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09/04/2018 às 11h37min - Atualizada em 09/04/2018 às 11h37min

​O futuro de Lula e do Brasil

ALEXANDRE HENRY ALVES | COLUNISTA

Como é notório, vivemos um período de Fla-Flu quando o assunto é o processo criminal contra Lula. Parece que não há meio termo: ou você enxerga o Lula como o maior bandido do planeta Terra ou você enxerga Lula como o maior injustiçado desse mesmo planeta Terra.

Isso me deixa triste. Sou uma pessoa que adora a emoção nas relações pessoais, mas se o assunto for política, ações judiciais e coisas do gênero, entendo que a razão deve tomar o lugar da emoção, sendo que a razão tem se mostrado integralmente incompatível com essa polarização extremada. Se a emoção entra por uma porta, a razão costuma sair pela outra.

Nesse radicalismo lamentável, o que li e ouvi das duas partes foi um futuro sombrio conforme o desfecho da novela Lula. Para quem o odeia, Lula fora da prisão significa que o país não tem futuro e que estamos fadados, eternamente, ao atraso. Já para quem idolatra Lula, a sua prisão significa um país sem futuro e que estamos fadados, eternamente, ao atraso. O que isso significa? Que quase todo mundo está vinculando o destino do Brasil ao desfecho da novela do ex-presidente.

Em minha visão, essa vinculação de destinos é uma simplificação absurda e irracional.

Para quem quer ver Lula preso, digo que a jornada contra a corrupção (sem opinar, aqui, se Lula é culpado ou inocente) é uma luta que está apenas no começo. Somos uma nação corrupta desde que Cabral subornou o primeiro indígena no ano de 1500. O combate à corrupção só começou, de forma realmente efetiva, há três décadas, com as garantias dadas a uma nova classe de atores sociais, formada por gente concursada que não deve nada a padrinhos políticos. E esse processo de luta contra a corrupção, anote aí, ainda vai consumir muitas décadas para nos levar aos patamares de ética das nações mais civilizadas. Mais do que ter consciência de que a luta contra os larápios do dinheiro público vai ser longa, é preciso ter consciência de que ela não vai ser feita de forma contínua e linear, sem nenhum evento que represente ao menos um pequeno retrocesso. Desde o ano de 1500, há toda uma casta que, geração após geração, vive de espoliar o Estado, casta essa que não vai se entregar facilmente em poucos anos de luta contra a corrupção. Mas, isso não significa que não estejamos evoluindo e não significa, caso você acredite que Lula é culpado, que tudo estará perdido se ele não for para a cadeia.

Para quem acredita na inocência de Lula e acha que a prisão dele também é sinal de que não daremos certo como nação, sugiro refletir mais um pouco. Pelas tentativas de congressistas de todas as alas de criar embaraços à punição judicial, nota-se que o movimento de combate à corrupção não está mirando só em Lula e na esquerda. A turma sabe que os tempos estão mudando e que não há mais salvo-conduto 100% garantido para ninguém, ainda que para alguns a punição possa estar demorando mais. Se a condenação de Lula foi um erro, algo que só o passar do tempo pode elucidar, isso também não significa que nosso sistema judicial esteja falindo. Eventual falha judicial nesse caso, se houve, representa apenas mais uma etapa no processo de evolução do Poder Judiciário como instituição fundamental para o país.

Enfim, não falo nada sobre a culpa ou a inocência de Lula. Digo apenas que o destino do nosso país não está atrelado ao destino dele. Lula preso ou não, vamos continuar evoluindo como nação, ainda que lentamente, com os bons frutos sendo colhidos pelos nossos tataranetos, em uma evolução sujeita a falhas e retrocessos, mas seguindo seu curso rumo a um futuro melhor para o Brasil.
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