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30/09/2018 às 05h00min - Atualizada em 30/09/2018 às 05h00min

Um rodar mais acessível

Carro popular evolui para atender pessoas com deficiência

FOLHAPRESS
Foto: Divulgação
As vendas de carros para pessoas com necessidades especiais têm um novo recorde. As 187 mil unidades emplacadas no ano passado já foram superadas nos oito primeiros meses de 2018, de acordo com a Associação Brasileira da Indústria, Comércio e Serviços de Tecnologia Assistiva (Abridef). A maior procura faz as montadoras investirem em lançamentos com preços mais em conta. As dez principais marcas no país já têm carros compactos com câmbio automático, requisito fundamental para atender clientes com mobilidade reduzida. São modelos que, com as isenções de impostos, saem por menos de R$ 50 mil. "Tenho um Chevrolet Prisma há quatro anos, me atende bem e estou pensando em trocar por outro", diz a aposentada Alice Silva, 52. Sua principal reclamação sobre o carro atual é o peso da direção hidráulica. No modelo novo, esse sistema foi substituído pela assistência elétrica, que deixa o volante mais leve.

Caso opte pela versão LT automática, Alice, que é cadeirante, irá pagar R$ 43 mil no carro devido às isenções de Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) e Imposto de Propriedade Sobre Veículos Automotores veicular (IPVA). Contudo, ela vai gastar R$ 1.700 com a instalação da alavanca manual para frear e acelerar. Para as montadoras, as isenções não representam prejuízo. O cálculo é feito sobre o valor de tabela do veículo, em uma venda direta para o cliente final. O lucro é preservado. Gustavo Schmidt, vice-presidente de vendas do grupo Volkswagen, explica que a rentabilidade também têm feito as montadoras olharem mais para esse mercado. A marca lançou neste ano as versões automáticas do hatch Gol e do sedã Voyage, ambos têm motor 1.6 flex. O preço com isenções parte de R$ 40.915.

Apesar de menores, os carros compactos podem ser mais equipados que modelos vendidos por valores bem próximos ao teto de isenções plenas, que é de R$ 70 mil. O jipinho Hyundai Creta 1.6 PCD (R$ 69.990), que está com as vendas interrompidas para que a fila de espera seja reduzida, vem com calotas em vez de rodas de liga leve. Não há airbags laterais nem sistema de som. Esses itens estão disponíveis no compacto HB20 1.6 Premium (R$ 66.790), também automático.

Por não precisar do espaço de um utilitário, o engenheiro mecânico Matheus Marra, 25, optou por um carro pequeno bem equipado. Ele comprou um Volkswagen Polo 1.0 turbo. O engenheiro diz que escolheu uma versão mais completa e, por isso, pagou R$ 54 mil com as isenções de IPI e ICMS inclusas. Na tabela, a versão que ele adquiriu no início do ano custa R$ 69,6 mil e traz airbags laterais, sistema multimídia e volante com comandos do equipamento de som.
Matheus não precisou fazer adaptações no carro, bastou ser automático. Seu problema está no joelho esquerdo. "Sofri uma fratura e luxação de patela em um jogo de futebol, sentia uma dor muito forte ao pisar na embreagem, não dava mais para ter carro com câmbio manual."
 
Embora já fosse habilitado, o engenheiro precisou obter a carteira de motorista especial, que ficou pronta em 20 dias. Ele teve de passar por três médicos e fazer a prova prática de direção dirigindo um carro automático.
Entre o início do processo e a entrega do automóvel, Matheus teve de esperar quatro meses. "Isso porque optei pelo modelo 2018. Se fosse ficar com o 2019, seriam seis meses, no mínimo." A demora na entrega tem sido o maior problema das pessoas que procuram comprar um carro zero-quilômetro com isenções de impostos.

"Está faltando automóvel no mercado, a previsão de vendas estimada pelas montadoras para 2018 foi estourada. É um mercado novo para todo mundo, inclusive para as fábricas", diz Rodrigo Rosso, presidente da Abridef. O tempo de espera por alguns modelos chega a oito meses. Somado ao tempo de tramitação das isenções, o cliente pode ter de aguardar mais de um ano para receber o carro zero-quilômetro. Jeane Bernardo da Silva Pedro, 31, e seu marido, Wellington do Nascimento Pedro, 32, estão há 11 meses na fila para pegar um Honda Fit. "Um vendedor nos disse que se nós tivéssemos adquirido o 'kit personal', o carro provavelmente sairia mais rápido, porque 90% dos seus clientes compram esses equipamentos", diz Jeane.

Ela optou pela versão mais simples do compacto da Honda, que vem com rodas pretas, sem calotas. Custa R$ 68,7 mil, valor que cai para R$ 52.238 com as isenções. O kit mencionado é vendido por R$ 5.800 nas concessionárias e inclui rodas de liga leve, câmera de ré e sistema de som. Em nota, a Honda afirma que o tempo médio de espera para recebimento do automóvel, independentemente de o cliente ser uma pessoa com deficiência ou não, varia de acordo com a disponibilidade dos veículos escolhidos. A diferença, segundo a montadora, está no período necessário para a aplicação das isenções.

Rodrigo Rosso atribui os atrasos ao aumento da demanda e afirma que há 46 milhões de pessoas no Brasil que podem ter o direito de adquirir um carro novo sem ter de pagar IPI ou ICMS. "A isenção é determinada por exames clínicos, o diagnóstico segue um protocolo internacional de doenças que limitam a mobilidade de diferentes formas", diz o presidente da Abridef. Na ansiedade de adquirir o carro, muitos compradores optam por contratar serviços especializados para dar andamento à documentação, diz Rosso. Contudo, ele explica que é necessário checar se a empresa tem uma sede e se oferece garantias aos clientes, sem falsas promessas.

As montadoras também oferecem assessoria para a compra do carro com isenções. Chery, Chevrolet, Citroën, Fiat, Ford, Honda, Hyundai, JAC, Jeep, Mitsubishi, Nissan, Peugeot, Renault, Toyota e Volkswagen são as marcas que vendem carros automáticos com preço abaixo do teto de R$ 70 mil.
 
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