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23/04/2019 às 08h34min - Atualizada em 23/04/2019 às 08h34min

O primeiro carnaval de Uberlândia

ANTÔNIO PEREIRA
Nos princípios, havia o Entrudo, uma brincadeira porca, de molhar e sujar as pessoas, que os portugueses nos trouxeram nos primeiros momentos da colonização. Acontecia na comemoração católica do Carnaval. O Carnaval verdadeiro, com músicas e fantasias, danças e alegria, começou no Rio de Janeiro nos meados do século XIX. Até o último ano desse século, não havia uma música específica carnavalesca. Usava-se o que pudesse ser cantado, tocado e dançado na rua ou nos salões.

Procurei descobrir a época em que o Carnaval chegou a Uberabinha e localizei esse encontro em 1907, na primeira página do jornal “O Progresso”, do dia 28 de fevereiro. Notinha pequena, despretensiosa, dizia que o Carnaval em Uberabinha não fora totalmente despercebido e que “à última hora, um grupo de pândegos chefiados pelo capitão Henrique de Castro percorreu as ruas da cidade em animado ‘Zé Pereira’”. O Carnaval ia passando sem que alguém lhe desse atenção. À última hora, na terça-feira gorda, Uberabinha deu sinal de que estava aí. O introdutor desses festejos na cidade foi o capitão Henrique de Castro – o que pode ser tema para Escolas de Samba. A nota diz que estavam todos mascarados e que faziam “críticas de acontecimentos locais” provocando risos. Será que cantaram? É possível, mas não músicas apropriadas, porque o próprio Rio de Janeiro ainda não fixara a sua canção carnavalesca, apesar de já existir a marchinha “Abre Alas” da Chiquinha Gonzaga. Não existia o rádio, principal divulgador de música e a produção de fonógrafos e fonogramas estava engatinhando no país. Os primeiros anúncios desses produtos apareceram aqui lá por 1911, assim mesmo feitos por Casas estabelecidas em Uberaba.

O entusiasmo da amostra despertou o interesse do público em geral, e do comércio, em especial, que pareceu disposto a estimular os próximos eventos. Não sei se nos anos seguintes houve novas festas. Em 1911 é seguro que sim porque de novo “O Progresso” contou o que aconteceu. Parece que foi festança boa. Durou três dias. Houve “assaltos de confetes” – que devem ter sido os precursores das “batalhas de confetes”. Houve também “ataques” previamente combinados a residências de pessoas de “boa sociedade”. O que entusiasmou os uberabinhenses, entretanto, foi o baile que encerrou o Reinado de Momo que um grupo de rapazes ofereceu “às distintas famílias uberabinhenses”. Foi na casa de Francisco Custódio. A sala “achava-se repleta e por demais pequena para acolher as gentis senhoritas que pressurosas acudiram ao nosso apelo.” Dançou-se das 21h às 3h da madrugada. O que? Sambas e marchas? Não. Valsas, polcas, mazurcas, isso sim. O articulista, que foi um dos organizadores do baile, é detalhista: diz que havia vinte pares que ostentavam ora aqui, ora ali, os vultos sempre risonhos... Ao final do artigo, assinou apenas com um “V”.

O Carnaval da velha Uberabinha foi assim, um ano com notícias, dois e três sem, fazendo supor que, nesses intervalos nada aconteceu. Em 1914, ocorreu de novo, com um monumental “Cordão do Inocente”. Os animadores foram o Zacharias Alves de Mello (da Livraria Kosmos), o Arlando Carneiro, o professor Bandeira e o sempre carnavalesco Henrique de Castro. Nos fins da década, fundou-se um Clube Carnavalesco que ajudou a pôr fogo na festança. A partir de 1920, o Carnaval tomou conta da cidade, realizando uma bela festa de rua que acontecia na avenida Afonso Pena, recentemente calçada pelo Joanico (o prefeito João Severiano Rodrigues da Cunha), onde se praticava um footing animado com danças, muitos blocos fantasiados, cantorias, instrumentos, corso, confetes, serpentinas, lanças. Uma festa inesquecível.

(No meu livro HISTÓRIA DO CARNAVAL DE UBERLÂNDIA – 100 ANOS DE FOLIA, encontra-se toda a memória dessa festa. Nas livrarias.)
(Fontes: jornais da época)


*O conteúdo desta coluna é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.
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