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19/12/2017 às 18h12min - Atualizada em 19/12/2017 às 18h12min

Para a dor física: hospitais. Para a dor da alma: cultura

JOSÉ EGITTO* | LEITOR DO DIÁRIO

Graças ao “Diário do Comércio de Uberlândia”, em suas páginas do Diversão & Arte, tive uma semana de tratamento total de minha alma, sigo os derradeiros dias deste ano com a bateria recarregada. Que êxtase digno. E com um custo de investimento irrisório. É o retorno dos meus impostos, restituídos em forma de cultura.

No dia 5 deste mês, música clássica com Maria Célia, Edmar Ferreti, Carla Corsino e a soprano Tamara Caetano, a pequena com voz, carisma e competência de caixa grande de som. A melodia em francês de Eric Satie injetou gasolina de avião no meu ser.

No dia 6, alunos do Sesc (infantil, juvenil e adulto) se apresentaram no Municipal. A plateia foi desrespeitada com atraso de mais de 45 minutos, todo mundo em pé no hall e rampa de entrada. Fui embora. Marca-se horário para ser respeitado.

Dia 7, Adriana Francisco no Alfaiataria. Que delícia. Clara Nunes e Elis Regina vivem em nosso coração e transcendem nossa alma para outras dimensões.

Já na sexta-feira (8), Rodolfo Berg em diálogo sobre ética, política e existência com o apoio de meninos filósofos do naipe de Spinoza, Nietzsche, Foucault. Extrapolamos o horário em duas horas. Voei para o bar Alfaiataria para saborear Luís salgado, recém-chegado de Portugal, onde foi convidado pelo Centro Cultural de Évora (cidade medieval portuguesa tipo Ouro Preto) pelo seu rico musical de folias de reis, tradição portuguesa importada e abrasileirada. Os lusitanos estudam estas variações em suas tradições. E nós, estudamos nossa cultura?

No dia 9, incompatibilidade de horário para tantas coisas boas. Tomar “café do tempo” no templo do Alexandre Franca é ocupar seu tempo com bom gosto, amabilidade, cultura artística sobrando, bom papo, novos excelentes amigos. Degustei baguete “carravagio” com ponche “monet”, finalizando com café com coador individual em xícara esmaltada de cor laranja, cor preferida do artista. Companhia para prosear, a leonina Júlia Franca, matriarca do bom gosto. Após histórias de vivências incríveis, ainda nos presenteia com “ameixinhas” deliciosas, sua especialidade. Encanto para os olhos, as mesas natalinas da exposição. A mesa indígena da Vânia com sua cor ocre contrastando com o branco do algodão e suas estrelas de gravetos demonstra a criatividade ímpar de toda a exposição.

Saio correndo para ouvir “Acid Girl” na livraria Saraiva. Mas, antes, passei no Divino Restaurante para presentear o Luciano “marmorização” (gaúcho) com pimenta da Jamaica. Mas o “acid bebê” na barriga de Taty Ferreira foi imperioso. Planos cancelados.

Adoro “Soul Blues-Uai”, mas teve “Soul Congada” no mesmo horário. Festival da cultura afro-brasileira com grande atraso - 2 horas. Mas chove lá fora, para dentro do Municipal. Tirando um som maneiro de enxadas e bacias com berimbaus, o Babilak Bak (BH) nos brindou com “som soul afro-bras”, importado dos africanos e abrasileirado. O ápice da apresentação foi quando babilak-chefe convida o congadeiro para subir no palco. A harmonização musical entre os dois estilos se aglutina e produz um raro momento na plateia e nos participantes no palco.

Segunda atração: terno de Moçambique Estrela Guia no espaço máximo da cultura uberlandense, o Municipal. Lágrimas aos olhos, a alma se manifesta no físico e você “chove” na alegria. A gota de lágrima cai no solo sagrado que é o teatro, um dos hospitais da alma.

Mestre Raimundo, o Nêgo, adentra ao teatro pelo fundo da plateia, instigando o músico do cavaquinho e o músico do tambor congadeiro a pedirem permissão a todas as divindades para que seu terno se apresente. Agraciado com a permissão, convida Iara, sua esposa, a trazer em cantoria todo o terno. É mágico. Infelizmente não vi a outra metade, o atraso inicial atrapalhou meu próximo encontro – o “Mal Dito” no Palco de Arte do Uai Q dança.

Uma exibição de conceitos do “Teatro Selvagem” no Teatro da Crueldade de Antonin Artaud. Fransérgio Araujo é o nosso mestre agora. Mas isto é um novo texto!  

(*) Empresário e engenheiro tributarista

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