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06/02/2019 às 08h39min - Atualizada em 06/02/2019 às 08h39min

Na paz de Cristo

ANA MARIA COELHO CARVALHO
Encontro muita paz e conforto ao participar da celebração da santa missa. É bom ficar na casa de Deus, se sentir abraçada por Ele e receber o pão da vida. Cantar o Pai Nosso, de mãos dadas com a igreja toda. Mãos macias, mãos calejadas, mãos enrugadas, mãos pequeninas, mãos rudes. Todas entrelaçadas pedindo a paz de Cristo, a paz que vem do amor. E ao final de tudo, a benção de Deus e a certeza de que Ele nos ama mesmo quando menos merecemos, porque Ele sabe que é quando mais precisamos. É aí que Ele nos carrega no colo.

Tentando educar os filhos na fé, sempre os levei a igreja. Passei maus momentos, mesmo na paz de Cristo. Certa vez, no momento do ofertório, uma senhora recolhia os donativos com uma cestinha. Um dos meus meninos, então com três anos, enfiou as duas mãozinhas no cesto e agarrou o máximo de notas que conseguiu. Entendeu que a senhora estava dando o dinheiro para ele. Foi árduo fazê-lo devolver. Em outra ocasião, o mais velho, então com cinco anos, saiu do banco de fininho e entrou na fila da comunhão. Voltou indignado, reclamando que o padre não quis dar o pãozinho para ele. Outro, na Semana Santa, quando a procissão chegou à igreja, se assustou com a imagem de Cristo sendo carregada no andor. Era uma imagem grande, com cabelos compridos, coroa de espinhos. Ele arregalou os olhos e perguntou, bem alto, para toda a igreja ouvir: “mas o que este índio está fazendo aqui?” Fingi que não o conhecia. Já o quarto filho sempre levava uma violinha para tocar perto do coral, pensava que sabia tocar. Uma menininha ficou encantada com ele e ficou encarando-o. Ele não pensou duas vezes: sentou a violinha na cabeça dela. Choro, vexame, desculpas.

Também já vivenciei vários momentos diferentes, dentro da igreja, quando visito minha filha nos Estados Unidos. No momento do abraço da paz, no Brasil a gente abraça mesmo e deseja a paz de Cristo para o maior número de pessoas possíveis. Parece que existe uma competição para ver quem abraça mais. Isto sem contar as pessoas que dançam e batem palmas ao som da música. Lá nos States, não. É apenas um cumprimento formal, para as duas pessoas do lado. Mas aprendi isto só depois de ter cumprimentado vários americanos, como se fossem velhos conhecidos. Também no momento da comunhão é diferente, tudo organizadinho. A sequência obedecida é do primeiro ao último banco, de acordo com o assento das pessoas no banco. Como eu não sabia disto, é claro que furei toda a fila (o genro americano ficou impressionado). E no momento da comunhão, outra descoberta: todas as pessoas que comungavam bebiam um golinho de vinho numa mesma taça. A igreja inteira, na mesma taça dourada. Uma mulher ficava limpando as bordas com um paninho branco. Quando vi, queria retroceder na fila, mas não tive saída. Bebi meu golinho também. Outra diferença é no momento de dar as mãos. Lá nos States ninguém fica no meio do corredor, unindo as pessoas de dois bancos. Ninguém a não ser eu, claro (também descobri isto depois).

Mas interessante mesmo é o que aconteceu com minha filha na igreja. Ela tem o costume de beijar a mão quando termina de fazer o sinal da cruz. Lá não beijam. Conheceu o marido por causa disto. Ele a viu fazendo este gesto, teve certeza de que deveria ser latina, gostou da morena bonita de cabelos compridos e anelados e foi conversar com ela. Hoje estão casados e com dois filhos. Deus os uniu com o sinal da cruz.
 


*O conteúdo desta coluna é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.
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