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29/01/2019 às 08h57min - Atualizada em 29/01/2019 às 08h57min

Amarrando os fatos

ANTÔNIO PEREIRA

Nas eleições de 1911, os “coió” tinham recebido mais votos que os “cocão”, faltando só chegar os resultados de Santa Maria (Miraporanga). Favas contadas, contrataram banda, alugaram o Teatro São Pedro, compraram foguetes e se prepararam para a festa da vitória. O teatro já estava cheio de gente quando chegaram os resultados de Santa Maria. Só tinha voto para os “cocão”. A festa miou. Os “cocão” é que soltaram foguetes, fizeram discursos e ouviram banda.

 Entrevistei o Dr. João Pinheiro Braga, amigo e dentista do Comendador Alexandrino Garcia de quem eu preparava uma biografia. A certa altura, o dr. Braga, cujo consultório ficava na avenida João Pinheiro, esquina com a rua Duque de Caxias, me disse que era de Santa Maria e que lá, até os defuntos votavam. Quem votava pelos defuntos eram os meninos do Grupo Escolar, do quarto ano. Ele mesmo tinha votado. Contou também que, às vezes, chegava um capiau lá dos fundões do pontal e dizia para o mesário que o compadre fulano de tal estava perrengue, mas não queria deixar de votar e tinha lhe pedido que votasse por ele. O capiau (um malandro) estava até com o título do compadre na mão. O mesário que era mancomunado com os fraudadores, deixava ele votar. O compadre já tinha morrido, ó... há tempos. Por isso se dizia que as eleições em Uberabinha se decidiu em Santa Maria.

Muito depois dessa entrevista, conversei com o sr. Athayde Ribeiro da Silva, nascido em Santa Maria, que morava no Rio de Janeiro e tinha tido uma história curiosa. Quando ele terminou o ginásio (eram cinco anos), no seu tempo os meninos podiam fazer qualquer vestibular. Ele foi pro Rio. Menino pobre. Frequentava a Faculdade de Direito por seis meses e por seis ficava em Uberlândia lecionando na Academia de Comércio, anexa ao Liceu de Uberlândia, do prof. Milton Porto. Por essa época, ele fazia parte do Teatro do Estudante Brasileiro, criado pelo diplomata Paschoal Carlos Magno. Dessa Companhia foi para o Programa Casé, na Rádio Philips, onde se apresentava como personagem das primeiras novelas levadas pelo rádio e que foram as precursoras das novelas de televisão. Contou ele que os “cocão” mandavam em Santa Maria. Era reduto dos Rodrigues da Cunha. As eleições, em Uberabinha eram decididas lá, na fraude. Votavam meninos e defuntos. Athayde tinha um irmão mais velho chamado Alceu. Por ocasião das eleições, ele vinha do Grupo sozinho, o Alceu ficava. O Alceu estava no quarto ano primário. Perguntado pelo pai, o Athayde dizia que o “Alceu tinha ficado fazendo eleição”. Era votando em nome de defunto. O Atahyde deu uma risada e completou: “Outro que votava lá, conhecido, era o dr. João Pinheiro Braga, que agora é dentista aqui em Uberlândia.”

O Athayde me afirmou com segurança que coió e cocão não tinham plural. O povo dizia os “coió” e os “cocão”. Estou respeitando esse costume, nesta crônica e nas futuras.

 Fontes: jornal O Progresso, João Pinheiro Braga e Athayde Ribeiro da Silva

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