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24/12/2018 às 15h28min - Atualizada em 24/12/2018 às 15h28min

Um abraço de Natal

ANA MARIA COELHO CARVALHO | BIÓLOGA
Assisti a dois abraços que me emocionaram. Um deles foi de um chimpanzé abraçando a pesquisadora que salvou sua vida. O outro foi de uma menininha e minha filha, na Bahia.

O primeiro, assisti em um vídeo na internet. Wounda, uma fêmea de chimpanzé, esteve muito doente por várias vezes, e foi tratada em um centro de pesquisa na Tanzânia, África. Foi fundado por Jane Goodall, uma primatologista inglesa de 80 anos, que dedica sua vida a estudar o comportamento dos chimpanzés e a cuidar deles. Wounda conseguiu se recuperar e uma equipe foi soltá-la em uma ilha. Quando abriram a jaula onde foi transportada, Wounda saiu, olhou em volta a floresta exuberante, deu uma corridinha, voltou, subiu na jaula e abraçou a Jane. Um abraço demorado, apertado, com os olhinhos fechados. Passava as mãos peludas nas costas da pesquisadora, franzina e idosa, que acariciava os longos pelos do dorso de Wounda. Ficaram assim as duas, parecendo que a chimpanzé estava agradecendo e se despedindo. Depois, saiu em passos rápidos e bamboleantes e embrenhou-se na selva, rumo à liberdade. Deu vontade de chorar.

O segundo abraço foi de uma menininha bonita, de quatro anos, quando ela chegou na escolinha que funcionava na casa da minha filha, em Algodões, depois que a mãe foi presa. O abraço dela foi de chegada, de entrega, de encontro, de esperança. O da minha filha foi de dor, de consolo, de carinho, de vontade de fazer tudo, ao sentir os ossinhos frágeis e ao ver as suas perninhas finas cortadas por capim navalha. A mãe dela (que na verdade ganhou a menina da mãe biológica) é usuária de drogas e assaltou uma casa juntamente com dois filhos. Quando fugia da polícia pelo mato, arrastou com ela a criança, que ficou toda machucada. Ela, a menininha, conta que não quer ficar sem a mãe e que essa vai voltar. Vontade de chorar também, mas não de alegria.

Enfim, os abraços estão presentes em nossas vidas, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença. São gestos simples, carregados de sentimentos. Podem ser de apoio, de despedida, de chegada, de consolo, de saudade, de compreensão, de afeto, de aconchego, de partilha. E, como alguém já disse, um bom abraço não pode ser rápido, tem que atravessar o corpo, ser uma confissão, ser o encontro de dois corações, precisa cruzar os braços e demorar no rosto.

E como diz a canção de Jota Quest: "o melhor lugar no mundo é dentro de um abraço, pro mais velho ou pro mais novo, pra alguém apaixonado, alguém medroso; tudo que a gente sofre, num abraço se dissolve, tudo que se espera ou sonha, num abraço a gente encontra". Ou como cantado por Milton Nascimento: "mande notícias do mundo de lá, diz quem fica, me dê um abraço, venha me apertar, tô chegando" ; ou  por Roberto Carlos: " você foi o maior dos meus casos, de todos os abraços, o que eu nunca esqueci".

Assim, desejo que neste Natal você dê e receba muitos abraços. Não tem presente melhor. Abraços apertados, sinceros e inesquecíveis. Abrace a família, os amigos, os companheiros de trabalho, os velhinhos, as crianças, os abandonados, os carentes, os orgulhosos, os chorões, os ranzinzas, os otimistas, quem você puder. Mas, acima de tudo, desejo que você se sinta abraçado pelo Menino Jesus. Um abraço enorme, maior que o mundo, cheio de amor, de paz e de luz, capaz de unir o coração humano ao coração divino.

Feliz Natal, com muitos abraços!
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