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18/02/2019 às 11h42min - Atualizada em 18/02/2019 às 11h42min

A importância do jornalismo

ALEXANDRE HENRY | JUIZ FEDERAL E ESCRITOR
Já falei em outras oportunidades que as empresas de jornalismo impresso estão enfrentando uma crise gigantesca. A razão é bem simples: as verbas publicitárias migraram em massa para as redes sociais, com destaque para o Google e o Facebook. Essas redes sociais praticamente não produzem conteúdo, utilizando-se do que é produzido por usuários ou por terceiros, mas ficam com o dinheiro da publicidade, o qual sustenta a “gratuidade” de seus serviços. Jornais e revistas sentem os custos da impressão em papel, custos esses que os leitores não querem assumir mais, já que podem visualizar as notícias de graça na internet. Quando um jornal ou revista tenta mudar da plataforma impressa para a internet, porém, encontra duas barreiras: a) os anunciantes continuam preferindo colocar a maior parte da verba nas redes sociais; b) os leitores continuam não querendo pagar pelo conteúdo, sentindo-se satisfeitos com as reproduções de notícias (muitas vezes com infração aos direitos autorais) feitas por blogs ou nas próprias redes sociais. A consequência é óbvia: sem dinheiro, o jornalismo tradicional vai morrendo aos poucos.

Se fosse só isso, já seria um problema gigantesco. Mas, tem mais: na era da polarização generalizada, a expressão “fake news” passou a ser utilizada de forma distorcida por gente formadora de opinião para dois fins escusos. O primeiro deles é imputar a qualquer notícia da imprensa tradicional que desagrade a pessoa, especialmente quem é uma figura política de relevo, a pecha de notícia falsa. Não é necessário apontar razões pelas quais a notícia seria falsa, bastando colar nela a referida expressão. O segundo é, colando no inconsciente coletivo que a imprensa tradicional publica só “fake news”, abrir espaço para publicações, que são as verdadeiras produtoras de “fake news”, ganharem um ar de donas da verdade. Sabe aquela coisa de Davi vs. Golias? É bem por aí. O blog produzido no quartinho escuro por um sujeito obscuro ganha ares de um Davi heroico, enquanto a imprensa tradicional vira o maligno Golias.

Basicamente, esse é o cenário atual, que se mostra uma tempestade quase perfeita a abalar o jornalismo tradicional, que ainda não encontrou uma solução para sobreviver até que volte a calmaria. Grandes jornais, como a Folha de S. Paulo e o The New York Times, começam a travar uma batalha contra o duopólio “Google + Facebook”, enquanto buscam formas de conseguir recursos de assinaturas eletrônicas pagas. Se vão conseguir sobreviver, não sei. Mas, do fundo do coração, espero que sim.

Por que eu torço pela imprensa tradicional? Porque ela é um componente essencial da democracia e não pode ser substituída por blogs obscuros, sem preparação técnica, sem compromisso com a verdade e, quase sempre, vinculados a interesses inconfessáveis. “Ah, mas a imprensa tradicional também é vinculada a interesses!” – você pensa. Claro que sim. Todos nós temos nossos interesses. A questão é que um jornalista tradicional tem um nome a zelar e a melhor forma de fazer isso é cuidar para não publicar inverdades. Há pautas direcionadas de jornais? Há. Tem revista mais vinculada a uma determinada corrente política? Tem. Porém, tudo isso ocorre, quando ocorre, com um grau de comprometimento muito menor do que possui o Zé, do blog X ou Y, que não tem uma carreira jornalística para zelar ou que só quer uma fonte de renda cada vez mais gorda.

Mais do que isso, é da imprensa tradicional que vêm os maiores furos e as melhores reportagens investigativas. São grandes jornais que não dão descanso para o presidente, seja o do Brasil, dos EUA ou da França, correndo atrás de notícias que podem interessar à população e que são essenciais para a manutenção da democracia. O Zé do Blog X não tem dinheiro para voar até o outro lado do país e checar uma informação bombástica. O jornal tradicional de grande porte consegue fazer isso. O Zé do Blog X consegue elaborar teorias da conspiração com esmero, mas só teorias da conspiração, porque ele não tem estrutura, recursos ou, na maioria dos casos, interesse em apurar a verdade, especialmente se a verdade machucar o seu patrocinador fantasma.

Eu torço pela imprensa tradicional. Mais do que torcer, eu contribuo financeiramente para ela por meio de uma assinatura eletrônica que me dá acesso às notícias de um jornal nacional. Sem o jornalismo de raiz, só com os “fake blogs”, a democracia corre sérios riscos, acredite em mim. Que a imprensa se reinvente e possa continuar contribuindo para um mundo melhor.
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