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04/10/2024 às 08h00min - Atualizada em 04/10/2024 às 08h00min

Dia da criação

WILLIAM H STUTZ
“(...) deverias ter sido riscado do Livro das Origens, ó Sexto Dia da Criação. 
(...) Melhor fora que o Senhor das Esferas tivesse descansado.  Na verdade, o homem não era necessário (...).  Mal procedeu o Senhor em não descansar durante os dois últimos dias. Trinta séculos lutou a humanidade pela semana inglesa. Descansasse o Senhor e simplesmente não existiríamos (...)”
Fragmento de Dia da criação Vinícius de Moraes


Pois não é que estes dias, que passaram voando, que nem harpia em retorno ao ninho, comemorou-se aniversário do calendário gregoriano e ainda o Rosh Hashaná, o ano novo Judaico, segundo este calendário estamos no ano 5784.

Ainda temos o calendário Chinês. Estamos vivendo o Ano do Dragão. “O Dragão é o único ser mitológico do zodíaco chinês, e 2024 é o ano do Dragão, o ano é dominado pelo elemento Madeira, o que pode tornar o período intenso e desafiador”. 

Para contar tempo o homem criou mais um monte de calendários, o calendário hegírico ou Islâmico, Calendário Juche que, como tudo mais, só é usado na Coréia do Norte. Bom, de tão isolados que são, só serviria para eles mesmo e não vai fazer diferença para o restante do planeta. Ai ainda tem o Maia, o Etíope e tais.

O fato é que o homem sempre arrumou um jeito de prender o tempo e tentar usá-lo a seu bel prazer. Quantos não riscam diariamente a folhinha, na tentativa de apressar o tempo por algum motivo? O mais comum hoje é o dia do pagamento. Acaba-se de receber e já começa a marcar o dia do próximo. Não está fácil para ninguém.

Contam os criacionistas que Ele se desdobrou em criar o mundo no qual vivemos, deu um duro danado e, exausto, resolveu a parada no sétimo dia. Se existisse televisão, certamente iria assistir a um bom programa, um filme, talvez. Os dez mandamentos, não estas versões atuais, seria sem dúvida aquele com Charlton Heston, Yul Brynner, e “grande elenco”, esse jargão nas artes deve ter sido criado para economizar papel.

Particularmente acho que Deus, com toda Sua sabedoria, em momento de tensão, cansado de tudo, resolveu pintar os passarinhos e plantas. Esquece o tempo, pensou. Pediu ajuda aos anjos poetas. Decidiram que o vento não teria cor visível, nem aroma especial. Assim, cada um poderia escolher o que sentir. Salgou o mar, mas adoçou rios, riachos e cachoeiras. Distraiu-se com saíras. Alguns querubins as usavam para limpar as mãos de tintas, deixando algumas com até sete cores. E Ele viu que era bom. Deve ter sorrido feliz.

Começou a pensar ao observar as belezas de seus artistas alados — Esqueçam o tempo criaturas. O sol, a lua, as marés, as chuvas e as flores. O amor, fome e sede serão seus relógios. Pronto, aí veio uma merda de uma serpente e atrapalhou tudo.

“(...) o tempo não serve de medida: um ano nada vale, dez anos não são nada. Ser artista não significa calcular e contar, mas sim amadurecer como a árvore que não apressa a sua seiva e enfrenta tranquila as tempestades da primavera, sem medo de que depois dela não venha nenhum verão. O verão há de vir. Mas virá só para os pacientes, que aguardam num grande silêncio intrépido, como se diante deles estivesse a eternidade”
Rainer Maria Rilke em Cartas a um jovem poeta
“(...), o homem não era necessário (...)


Ficassem apenas os poetas.


*Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.
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