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27/05/2023 às 08h00min - Atualizada em 27/05/2023 às 08h00min

Vacinas antes de cirurgias – tomar ou não?

JOÃO LUCAS O'CONNELL
Neste mês de Maio, especialistas de todo o Brasil se reuniram em São Paulo para mais um “Controvérsias em Imunizações". Como o próprio nome diz, eles discutiram temas que ainda não são consenso absoluto sobre as mais diversas vacinas. Aliás, ainda existem muitas dúvidas. Entretanto, por mais que as mídias sociais queiram dizer o contrário, uma posição é unânime entre os mais variados especialistas: elas são muito importantes para a saúde. O encontro anual completou, este ano, 20 anos de existência. 
 

A vacinação é uma forma simples, segura e eficaz de proteger as pessoas contra doenças nocivas, antes que entrem em contato com elas. As vacinas estimulam o nosso sistema imunológico, ensinando as células do nosso sistema de defesa a reconhecer determinado vírus ou bactéria como nocivo e a neutralizá-lo ou ainda a produzir anticorpos (proteínas que inativam os agentes invasores agressores) para construir uma resistência competente contra infecções específicas. Assim, basicamente, as vacinas estimulam o seu organismo a se tornar mais resistente contra microorganismos invasores, tornando o seu sistema imunológico mais forte.

 

Além de proteger o indivíduo contra novas infecções, ainda há especulações sobre o benefício na resposta de modulação de nosso organismo contra inflamações. Recentemente, a vacinação contra a Influenza se mostrou uma medida segura e muito útil em reduzir a ocorrência de novos infartos, de AVC e até de morte quando aplicada para pacientes em recuperação de um Infarto. E mais: o benefício foi ainda maior quando a vacina era dada dias após o Infarto. A mesma vacina contra Influenza também já se mostrou útil para pacientes portadores de outros problemas cardíacos (como a insuficiência cardíaca), para pneumopatas e para portadores de imunodeficiência. 

 

Por mais que a ciência tenha se desenvolvido, algumas dúvidas sobre a vacinação ainda permanecem... Se ela já se mostrou útil quando aplicada logo após a ocorrência de um Infarto, não se pode falar o mesmo sobre a aplicação das vacinas antes de uma cirurgia, por exemplo. Será que uma pode atrapalhar a outra? Ninguém quer que o nosso sistema de defesa fique dividido entre ajudar o corpo a se recuperar do trauma de uma operação e montar a resposta contra a doença após receber um imunizante ao mesmo tempo. Por outro lado, a vacina também desencadeia um processo inflamatório que pode ter uma repercussão negativa na cirurgia. Vimos com algumas das vacinas contra a COVID, por exemplo, que elas aumentavam a agregabilidade sanguínea e, consequentemente, o risco de fenômenos tromboembólicos em alguns pacientes. Este, aliás, foi um dos temas debatidos recentemente no encontro de especialistas que discutiram a controvérsia das imunizações. Em relação a este tópico específico, a recomendação atual é de que é prudente esperar pelo menos uma semana para realizar uma cirurgia após receber uma vacina de um vírus inativado e cerca de três semanas após receber um imunizante feito com vírus vivo atenuado.  

 

Vale lembrar que esta é uma orientação geral e deve ser feita sempre que possível. Entretanto, existem casos que fogem à regra. No auge da pandemia, por exemplo, se um senhor de 80 anos de idade precisasse ser operado e fazer o pós operatório num hospital repleto de pacientes (e, eventualmente funcionários) portadores do vírus da COVID, provavelmente ele correria menos riscos no pós-operatório se recebesse uma vacina contra a COVID imediatamente antes de se internar. 

 

Assim, de maneira geral, agora que estamos numa situação pós pandemia, as orientações gerais são para que os pais fiquem bem atentos aos cartões de vacinação dos filhos e tentem manter a vacinação atualizada, evitando o uso de vacinas no mesmo mês em que a criança irá realizar um procedimento. Já os adultos e idosos também devem evitar uso de vacinas contra a gripe, COVID, Dengue ou Herpes Zóster logo antes de procedimentos cirúrgicos. De qualquer forma, especialmente se você tem menos de quinze ou mais de sessenta anos de idade, não deixe de procurar um posto de saúde ou uma clínica de vacinas, portando o seu cartão de vacinas para saber se você precisa programar alguma das imunizações previstas no calendário oficial para a sua idade. As vacinas evitam doenças importantes e o seu uso pode prevenir sequelas importantes ou até a morte. 

 
*Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.
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