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15/03/2024 às 08h00min - Atualizada em 15/03/2024 às 08h00min

Planilha de gastos

WILLIAM H STUTZ
Não sou economista, longe de mim tal profissão. Sou veterinário e tenho horror a cálculos, pois os números me cansam sobremaneira. É claro que existem aqueles que se dão bem com as contas, mas me sinto confuso e aborrecido quando o assunto é economia, grana mesmo. Sinto um tédio gigante ao lidar com estes caracteres sem poesia, sem alma. Frios como corpos em gavetas de necrotérios. 

Quando o foco é meu dinheiro, então aí que me perturba mais ainda. A começar pelo fato de nunca ter conseguido fazer a tão falada “Planilha de gastos”, tabelas de Excel, o entra e sai disso e daquilo. Ora, é tão simples, dizem alguns. É só anotar todos os seus gastos numa coluna, adicionar os valores a serem pagos e ao final diminuir o total de sua “gorda” receita financeira. 

Quem te conhece que te compre. Há quase uma década sem aumento real, poder de compra corroído, o funcionalismo público municipal, hoje nas mãos de um insensível senhor e seus vereadores de estimação, luta, finalmente organizado, contra o atual dono do poder. Já dizia o ditado oriental que, quando a manada ajunta o leão dorme com fome!

 Importante relatar que esta situação vem se repetindo prefeito após prefeito. Todos que, como aquele, preferem lotar a casa com comissionados e altos salários, ao invés de investir verdadeiramente em quem carrega o piano da administração pública. Porém, este é outro assunto sobre o qual farei um relato longo e recheado de detalhes. Afinal, comissionado é muito bem adestrado, dócil e se sustenta na bajulação, rastejando. Pobres criaturas, pobres criaturas. 
 
O servidor público só é lembrado em tempo de eleição e olhe lá. Como o atual não pode se reeleger, o que sinto é que ele não está nem aí para quem será o próximo a ocupar seu trono. A ideia, me parece, é ficar na coxia por quatro anos e preparar terreno, para todos sabem quem, sem nenhum segredo de estado. Não quero nem pensar nisso agora pois, se colocar atenção nesse jogo sem regras claras, a pressão sobe, a glicose despenca, o triglicérides vai às alturas e os pensamentos são os mais lúgubres que alguém possa ter. Melhor não. Assim, não sofro por antecedência. 

Para além disso, há sapos mais a engolir. Contudo, o que vai volta e a lei do retorno é infalível. Quem viver verá. “É volta do cipó no lombo de quem mandou dar (...)”. Vandré bem nos alertou.

Voltando à aposentadoria e tal planilha de gastos, é só seguir os passos acima e pronto, a mágica está feita. Isso para uma pessoa normal. Para este que vos fala, é preferível mil vezes ir a campo com botina nova apertando, do que abrir a tal planilha no aplicativo. Um filme de horror hollywoodiano do peso dos de Hitchcock. Minha ex, apesar de não ser economista, tinha o dom para os números e as planilhas. Com maestria colocava ordem na casa. 

Enquanto a relação durou, e foi longa, ela tinha as rédeas das finanças e trazia tudo da ponta do lápis, acendendo a luz vermelha quando eu, um desorganizado por natureza, fazia alguma loucura não programada. Eu não a questionava, pois era uma gênia na matéria. Ela poderia facilmente ser Ministra da Economia, que colocava o país nos trilhos. Só me restava concordar, em um amém dizer. Passou, cada um tomou seu rumo, felizmente em harmonia e respeito. De uma hora para outra fui obrigado a pensar dinheiro para não me perder. 

Cortei caminho. Meu filho me trouxe a solução mais razoável, levando em conta minha ojeriza à matemática doméstica.  Abrir uma conta em um banco virtual, esses sem agência física e, ao receber, lá depositar o valor das despesas correntes, deixar quieto o resto em uma conta salário da aposentadoria e carregar um troco na carteira. E assim, navegando entre números, cifrões, sustos e apertos, vamos levando a vida. Claro que ao final do mês sempre fica faltando alguma coisa e o cartão da agência virtual devora manso a conta salário.

Um dia ainda chego na tal planilha de gastos. O difícil será contar com a compreensão dos donos do poder, reconhecendo verdadeiramente o valor de quem faz jus a um salário digno. Os funcionários, tanto da ativa quanto aposentados, dão/deram sangue pela nossa gente. Oremos moçada, pois só reza braba para iluminar mentes tão fechadas.



*Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.
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