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01/09/2019 às 08h30min - Atualizada em 01/09/2019 às 08h30min

A responsabilidade é toda sua

ALEXANDRE HENRY

Tudo aconteceu quando eu fui à casa de uma tia, que tinha um pequeno cachorro de uma raça muito popular nos anos 1980, chamada Pequinês. Eu tinha pouco mais de 6 anos de idade e só me lembro que, ao tentar fazer carinho no cachorro, ele avançou e me mordeu no queixo. Tive que ser levado para o hospital, sofrendo mais ainda com as vacinas que tive que tomar por cinco dias seguidos. Depois daquele episódio, nós tivemos alguns cachorros em casa e eu confesso que gostei deles. Mas, alguma coisa ficou em mim e eu nunca mais confiei em um animal desses. Hoje em dia, eu tenho uma relação de indiferença com os cães, não desgostando e nem gostando deles. A única certeza que eu tenho é que muita gente se engana com os próprios animais e, por ter uma relação afetiva muito intensa com eles, esquece que eles não são humanos e que podem, sim, fazer mal a outras pessoas.

Uma prova disso é o que ocorreu em Uberlândia dias atrás, com a triste morte de uma criança mordida por um cachorro de grande porte. Infelizmente, aquele não foi um acidente isolado e, também infelizmente, provavelmente não vai servir de alerta para a maioria dos donos de cachorros. Com isso, tragédias tendem a se repetir.

O que acontece na maioria dos casos é o tal do viés de confiança. O dono do cachorro se sente tão seguro em relação a ele, consegue ter uma relação tão carinhosa com o animal, que se esquece, ou melhor, deixa de tomar as medidas de segurança quando se trata do contato dele com outras pessoas. Muita gente, por ter tal relação dócil com seu cachorro, acaba passeando com ele sem coleira e, em muitos casos, sem a devida focinheira, que é necessária e importante no caso de cachorros de grande porte. É uma ilusão achar que será possível segurar o animal caso ele se irrite com alguma coisa ou com alguém. Mas, o problema não está só só nos casos em que o dono sai de casa com seu cão. Boa parte dos acidentes acontece dentro de casa, a maioria deles com crianças que não moram ali e que, por descuido ou desleixo do dono do animal, acabam chegando perto do cachorro.Se existe outra criança na casa, o problema é ainda mais frequente, pois as crianças são muito mais ingênuas do que os adultos e acreditam que aquele animal com elas carinhoso também será carinhoso com qualquer outra criança.

É preciso, pois, que todo dono de cachorro tenha a plena consciência de que ele é um animal e que pode ferir outra pessoa, mesmo que tenha vários anos de vida e nunca tenha feito mal a ninguém. Pode ser, por exemplo, que o cachorro está com algum problema de saúde, que está com algum tipo de dor ou mais irritado por um problema qualquer. Nós seres humanos, também somos assim. Quem nunca agrediu outra pessoa, ainda que apenas verbalmente, em um dia em que acordou passando mal ou simplesmente de péssimo humor? Se isso acontece conosco, animais racionais, como esperar que não aconteça a mesma coisa com um cachorro? O cuidado deve existir também com animais de pequeno porte, pois mesmo que um cachorrinho não possa morder a ponto colocar em risco a vida de uma criança, por exemplo, pode machucá-la de uma maneira muito dolorida e deixar sequelas pelo resto da vida. Mesmo que o animal não agrida outra pessoa, ele pode escapar, atravessar a rua e causar um acidente com um carro ou uma moto. Já pensou se um motorista se assusta com aquele cachorrinho no meio da rua, tenta desviar seu carro e acaba atropelando uma criança? Isso pode acontecer e, com frequência, acontece mesmo.

Como bem lembrou J. B. Guimarães, em sua coluna Zap-Zap aqui no Diário de Uberlândia, no final de semana passado, o Código Civil é implacável nessa questão da responsabilidade dos donos dos animais. Consta lá no art. 936 que dono, ou detentor, do animal ressarcirá o dano por este causado. Essa responsabilidade de ressarcimento é bastante ampla, abrangendo danos materiais, como gastos com hospital, danos morais e até o pagamento de pensão, caso o animal mate uma pessoa da qual alguém dependia financeiramente. Em alguns casos, tragédias provocadas por animais podem levar seus donos para o banco dos réus na área criminal também, bastando, para isso, que existam evidências de que a tragédia foi causada por atitude culposa do proprietário.

Enfim, se você quer ter um animal em casa, tenha em mente que você é completamente responsável por ele e por tudo o que ele provocar. Adote a precaução como regra na criação de seu bicho de estimação, seja dentro de casa, seja quando passeia com ele na rua ou em qualquer outro lugar.

*O conteúdo desta coluna é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.

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