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30/11/2018 às 09h02min - Atualizada em 30/11/2018 às 09h02min

Sem limites

MARIANA SEGALA
No contexto da inovação, as definições para limites geográficos foram atualizadas. Nada, absolutamente nada, impede que a solução para um problema encontrado na linha de produção de uma indústria paulista seja desenvolvida no interior de Goiás ou no litoral do Ceará. Ou aqui mesmo, em Uberlândia. A tendência à descentralização foi um tema central para a Associação Brasileira de Startups (ABStartups) ao longo deste ano. Nos últimos meses, a entidade mapeou 30 comunidades de startups – como são chamadas as empresas nascentes com alto potencial de crescimento – localizadas fora do eixo formado por São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Recife e Florianópolis, que já tradicionalmente abrigam esse tipo de empreendimento. Desde setembro, são divulgados os resultados desse enorme levantamento, envolvendo lugares tão distintos quanto Campo Grande (MS), Joinville (SC) e Maringá (PR). Os últimos três mapeamentos – incluindo o de Uberlândia – foram lançados ontem.

O mapeamento aponta a existência de 74 startups na cidade. As mais numerosas são as dedicadas aos mercados de educação, agronegócio e publicidade. Metade delas desenvolvem softwares usados pela internet – ou Saas, no jargão do setor. A estatística é uma das partes relevantes do levantamento, mas o interesse da ABStartups se centrava em que o documento servisse como referência – um mapa, de fato – dos principais atores do ecossistema da inovação. Eles foram identificados e organizados segundo seis pilares estruturantes: geração de talentos, disseminação da cultura empreendedora, densidade e diversidade da comunidade, programas de acesso a mercados, acesso a capital e condições do ambiente regulatório. Todos esses elementos, conforme a entidade, contribuem para a construção de um contexto favorável ao desenvolvimento de novos negócios.

No pilar de cultura empreendedora, por exemplo, o mapeamento de Uberlândia enumera duas dezenas de eventos recorrentes em que é possível ter acesso a conteúdos essenciais para quem está começando. É uma lista comprida, mas representa apenas uma fração do que realmente acontece por aqui. A movimentação, aliás, é surpreendente: só nas duas primeiras semanas de dezembro, estão previstos perto de 15 palestras, cursos e workshops sobre tecnologia e inovação, conforme levantamento da Comunidade TI Uberlândia, que reúne 4.800 membros nas redes sociais. Todo dia é dia de aprender, evidenciam os números.

Outro destaque do documento é a infraestrutura de suporte aos empreendedores, incluída no pilar de densidade e diversidade. São listados espaços físicos (em geral, coworkings), estruturas de formação (como programas de mentoria) e grupos de conhecimento (como fanpages e grupos no WhatsApp) que possibilitam o encontro e a troca de experiências. Há espaços patrocinados por universidades (como o AnimaLab, na UNA), empresas (como o Brain, da Algar) e entidades (como o SebraeLab). E há iniciativas totalmente orgânicas, que surgem da necessidade que todos temos – e os empreendedores em especial – de buscar apoio e referências. É o caso da Colmeia, como foi batizada a comunidade de startups de Uberlândia, nascida há dois anos pelas mãos de oito empreendedores que se dedicam diariamente à louvável tarefa de conectar pessoas e ideias.

Dar visibilidade à inovação que acontece Brasil afora é uma maneira de assegurar que ela continue acontecendo. Em uma conversa há poucos meses, Amure Pinho, presidente da ABStartups, ressaltou o impacto do pouco destaque usualmente reservado às startups do interior: “Se não recebe atenção, a inovação fica lá e ninguém vê. E se ninguém vê, ela morre precocemente por abstinência de apoio e investimento”. Quem está fora dos grandes centros encontra um custo adicional para explorar mercados, já que, usualmente, a maior parte dos negócios de qualquer que seja a área se concentram nas maiores cidades. Por outro lado, consegue mais do que compensar esse custo ao desembolsar menos com mão de obra e infraestrutura, em geral mais baratas nas regiões menos disputadas. Com o diz Pinho, é mais caro extrair inovação em uma capital central do que em uma cidade periférica.

Um grupo de empreendedores uberlandenses está desde ontem em São Paulo participando do Case, a Conferência Anual de Startups e Empreendedorismo – onde, aliás, o mapeamento da ABStartups foi divulgado. É um ambiente dinâmico, apropriado para aprender, fazer contatos e fechar negócios. Que voltem energizados da maior cidade do país, e que façam acontecer aqui no interior.
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