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02/02/2024 às 08h00min - Atualizada em 02/02/2024 às 08h00min

Aromas e gostos (bons e maus)

WILLIAM H STUTZ
Não sei, não sei se existe, mas acredito piamente que deve haver uma fábrica de cheiros e sabores em algum canto desse mundão.
Nos tempos atuais o que nos restou é quase tudo é manipulado e falso, inclusive as emoções e relações humanas.

Quer gosto de churrasco? Toma está aqui. Quer defumado? Hummmm deve estar em algum lugar nessa prateleira aqui do fundo. Achei! 
Ah! Mas você quer aroma de lavanda? Temos aos montes.
Pensa aí vamos falar um pouquinho mais dessa cor lilás.  Você vai à venda ou supermercado e observa os rótulos. Desinfetante sabor lavanda, amaciante sabor o quê? Lavanda. Lustra móveis, advinha o aroma? Exatamente lavanda. Sabonete líquido ou em barra? Lavanda óbvio. Lustra móveis, cera Parquetina – se ainda existir – lavanda nela. 

Já sei, já sei, o chato vai jogar seu veneno-inveja com o já esperado comentário: “Sabor??? Isso não é sabor é cheiro!” 
Pô cara não implica com a minha licença poética, e me esquece.

Nunca vi ao vivo uma lavoura de lavanda, mas já tive alguns vasos com a planta. Mas fico pensando, se tudo quanto é produto que vemos for produzido com a lavanda verdadeira, não tinha espaço no Brasil para soja, milho e algodão todas somadas. Pesquisando descobri que a cidade de “Morro Reuter (no Rio Grande do Sul) é o maior produtor de lavanda do Brasil. Atualmente mais de 20 famílias cultivam a flor e, pelo menos, cinco delas possuem plantações com mais de um hectare.” 
Fonte do achado: GZH gauchazh.clicrbs.com.br
E olha que estamos falando de pequenas propriedades, de cultura familiar que possuem em média de 10.000 metros quadrados e apenas cinco um pouco maiores. Mas maiores quanto?
Seria o bastante para abastecer todo o mercado interno? Seguramente não!

Logo, deduzo são produzidas em laboratório, sintetizadas artificialmente aos milhares de litros. Me corrijam se estiver errado. 
Alguém já viu falar de importação gigante de lavanda a ponto de ser tratada como uma commodity de peso em nossa balança comercial? Alguém levantou a mão ai no fundo? Ah, não foi intencional.

Tem tudo quanto é cheiro quimicamente fabricado. Mas tem um que que mais me intriga e dá um certo medo – é nóia mesmo - Quando vejo rótulos com a denominação cheiro de bebê. Fico estarrecido, e não consigo deixar de pensar na composição do genial Vinícius de Morais... " Eu chego achar Herodes natural”, mas acalmo meu coração com o que se segue " mas não tem nada não, tenho meu violão..." 

Aí entram os sabores de verdade – viu ô chato implicante lá do alto - Fabricantes de bacon, sabor queijo, sabor defumado, batata frita com gosto de frango ao molho pardo, snacks de pequi nos voos das companhias aéreas que ainda servem lanchinho.
O cardápio deve ser gigante.
Imagino a cena:
Seguinte, quero comprar um tanto de sabor camarão, mas a patroa é alérgica, vocês me garantem que o bicho não passou nem perto?
Fica tranquilo, meu senhor, nossa fábrica está a 2000 km do mar e por estas bandas ninguém nunca nem ouvi falar nesse tal de camarão. Seu gosto garantido ou seu dinheiro de volta! Aqui não utilizamos nada da origem do cheiro é 100% garantido o engodo. Algum outro sabor ou aroma para hoje?

Um outro: Olha queria um perfume de dólar ou euro para espalhar na festa, aí os convidados saberão que sou muito rico e ostento.
`Olha neste caso recomendamos aroma de Dinar Kuwaitiano pois pelo visto seus convidados não irão reconhecer o perfume ficarão intrigados. E olha que o Dinar do Kwait está batendo o dólar para mais de 3 por 1, 
Beleza cara, fechou pode me produzir alguns litros em spray? 

Perfumes falsos já fazem parte da nossa cultura, os franceses então! Assim como os famosos whiskeys das Terras Altas, ou seria uísque ali do quintal? 

Até celular e relógios de marca andam na mira dos falsários, as próprias notas sejam elas Dinares, pesos, e o nosso Real são copiados aos milhões. Claro que a onda tinha de chegar aos aromas e sabores, mas estes sob a chancela dos órgãos de fiscalização
Mas que dá um gosto amargo na boca ou uma vontade de espirrar, lá isso dá.

Os tempos não param de mudar, os fakes chegaram à nossa mesa, casa, roupa, tênis e tudo que nos rodeia e tem preço.
Que mundo, que mundo...
E nós, de mutação em mutação tentamos sobreviver a evolução dos degustáveis e ataques olfativos e, para piorar das pessoas falsas que compõem o pacote de nossa breve existência. Que Darwin nos proteja!


*Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.
 
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