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06/12/2018 às 08h17min - Atualizada em 06/12/2018 às 08h17min

A vaca, o urubu e o Roque

ANA MARIA COELHO CARVALHO | BIÓLOGA
Circula na internet um texto divertido, de autor desconhecido, explicando que Cristóvão Colombo era solteiro e por isso, descobriu a América. Se fosse casado, teria desistido da viagem ao ouvir da esposa coisas como: "-E por que é você que tem que ir?"; "-Você não conhece nem minha família e quer ir descobrir outro mundo?"; "-E só vai homem nesta viagem? Acha que sou idiota?";"-E por que não posso ir, se você é o chefe?";"-Você não sabe mais o que inventar para sair de casa?"; "Tinha tudo planejado, né?"; "-E vai viajar a serviço, com essa roupa cheia de rendas e esse chapéu ridículo, com penacho? Me engana que eu gosto!". "E que missão secreta é essa? Pode tirar o seu cavalinho da chuva, você não vai a lugar nenhum!"

É, acho que o Cristóvão não iria mesmo...      

Lendo isso, lembrei-me de uma crônica de Antonio Prata, cronista da Folha, envolvendo histórias de casal. Ele contou que há tempos inventou e escreveu um texto sobre uma vaca que foi colocada em uma canoa para atravessar um rio, nas proximidades do mar. Na praia, olhando a cena, estava um casal de namorados. A canoa virou e a vaca foi arrastada para o mar. A namorada ficou indignada e revoltada com o namorado, pois ele não fez nada para evitar a tragédia. Terminou o namoro com ele.

Antônio explica que depois recebeu um e-mail do Sidney, de Jequiaçu, Paraná, que havia lido a crônica da vaca. Sidney estava convencido de que o texto havia sido baseado em sua história verídica. Estava impressionado, sem entender como Antonio teve conhecimento do seu caso. Contou então que seu casamento terminou por causa de um urubu, como se segue.

Estavam ele, Sidney, e a esposa, Letícia, assistindo felizes ao “Caldeirão do Huck”, na sala do seu apartamento no 12º andar. De repente, o vidro da janela se estilhaçou em mil pedaços que caíram no chão junto com um urubu ensanguentado. A mulher começou a gritar para Sidney fazer alguma coisa e quanto mais gritava, mais o urubu se debatia. Ele tentou pegar o urubu com duas almofadas e jogá-lo pela janela, mas a ave se libertou e ainda soltou um terrível grasnado, parecendo balido de bode. Pensou que a mulher ia ter um treco. Então ele, que não mata nem barata, agarrou a ave hedionda com as próprias mãos e quebrou seu pescoço. A mulher encarou-o atônita por um minuto. Então, levantou-se, saiu pela porta e nunca mais voltou.

Até hoje Sidney não conseguiu entender como um urubu desgovernado quebrou a janela e acabou com seu casamento. E, também, como a história chegou aos ouvidos do colunista. Esse, Antonio, termina a crônica afirmando que foi tudo coincidência e espera que Letícia, a esposa, se recupere do trauma e volte para Sidney.

Lendo o texto, não pude deixar de pensar no Roque, o cachorro perdigueiro do meu filho (casado e pai de três filhos) e as confusões que ele aprontou. O Roque, um cão cativante e endiabrado, foi presente de um amigo. Chegou ao apartamento na forma de uma bolinha branca e fofa, de pintas pretas, sendo recebido com entusiasmo pelas crianças e com frieza pela esposa. Foi crescendo, crescendo, até dominar todo o apartamento. Bagunceiro e brincalhão, mordia as almofadas, babava por todo lado, dava saltos mortais em cima das pessoas, derrubava vasos, arrastava por quarteirões inteiros quem se atrevia a passear com ele na coleira.

Passou a ficar preso na varanda, arranhando o vidro da porta e ganindo sem parar, enquanto aguardava com impaciência a chegada do meu filho, a paixão da vida do Roque. A cada dia, crescia a paixão entre eles. Mas, também, cresciam os problemas, em razão diretamente proporcional ao aumento do tamanho do cocô e do xixi do Roque. A esposa, tal qual a Letícia da outra história, estava quase dando um treco. Até o dia em que ela falou a célebre frase: “você decide: ou eu ou o cachorro” (felizmente não saiu pela porta e sumiu, como a Letícia; pelo menos deu uma chance). O meu filho sentiu uma dor no coração ao pensar que não teria mais os pulos alegres e as lambidas grudentas do Roque, quando chegasse em casa. Sem saída, levou o “Roquinho”, como dizia ele, para a fazenda. O Roque ficou todo feliz, rolando na terra e correndo atrás das galinhas, perus e codornas. E o casamento continuou firme e forte, mas sem o Roque.
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