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10/01/2018 às 17h03min - Atualizada em 10/01/2018 às 17h03min

Cognição política

ADRIANO ZAGO* | LEITOR DO DIÁRIO

Sem sombra de dúvida, os dois últimos anos da política brasileira foram sombrios. Sente-se e convive-se com um desencanto com a política sem precedentes na história do país. As pessoas estão muito frustradas, porque viram promessas que não poderiam ser cumpridas desmoronarem juntamente com os escândalos, cada vez mais frequentes, do envolvimento de políticos em falcatruas e em relações promíscuas que se estendem a todo o tecido social.

A constatação é a de um clima de acirramento e intransigência que tomou conta da política brasileira contaminando os três poderes. O sentimento do (a) eleitor (a) é raivoso, como tem nos mostrado a grande imprensa, sendo ele manifesto em atitudes pouco amistosas em aviões, restaurantes e outros lugares. É a sociedade reagindo num corpo a corpo com hostilidade e ódio.

A descrença com a política se apresenta em uma conjuntura ideal para a volta da barbárie ou ao radicalismo. Entretanto, faz-se necessário uma pergunta. Qual é o grau de cognição política do povo brasileiro? O termo cognição vem da raiz latina cognoscere, que significa “conhecer”, ou seja, é a acumulação de informações que se adquire pela aprendizagem ou experiência. São estímulos recebidos através dos vários sentidos, acumulados com as características subjetivas e individuais, que permitem integrar as informações para avaliar e interpretar o mundo. Em outras palavras, a cognição é a habilidade para assimilar e processar as informações que inclui diferentes processos como a aprendizagem, atenção, memória, linguagem, raciocínio, tomada de decisões, etc.

Neste sentido, grande parte da população brasileira carece de uma Educação Política, que creio ser o ponto nevrálgico indispensável para o debate político. A Educação Política é um tema antigo preconizado pelos filósofos gregos Platão e Aristóteles. Para eles, a principal tarefa e virtude dos governantes era justamente propiciar a educação política do povo, como protagonista e não tutelado.

No Brasil, com raras exceções, encontramos um processo de Educação Política formal obrigatório nas escolas, o que favorece em muito um estado de ignorância e letargia política da população. Nosso mandato tem desenvolvido o projeto de Educação para uma Cidadania Política, quer seja com crianças ainda em fase de alfabetização ou mesmo jovens cursando o Ensino Médio. O que mais nos tem assustado é a falta de noções básicas sobre os Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, além do desconhecimento sobre os governantes e suas responsabilidades.

Percebemos também que grande parte da iniciativa para uma Educação Política tem sido desenvolvida pelos partidos políticos e organizações da sociedade civil em parceria com as universidades e voluntariado, que têm fomentado conhecimentos básicos sobre o funcionamento do sistema político, legislação, sistema eleitoral, questões políticas atuais, etc.

Infelizmente, a política é algo longínquo para a maioria da população, e ela só ganha visibilidade no dia da eleição. A distância entre o povo e os órgãos de decisão, entre governantes e governados, provoca uma relação autoritária gerando um sentimento de indiferença e hostilidade contra as instituições e os políticos. Mas, o interessante é que são as próprias pessoas que, por meio do sufrágio, delegam a outras a gestão dos destinos de um Município, Estado ou da Nação. Estão elas aptas a entender a importância do vasto universo que envolve a política?

“Temos mobilização, atividade política, mas não temos cultura ou educação política”, conforme expressou o ex-ministro da Educação e filósofo brasileiro Renato Janine. É nesse cenário de apatia, indiferença, ódio, que encontramos a maior parte do povo brasileiro, empobrecido com as sucessivas e desastrosas políticas - as limitações da cognição política de vastos segmentos da população.

Para transformar os quadros atuais de representação e do processo eleitoral de extrema privatização da política a redutos mínimos, torna-se urgente e imprescindível a Educação Política.
(*) Advogado e vereador
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