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20/06/2019 às 17h09min - Atualizada em 20/06/2019 às 17h09min

Elitização do futebol (II)

TIAGO BESSA
Há algumas semanas, na coluna subsequente ao primeiro jogo da final do Módulo 2 do Mineiro, escrevi sobre os preços praticados no Estádio Parque do Sabiá que, consequentemente, contribuiu para afugentar das arquibancadas os torcedores menos providos de recursos financeiros. Nos dias que se seguiram o uberlandense médio esperneou sobre seus sapatênis afirmando, entre outras coisas, que o "colunista" (aspas por conta de um deles) que vos escreve não conhece a história do Verdão e que eu estava desrespeitando a instituição UEC (risos por minha conta). Vimos, então, que defender o direito do pobre de se divertir causa celeuma e desconforto (tipo quando falta a palmilha ao sapatênis) para a supracitada espécie de cidadão uberlandense. 

O fato é que estamos sediando um evento futebolístico internacional que faz questão de deixar de fora de seus estádios os menos favorecidos. A classe que gera a esmagadora maioria dos jogadores brasileiros e está oficiosamente impedida de torcer pela sua seleção. No primeiro jogo da seleção brasileira, por exemplo, a média de gastos totais para assistir ao jogo no estádio girou em torno de R$478,00, ou seja, cerca de 77% do salário mínimo nacional. Na Copa América de 1989, também disputada no Brasil, essa mesma média girava em torno do equivalente a R$35,00 convertendo para a moeda atual, ou seja, cerca de 7% do salário mínimo praticado na época. 

Ora, caro leitor, estamos ou não estamos diante de uma prática explícita de elitização do futebol? Não se trata de discurso ideológico nem de cunho político, mas de uma constatação que qualquer indivíduo dotado de bom senso consegue perceber. As reformas dos maiores estádios brasileiros já apontava, antes da Copa do Mundo de 2014, para essa segregação. Os ingressos dos principais campeonatos do país sofreram vertiginosos reajustes em seus preços desde então, o que inviabiliza a presença de alguém desprovido de valores para uma diversão cada vez mais cara. 

Os clubes brasileiros reduzem, também vertiginosamente, os preços de seus ingressos somente em tempos de crise, quando estão em perigo de descenso e, aí sim, qualquer torcedor é bem vindo. Eis que a hipocrisia já tomou as arquibancadas de nossos estádios, e com passe livre e área "VIP".


*O conteúdo desta coluna é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.
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