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11/08/2019 às 08h30min - Atualizada em 11/08/2019 às 08h30min

Uma nova medida da inteligência

ALEXANDRE HENRY

Já citei aqui algumas vezes Sir Winston Churchill, que foi um dos políticos mais importantes do século passado, além de historiador e vencedor do Prêmio Nobel de Literatura em 1953. Após ouvir a excelente série de palestras intitulada “How Winston Churchill Changed the World”, da editora “The Great Courses”, a habilidade que me chamou mais a atenção no líder britânico foi a de se adaptar às mudanças ao longo de sua vida. Ele foi militar na juventude, foi repórter de guerra, começou uma carreira política sob o reinado da Rainha Vitória, foi o “Primeiro Lord do Almirantado” na 1ª Guerra Mundial, foi ao fundo do poço e voltou para a glória várias vezes, comandou a resistência britânica na 2ª Guerra Mundial e terminou sua carreira política sob o reinado da Rainha Elisabeth II. Quando o presente fazia com que ele parecesse velho, Churchill se reinventava para se mostrar como a cara do futuro.

Pensei em Churchill há poucos dias, quando ouvi a palestra da investidora Natalie Fratto, no TED, sob o título “Três formas de medir sua adaptabilidade – e como melhorá-la”. Há tempos que ouço falar das várias formas de inteligência e de duas expressões bem famosas: Q.I. – Quociente de Inteligência e Q.E. – Quociente Emocional. Na palestra de Natalie, ouvi pela primeira vez a expressão Q.A. – Quociente de Adaptabilidade. Basicamente, segundo a palestrante, trata-se da capacidade que cada pessoa tem de se adaptar mais ou menos às mudanças. Diz ela: “Acho que é cada vez mais importante para todos nós [a capacidade de se adaptar], porque o mundo está se acelerando. Sabemos que a taxa de mudança tecnológica está acelerando, o que está forçando nosso cérebro a reagir, seja passando por mudanças nas condições de trabalho trazidas pela automação, mudando a geopolítica em um mundo mais globalizado, ou simplesmente a dinâmica familiar e relacionamentos pessoais. Cada um de nós, como indivíduos, grupos, corporações e até governos, está sendo forçado a lidar com mais mudanças do que nunca na história da humanidade”.

Chamaram-me a atenção dois pontos da fala de Natalie. Primeiro, a importância de “desaprender” de vez em quando. Na verdade, não se trata de esquecer algo que você já sabe, mas de ignorar a solução conhecida para determinado problema e procurar uma nova. Isso é absolutamente essencial quando a velocidade das mudanças é estonteante, pois se a pessoa se fixar na solução conhecida, pode não perceber que o que mudou foi o próprio problema. Segundo, o fato de que o sucesso que você teve em alguma área pode se tornar seu inimigo ao minar o seu potencial de adaptabilidade. É a velha história do “em time que está ganhando, não se mexe”, um ditado muito bom para períodos em que tudo continua do mesmo jeito que tem sido há muito tempo, mas que tem pouca serventia para uma era em que aquilo que amanheceu novo já chega velho ao anoitecer do mesmo dia.

Depois de ouvir a palestra de Natalie Fratto, procurei um pouco mais sobre o assunto e descobri que o tema já é até um pouco antigo, principalmente no mundo dos negócios. A história da Blockbuster, por exemplo, é sempre citada nas palestras corporativas para demonstrar um caso clássico de deficiência de Q.A. institucional. A Blockbuster era uma das maiores empresas do mundo na área de entretenimento, trabalhando com aluguel de DVD’s, mas morreu quase que de repente, incapaz de enxergar que o planeta caminhava para a distribuição de conteúdo pela internet.

Apesar de ser um assunto mais comum em rodas de executivos, acredito que realmente a capacidade de se adaptar se tornará uma virtude essencial no futuro próximo em todas as áreas. Aliás, acho que já é. Basta ver como tudo está mudando, da educação das crianças à forma como conhecemos novos amores, do jeito que pedimos uma pizza às novas psicoses da era da hiperconectividade. Emprego, escola, relacionamentos, saúde, família, nada disso é mais estável da forma como era antes. Dá para ter o mesmo emprego a vida inteira ainda, dá para ficar casado com a mesma pessoa até a velhice, mas a marca da permanência está cada vez mais rara. Ser capaz de se adaptar se tornou crucial não apenas para resistir às mudanças e tentar ser feliz no novo emprego ou ao lado do novo amor, mas também para aqueles que não desejam tais mudanças. Parece contraditório, mas se adaptar é essencial até para conseguir fazer com que tudo continue do mesmo jeito.

*O conteúdo desta coluna é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.

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