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15/01/2019 às 08h38min - Atualizada em 15/01/2019 às 08h38min

Presença branca no Triângulo

ANTÔNIO PEREIRA
Segundo o escritor e político triangulino, Camillo Chaves, o primeiro branco a se estabelecer na região, foi uma mulher: a portuguesinha Ana que fugiu de Franca com o índio caiapó Manuel do Nascimento Chaves. Missionários franciscanos subiam de Franca para o Sertão da Farinha Podre com o objetivo de catequizar o gentio. Daí, levaram o filho do cacique Romari, sob a promessa de devolvê-lo um dia. O objetivo era educá-lo e repô-lo na tribo para ser um facilitador da obra missionária. Foi batizado, aprendeu a ler e a escrever e, quando jovem, apaixonou-se pela filha da portuguesa Júlia Chaves que fazia cerveja para os padres. Impedidos de se casarem, fugiram para o pontal do Triângulo. Os padres entenderam que o Céu os ajudava. Procuraram o casal, confirmaram o casamento e lhes conseguiram sesmaria. Foi assim que surgiu a Fazenda do Bugre, às margens do rio da Prata. Com a morte de Romari, Manuel assumiu o cacicado, mas permaneceu na fazenda que virou um chamarisco para novos posseiros, entre eles o sargento-mor José Eustáquio.

O Triângulo foi passagem de bandeirantes à cata de ouro e de índios para escravizá-los. É possível que o primeiro homem branco a passar por aqui tenha sido o capitão Sebastião Marinho, em 1590, que saiu de São Paulo e chegou às nascentes do rio Tocantins, supondo-se que tivesse atravessado o Triângulo. Em 1596, o capitão-mor João Pereira de Souza Botafogo também saiu de São Paulo, atravessou o Triângulo com bandeira composta de mais de 100 homens. Várias bandeiras vazaram o sertão do Triângulo a partir dos 600. Sua História começa a formar-se com os Bueno pai e filho. O pai, o Anhanguera Bartolomeu Bueno da Silva, em 1682 esteve na terra goiá onde contou ter visto riquezas fabulosas. Levou consigo nessa viagem um filho de 12 anos de idade que tinha o mesmo nome do pai. Em 1722, o Anhanguera filho refez o caminho, a pedido do governador paulista, Dom Rodrigo César de Menezes, com o intuito não só de fazer novos descobertos, mas também de abrir uma estrada de São Paulo a Goiás. Seu trajeto dentro do Estado de São Paulo foi bem definido pelos historiadores, o mesmo não se dando após a travessia do Rio Grande. É certo que sua passagem se deu nas proximidades de onde seria Uberaba, pelos altos do Rio Uberabinha e atravessou o Rio das Velhas no porto do Registro (Indianópolis). Daí seguiu até Porto Velho, no Paranaíba. Bueno Filho desvendou os caminhos para os sertões do centro-oeste e, por isso, recebeu várias mercês, inclusive o direito de cobrar pedágio na passagem de alguns rios.

Ao longo dessas estradas, muitos se assentaram com o objetivo de negociar com aos passantes. A “Nobiliarquia Paulistana” relata a passagem de centenas e centenas de pessoas que subiram para Vila Boa, Goiás, à busca de riquezas. Bueno filho fundou Vila Boa e outros povoados. Encontrou várias minas. A descoberta do ouro propiciou a abertura de outra estrada, vinda de Minas Gerais, passando por Ibiá, Patrocínio e Paracatu. A picada de Goiás. Não demorou para que a nossa região oferecesse sua contribuição à febre do ouro que arrastava multidões para os sertões sem temer intempéries, quilombolas e indígenas. Descobriu-se ouro no Desemboque. Esse ouro foi o responsável pela grande confusão de limites entre as capitanias de Goiás e de Minas Gerais resultando na determinação de Dom João de que todo o Triângulo se passasse para Minas. O Desemboque foi descoberto em 1759 por bandeiras saídas de Pitangui (uma) e Itapecerica (duas). Ele foi o primeiro núcleo habitacional branco da região e dele saíram praticamente todos os fundadores das demais cidades regionais. Hildebrando Pontes nos conta que o primeiro núcleo habitacional ocorreu na Aldeia de Sant’Anna do Rio das Velhas (Indianópolis), em 1750, mas aí, o ajuntamento foi de indígenas. O segundo núcleo habitacional branco na região foi em Araxá, a partir de 1780. Habitantes do Desemboque interessaram-se pela área do Barreiro aonde começam a chegar a partir de 1770. Outro ajuntamento de homens brancos importante foi Uberaba, resultado da transferência de alguns moradores do Desemboque para aquele futuro município e a doação em 1812 de patrimônio para Santo Antônio e São Sebastião. Como ocorreu nas demais cidades, os povoados se desenvolveram em torno de capelas. A partir dessa época começam a se fixar núcleos de brancos no Triângulo: Ituiutaba (1839), Prata (1811), Araguari (1815), São Francisco Salles (1835), Patrocínio (1807), Estrela do Sul (1818) e Nova Ponte (1856).
 
              
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