02/03/2024 às 08h00min - Atualizada em 02/03/2024 às 08h00min

Dor!

SE MANCA!, por Igor Castanheira

SE MANCA!, por Igor Castanheira

O jornalista Igor Castanheira traz seu olhar sobre temas relacionados a inclusão e acessibilidade.

IGOR CASTANHEIRA
A dor de quem acha que compreende a simplicidade da vida, mas se entrega à realidade que a suporta. Eu queria ser diferente. Acredito em energia positiva, no amor e no sorriso. Gosto das pessoas, sou grato por tudo e sei que tudo que me acontece, a responsabilidade é minha.

Contudo, fui criado e me contaminei com um mundo doente, onde os medos, as frustrações e o sofrimento são valorizados de forma sistêmica. Quanto mais demonstro a minha dor, mais compaixão e pena eu atraio, posso até conseguir ajuda e escutar algumas palavras para resistir, me consolar, algo que me dê uma falsa impressão de que estou no caminho certo. Sabe aquela coisa, ele tentou, fez o que pôde, mas sempre vão julgar em silêncio. Ele poderia ter feito isso, aquilo, eu falei que era para ir por esse caminho.

Normalizamos a pressão que nos colocamos para ser alguém, intensificamos a necessidade e alteramos a nossa essência para tentar sobreviver em uma selva antinatural que criamos e aceitamos, é isso, temos que lutar e vencer! Me apoio em uma fé que sinto, mas por conta de todo o contexto, me fecho em um mundo que eu sei que é bom, mas não consigo acessar a chave para abri-lo.

O medo, as coisas e as necessidades do mundo real fazem de mim apenas mais um esforçado, sonhador, inconsequente e irresponsável. Quero algo simples, nada mais do que isso. 

Essas palavras que rasgam e tornam públicas as minhas feridas, é uma confissão que assim como todos, eu também sei como ser feliz, mas não consigo superar a barreira da minha insignificância. 

Eu tenho a necessidade de criar e desenvolver algo singular diferente e que de fato transforme a realidade de gente, que assim como eu, por vezes, se sente isolada, triste e completamente solitária em meio a multidões reais e virtuais. 

Essa dualidade na qual me coloco, mostra o desespero de quem compreende que está perto de fazer algo que tanto acredita, mas se vê acuado e refém diante da necessidade de se render e aceitar o papel de figuração, parecido com uma árvore, colocada no fundo do cenário. 

Muitos não a enxergam, poucos a veem, de vez em quando é regada, às vezes se fortalece, alguns falam que é bonita e que merecia um melhor cuidado. Todavia a maior parte do tempo é esquecida, enquanto a fotossíntese a alimenta, tá tudo bem, no entanto, quando o sol se esconde todos choram. 

Ser protagonista em um mundo que me quer dependente e que me oferece migalhas para sobreviver, ao mesmo tempo em que me iludo, levando-me a um esforço desumano para, quem sabe, conseguir o meu temporário, porém no meu sonho, um duradouro holofote, faz de mim um ator deprimente, sem recursos internos tampouco externos, fazendo do meu suposto momento de brilho, uma cena melancólica, que mistura euforia, muita imaginação, um drama insuportável e alguns risos de desespero. E quando as cortinas se fecharem, eu serei lembrado como um cara esforçado, sonhador que não conseguiu resistir ao papel que lhe cabia e, assim, tirado de cena para o show continuar. 



*Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.
 
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