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24/06/2023 às 08h00min - Atualizada em 24/06/2023 às 08h00min

O papel da vacinação contra Influenza na redução do risco de eventos cardiovasculares

JOÃO LUCAS O'CONNELL
As infecções respiratórias, como a COVID e a Influenza, representam um problema significativo de saúde em todo o mundo. No Brasil, não é diferente. Além dos sintomas que limitam temporariamente a vida do indivíduo (febre, tosse, fraqueza, dor de cabeça, dor no corpo, mal estar, falta de apetite e outros), estudos recentes têm demonstrado uma associação entre as infecções respiratórias e um aumento no risco de eventos cardiovasculares, como o Infarto Agudo do Miocárdio (IAM) e o Acidente Vascular Cerebral (AVC). 

Por outro lado, até pouco tempo atrás, não se tinha evidências de que a vacinação contra a Influenza pudesse trazer qualquer benefício em relação à proteção contra o surgimento de casos de Infarto e AVC. Com a COVID, a situação foi ainda mais polemizada pois muitos passaram a acreditar que a imunização contra a COVID pudesse, na verdade, causar ainda mais riscos de miocardite e de Infarto do que qualquer tipo de proteção. 

Muitos estudos ao longo das últimas décadas têm destacado a ligação entre infecções respiratórias agudas e o aumento do risco de eventos cardiovasculares. Durante uma infecção respiratória, ocorrem mudanças fisiológicas, como a ativação do sistema imunológico e o aumento da resposta inflamatória. Estes processos podem desencadear alterações no endotélio vascular, disfunção plaquetária, aumento da viscosidade sanguínea e aterosclerose acelerada, contribuindo para o aumento do risco de IAM e AVC. Além disso, a infecção também aumenta a demanda de oxigênio, que precisará receber mais sangue para um funcionamento adequado, enquanto o organismo luta contra a infecção. Isto acaba por sobrecarregar o sistema cardiovascular, especialmente em pacientes com doença cardiovascular preexistente. 

Neste contexto, a vacinação anual contra Influenza tem sido amplamente recomendada como uma medida eficaz de prevenção da doença. Além dos benefícios óbvios (e já comprovados cientificamente) de reduzir a morbimortalidade associada às infecções por Influenza, estudos recentes também mostraram que a vacina reduz o risco da ocorrência de Infarto e, inclusive, da morte por Infarto. 

Um estudo publicado no New England Journal of Medicine analisou mais de 7000 pacientes com idade média de 67 anos e antecedente de doença coronariana. Os resultados do estudo mostraram que a vacinação contra Influenza reduziu o risco de IAM, AVC e morte cardiovascular em, aproximadamente, 30%. Outra pesquisa publicada no Journal of American Medical Association (JAMA) analisou dados de mais de 40.000 pacientes com idade média de 63 anos, e também observou uma redução significativa no risco de IAM e AVC em indivíduos vacinados contra Influenza. 

Vários mecanismos foram propostos para explicar os efeitos benéficos da vacinação contra Influenza na proteção cardiovascular. Acredita-se, por exemplo, que a vacinação, ao estimular a produção de anticorpos específicos contra o vírus, acaba por reduzir a agressão viral ao endotélio e ao músculo cardíaco e também a resposta inflamatória sistêmica. Esta redução da resposta inflamatória pode ajudar a preservar a integridade do endotélio vascular e a prevenir a formação de coágulos sanguíneos. Além disso, a vacinação contra Influenza também pode estimular uma resposta imune mais ampla, que poderia fornecer proteção cruzada contra outros patógenos respiratórios, reduzindo assim o risco geral de infecções respiratórias. 

Apesar de toda a polêmica recente envolvendo a relação risco x benefícios da vacinação contra a COVID, temos inúmeras evidências científicas que corroboram o importante papel da vacinação contra a Influenza como uma importante medida protetiva contra a ocorrência de eventos cardiovasculares. Assim, a recomendação para a efetivação da vacinação continua sendo muito importante para toda a população. Em especial, para os portadores de fatores de risco cardiovasculares e para os indivíduos nos extremos de idade. A vacinação contra a Influenza é uma medida eficaz e segura para a redução do risco cardiovascular, especialmente para aqueles sob um maior risco de eventos futuros. 


*Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.
 
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