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07/07/2019 às 10h00min - Atualizada em 07/07/2019 às 10h00min

Para ficar "de boas”

ALEXANDRE HENRY
“Só quem entende que esse monte de “Ah, mas...” não representa impedimento algum e, sim, etapas de um planejamento longo e detalhado, que requer paciência, persistência e uma boa dose de “sim, eu quero fazer isso”, é que realmente consegue seguir adiante. Se você pegar alguns exemplos de projetos diferentes de vida, verá que tudo se supera”
 
Fiquei sabendo aqui pelo “Diário de Uberlândia” do início do projeto “De boas na Kombi”, do casal Mayara Pelegrini e Ederson Machado. Como grande apaixonado por viagens e aventuras, passei a segui-los imediatamente no Instagram. Se você ainda não soube do projeto, eles pretendem passar mais de um ano viajando pelo Brasil em uma Kombi adaptada, conhecendo os diversos cantos do país e angariando uma experiência que certamente vai ser um dos grandes marcos da vida de cada um deles.

Li os comentários das primeiras postagens deles e muitos eram de pessoas que diziam ser aquele um sonho da vida delas também. Fiquei pensando então no que diferencia a Mayara e o Ederson dos demais que gostariam de fazer a mesma jornada, mas que nunca sairão dos contornos tradicionais de seus cotidianos. Por que alguns conseguem fazer uma mudança radical em suas vidas e outros não? Acho que o primeiro passo é realmente sonhar com uma experiência assim, mas sonhar de verdade, dia após dia, da manhã ao anoitecer. Essa imersão é necessária para o segundo passo, que é realmente se convencer de que a vida não terá graça sem a realização daquele sonho. Sem isso, nada acontecerá. Depois, claro, é preciso começar a planejar. A maioria das pessoas nem chega a esse ponto, pois encontra tantas barreiras que simplesmente desiste antes mesmo de começar. Ah, mas eu tenho filhos! Ah, mas eu tenho uma carreira a zelar! Ah, mas meus pais precisam de mim! Ah, mas, se eu for, eu não vou conseguir me casar! Ah, mas precisa de muito dinheiro para isso e eu não tenho.

Só quem entende que esse monte de “Ah, mas...” não representa impedimento algum e, sim, etapas de um planejamento longo e detalhado, que requer paciência, persistência e uma boa dose de “sim, eu quero fazer isso”, é que realmente consegue seguir adiante. Se você pegar alguns exemplos de projetos diferentes de vida, verá que tudo se supera. A família Schürmann passou anos e anos velejando pelos quatro cantos do mundo com filhos pequenos. Amyr Klink começou com uma canoa mirando uma travessia do Atlântico a remo. Pensou até a exaustão no melhor projeto de canoa e depois executou seus planos. Anos depois, convenceu uma empresa a patrocinar parte da construção de um veleiro maravilhoso e fez, com ele, boas viagens. Pelo pouco que li da história de Mayara e Ederson, eles planejaram com cuidado cada passo, venderam apartamento, carro etc., prepararam a Kombi por meses e, aí sim, colocaram os pés na estrada.

É preciso entender, porém, que todo sonho que vira realidade tem seus percalços e seus custos. Será que você está disposto a abdicar do conforto de uma vida segura para viajar pelo Brasil por um ano e meio sem saber direito o que acontecerá no mês seguinte? Para velejar por uma década conhecendo praias e povos incríveis, mas passando sustos com tempestades e datas comemorativas longe da família? E para largar uma carreira promissora em um banco de maneira a realizar o sonho de viver fazendo acrobacias de bicicleta, mas sem qualquer certeza do amanhã? Esse último caso é o do meu irmão Clovin, que disse adeus à carreira de gerente bancário para viver de projetos sociais. O padrão de vida caiu, a insegurança financeira se tornou uma constante, mas o coração dele é outro. A alma? Nem se fala! Tornou-se a de uma eterna criança! Ele faz, há alguns anos, o que sempre sonhou e certamente muita gente gostaria de seguir o mesmo caminho, ou seja, de largar um trabalho chato para viver daquilo que realmente gosta. A diferença é que, ao contrário do meu irmão, quase ninguém quer largar o conforto financeiro em troca do conforto espiritual.

Quando você se deparar com uma aventura como a da Mayara e do Ederson e perceber que gostaria muito de fazer aquilo, fique livre para sonhar. Pense, também, nos ônus de algo assim e coloque na balança. Se você achar que os ônus não compensam os bônus, então apenas seja feliz seguindo a aventura deles do conforto de sua casa. Isso é válido também e não há qualquer razão para alguém criticar a sua escolha, pois o que vale é cada um ser feliz. Mas, se você perceber que não vai ser feliz sem aquela aventura, então vá se convencendo do que você terá que deixar para trás, ao mesmo tempo em que organiza com muita paciência e detalhamento o seu projeto. Um dia, você também sairá por aí em uma Kombi, um veleiro ou em cima de uma bicicleta. E o mundo, claro, terá alguém em paz.
 

*Esta coluna é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.
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