede da Câmara Municipal que ele construiu no miolo da área. A ideia de construir o prédio da Câmara foi do grande prefeito, talvez o melhor que a cidade já teve, João Severiano Rodrigues da Cunha, conhecido por Joanico. Foi inaugurada, com o prédio, no dia 11 de novembro de 1917. Cypriano não participou da festa, faleceu antes. A obra custou oitenta contos pagos em quatro parcelas anuais de vinte. Ressalte-se que não havia prefeitura à época. A administração do município era feita pela Câmara através de um Vereador designado com o título de Agente Executivo.
Em 1929, a praça mudou de nome, de Liberdade para Antônio Carlos, presidente do Estado de Minas Gerais. Nesse ano, Antônio Carlos visitou a cidade, foi quando a chamou de Cidade Jardim pelas belas praças que possuía. No baile que se lhe ofereceu à noite, no salão da Câmara, antes do seu início, um vexame, apagou-se a luz e acabou-se o baile. O presidente ia dançar com a miss Uberlândia.

Nos primeiros planos era para haver dois coretos, depois decidiu-se por um só. Foi inaugurado em 1925, quando era Agente Executivo Eduardo Marquez. Construído por Américo Zardo. O prédio da Câmara, desde que Getúlio Vargas assumiu o Governo e criou a figura do Prefeito Municipal, passou a ser a sede da Prefeitura. A Câmara ficou no andar de cima.

Renato de Freitas em seu primeiro mandato, comprou a sede do Banco do Brasil, na esquina da praça com a rua Bernardo Guimarães e para lá transferiu a Prefeitura. O prédio voltou a ser só da Câmara. Com a construção, pelo prefeito Paulo Ferolla, do conjunto administrativo do município, a Câmara mudou-se para a sua nova sede à avenida João Naves de Ávila.

O edifício da Câmara passou a abrigar o Museu Municipal. Para ampliar sua área, sem mexer no prédio, muito bonito, optou-se por furar um porão e a edificação cresceu pra baixo. Só que, de repente, os peões que furavam o solo encontraram uma ossada humana. Chamaram o engenheiro Ochiuchi que se apavorou com o achado, mandou parar a obra e se dispunha a denunciar o fato à delegacia de Polícia quando um velhinho que acompanhava a conversa, aparteou:

- Não precisa, não, doutor. Aí já foi um cemitério.
- Ah...

*O conteúdo desta coluna é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.

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