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19/10/2017 às 18h31min - Atualizada em 19/10/2017 às 18h31min

Internet...e depois?

IRMA DE MELLO* | LEITORA DO DIÁRIO

Criada em 1990 pelo engenheiro britânico Tim Bernes-Lee, a internet foi a grande explosão daquele ano. Usando um computador e o "www", tornou-se possível ter acesso a várias informações. A conexão discada estava em quase todas as casas, surgiram vários provedores de acesso e isto deixava todos ansiosos pelo final de semana, quando se tinha tempo de navegar na internet.

Em 2006, o mundo foi apresentado ao Orkut, que logo viraria "febre". Nos anos seguintes surgiram outras redes sociais e a partir daí já se estava estabelecido o contato virtual entre as pessoas.

Sem dúvida tudo isto trouxe para a sociedade inúmeras facilidades. O homem moderno tem acesso a todo tipo de informação, o tempo todo, e está ligado ao mundo por um aparelho que, hoje, cabe na palma das mãos. Compras, chats, pesquisas, tudo acessível 24 horas por dia. Isto está mudando também a interação entre as pessoas.

Podemos dizer que o ser humano é sociável, mesmo que virtualmente, pois grupos vêm sendo formados. Por um lado, até facilitou a comunicação, a troca de informações. Por outro ponto de vista, podemos nos perguntar qual a mudança que isto gerou para cada um?

Como psicóloga clínica, percebo que há sim uma nova subjetividade em construção após a internet. Crianças que buscam jogos online, jovens e adultos que relatam seus encontros e desencontros amorosos nas redes sociais, a excessiva exposição da figura e a busca de uma identidade que seja aceita na rede, namoros são iniciados e muitas vezes até terminados nos chats.

Enfim, a internet que veio para facilitar, informar, tem também se tornado um mal para muitos, principalmente nossos jovens. Às vezes, confusos e ansiosos pela aprovação nas redes, criam uma autoimagem falsa e passam a viver um "pseudo-self". Há um processo de transformação nesta subjetividade contemporânea.

Segundo o psiquiatra Augusto Cury, com livros em vários países e autor do best-seller "Ansiedade – como enfrentar o mal do século", "estamos assistindo ao assassinato coletivo da infância das crianças e da juventude dos adolescentes no mundo todo". Para ele, nós alteramos o ritmo de construção dos pensamentos por meio do excesso de estímulos, por acesso ilimitado a smartphones, redes sociais, jogos, ou até mesmo excesso de TV. Isto os leva, segundo Cury, a perder as habilidades socioemocionais mais importantes: colocar-se no lugar do outro, pensar antes de agir, expor e não impor ideias, aprender a agradecer e sentir gratidão.

Por tudo que observo no consultório, concordo com o fator excesso. Tudo que é demais, destrói, adoece e aniquila. O uso exagerado do acesso virtual, seja ao que for, tem modificado nossos jovens. Principalmente no desenvolvimento da consciência crítica, na troca de generosidade, no diálogo, na interação descontraída, criativa e saudável.

Generosidade, gratidão, nunca se falou tanto disto, nunca se foi tão egoísta. A imagem mudou os valores dos jovens e, no virtual, tudo tem se tornado possível. As fotos são modificadas, o perfil inventado, a verdade manipulada, e assim se apresentam superpoderosos. A falta do contato físico facilita a criação de um corpo falso protegido pelo anonimato.

As máscaras se tornam cada dia mais densas. Como podemos administrar o comportamento pós-internet?

Penso que se torna fundamental a busca de um ponto de equilíbrio, através do diálogo, uma conduta familiar de limite, administrando o tempo que o jovem utiliza nas redes sociais e mantendo a criança longe de internet e rede social sem fiscalização.

Infelizmente os impactos negativos na saúde mental dos jovens pelo uso excessivo das redes sociais já estão aí: ansiedade, depressão e solidão.

A internet como ferramenta pode ser fantástica, podendo ser um correio, uma biblioteca etc. Cabe a cada um direcionar o uso da rede para ajudar o homem a ficar mais informado. Mas é necessário permitir que as habilidades humanas sejam aprimoradas no contato com o outro, na troca presencial, no aperto de mão, no abraço, na visita, lembrando sempre que não somos ilhas. Crescemos na interação com o outro ser humano. Rede social pode ser uma ferramenta para se trocar mensagens e marcar encontros, mas a verdadeira conexão humana está na troca subjetiva presencial, o melhor chat ainda é "olho no olho".

(*) Psicóloga clínica

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