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12/05/2019 às 08h00min - Atualizada em 12/05/2019 às 08h00min

Eu e os radares

ALEXANDRE HENRY | JUIZ FEDERAL E ESCRITOR
Faz vinte e cinco anos que sou habilitado a dirigir. Para ser mais exato, vinte e cinco anos e um dia, já que tirei minha CNH exatamente em 11/05/1994. Ninguém fica contando os quilômetros que já dirigiu na vida, mas acho que já passei com toda segurança da marca de um milhão de quilômetros. Como morei fora mais da metade da minha vida adulta, foram dias e mais dias de estrada sem fim, mesmo não sendo eu um fã de dirigir.

Nesse quarto de século, fui multado algumas vezes. Poucas, menos de dez vezes, mas fui. A primeira foi uma que me revoltou e, se bem me lembro, nem fui eu o culpado. Eu tinha acabado de chegar ao Brasil, vindo de uma viagem extremamente desgastante na Bolívia e no Peru, via terrestre, mas ainda não estava em Uberlândia. Pedi então para que meu irmão pegasse meu carro e fosse me buscar no interior de São Paulo. Na volta, ele estava acima da velocidade permitida e fomos parados pela Polícia Rodoviária Federal. A minha revolta não foi pela multa em si, já que realmente ele estava errado, mas porque o policial estava me pedindo para ligar e abrir um monte de coisas do carro e, quando perguntei se ele queria que eu acendesse as luzes traseiras, ele disse que era para eu “acender para as minhas negas”. Eu estava tentando ajudar, na maior educação e sem fazer qualquer ironia, e ele me vem com uma dessas? Na época, eu trabalhava na Receita Federal e não o ameacei de nada, pois isso não é do meu feitio, mas disse a ele que eu também era servidor público federal e que, se ele fosse à Receita Federal, eu nunca iria atendê-lo daquela forma mal educada. Ele se calou, acabou de lavrar a multa, eu paguei depois no banco e ficou por isso mesmo.

Depois dessa, minha única revolta foi com uma multa que tomei em Alagoas, pois não me lembro de ter visto placas falando da redução de velocidade antes do radar, que multava veículos acima de 40 km/h em uma rodovia. Como já tinha me mudado do Nordeste quando a locadora do carro me comunicou da multa, acabei pagando sem ter como verificar se realmente o local estava sinalizado como manda a legislação.

De resto, todas as multas que tomei foram merecidas. Aliás, essas duas aí também foram, pois eu estava errado. Sempre considerei que, se há uma placa dizendo que a velocidade máxima em determinada via é de 60 km/h, eu tenho que andar nesse limite, não importa se há radar ou não. É questão de segurança minha, dos pedestres, dos ciclistas, dos demais veículos etc. “Ah, mas aquele lugar não precisa de uma limitação dessas! Andar só a 60 km/h naquele lugar?” – alguém pode dizer. Bom, mas aí já é outro problema. Se eu não concordo com uma norma, o caminho que eu tenho é buscar as vias legais para alterá-la e, não, simplesmente não cumprir. Caso contrário, vira terra de ninguém, você não concorda? Cada um por si e Deus por todos – ou contra todos, de acordo com a sua fé. Se você acha absurdo não poder fumar em um bar, então a solução é fumar assim mesmo, porque você não concorda com a proibição? Isso só para ficar em um exemplo leve...

Eu sou minoria nesse assunto e, provavelmente, você que está lendo não concorda comigo. Mas, não mudo o meu pensamento. Para mim, faltam radares. Nosso trânsito é extremamente violento e, quanto mais fiscalização houver, melhor para todo mundo. Também acho que não tem que avisar quando vai ter radar, seja fixo ou móvel. Tem que avisar, sim, dos limites de velocidade, como manda a legislação. Nesse sentido, é obrigatório informar ao condutor sobre a redução da velocidade na via com uma antecedência razoável, antes de se instalar um radar, já que não dá para se ter uma via com limite de 100 km/h e, junto à primeira placa de redução para 40 km/h, um radar. Isso, sim, é radar surpresa. Mas, tal prática já é proibida pela legislação.

Fora o caso acima, não existe radar surpresa: o que existe é motorista desatento. Sim, motorista desatento, que não presta atenção nas placas de velocidade, que dirige com a cabeça no mundo da lua. Se prestasse atenção nas placas de velocidade, andaria dentro dos limites e nunca seria multado, mesmo sem qualquer aviso de radar. E, se fosse, como aconteceu comigo três ou quatro vezes, seria uma multa correta pela falta de atenção. Quem defende o armamento da população não gosta de repetir que o carro é uma arma? Então, qualquer deslize de atenção em relação a ele deve ser punido.

Como eu disse, estou certo de que a chance de você discordar de mim é grande. Mas, não vejo como pensar de outra forma, especialmente diante de um país com tantas mortes nas ruas e estradas.


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