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25/07/2023 às 08h00min - Atualizada em 25/07/2023 às 08h00min

Um papo com José Pafume

ANTÔNIO PEREIRA
“Qualquer um dos italianos que fizesse festa na casa dele, as pessoas que eles tinham confiança eram os patrícios. Aquela liberdade de palestrar, recordar o passado na Itália, eles convidavam os italianos. O Pepe Rende mesmo fazia festas juninas, seu João Schiavinatto, o Naghetini também. Era fotógrafo. Tinha dois italianos ali juntos: o Naghetini com foto e o Pepe Rende que era sapateiro de fama. Era pai de uns médicos. Infelizmente, a maioria dos italianos que vieram pra cá, não tinha estudo suficiente. Era difícil criar uma sociedade. Faziam uma festa e ali eles trocavam ideias. Eu aprendi muito falar italiano com meu pai, porque meu pai xingava, ficava nervoso, xingava a gente nervoso, tudo em italiano e eu não esqueço que uma vez que o meu tinha uma chácara que comprou do meu padrinho Nicomedes Alves dos Santos e ali na frente do Praia Clube e a Xarqueada Omega, naquela época era Xarqueada Omega, e a gente ficava arrumando as verduras, colocando nas carroças, porque naquela época meu pai tinha quatro carroças e oito animais. Naquela época colocavam dois animais em cada carroça. Você chegou a ver isso? Já deixava no estaleiro a carroça, a gente chegava de madrugada e já arrumava. Então enquanto a gente não arrumasse aquelas quatro carroças de verduras, tudo lavadinho, tudo amarradinho, tudo prontinho, a gente não saia. A gente vivia com os pés sem sapatos, porque meu pai lutava com dificuldade, não tinha condições, nós tínhamos muitas cabeças de porco. A gente lidava com aqueles porcos e dava muito bicho de pé. Dos meninos, eu era um dos mais novos e quando dava a hora de ir embora, naquela escuridão, porque a luz era fraquíssima e não tinha em todo lugar, eu tropecei numa pedra e começou a sair sangue e comecei a chorar e meu pai voltou disse um palavrão em italiano e me perguntou por que eu estava chorando. Porque eu tropecei e machucou e eu estou com medo de assombração. Disse mais outro palavrão e que ia me explicar. Olha: a pessoa morre, faz um buraco coloca aquela pessoa no buraco, jogou terra, acabou. Não se fala mais nada. Colocou a mão na minha cabeça e me disse: Giuseppe você precisa de ter medo é de gente viva, gente viva é que faz mal a você. É justamente o que eu estou observando hoje, uma população que você não pode mais confiar em ninguém. Hoje, você sai pra rua, não sabe se volta.”


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