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20/05/2023 às 08h00min - Atualizada em 20/05/2023 às 08h00min

Açúcar ou adoçante?! O que devemos priorizar?!

JOÃO LUCAS O'CONNELL
Esta semana, uma nova discussão sobre os riscos e benefícios do consumo de adoçantes (em substituição ao açúcar) dominou os debates científicos em grupos de nutrologia, endocrinologia e medicina em geral. O debate e a controvérsia também chegaram às mídias e redes sociais. O tema voltou à tona porque houve a publicação de uma nova Diretriz da Organização Mundial de Saúde sobre como os profissionais de saúde devem orientar seus pacientes em relação aos melhores hábitos dietéticos a serem adotados a nível populacional e direcionar as Diretrizes de Saúde Pública. 

A controvérsia foi estabelecida quando, na parte do documento em que se debate entre a orientação para o uso de açúcar ou de adoçantes na dieta, foi apresentado um estudo comparativo entre estas duas opções, avaliando milhares de pacientes que foram observados (estudos observacionais) ou em que houve pré-determinação do que deveria ser utilizado (parte dos estudos analisados eram de intervenção). 

Este grande estudo (chamado meta-análise) concluiu que o consumo sistemático de adoçantes (no lugar de açúcares comuns) leva a perda muito pequena de peso corporal, mas que ele não interfere em desfechos clínicos maiores, como uma proteção contra a ocorrência de Infarto, AVC ou até mesmo o surgimento de doenças como o Diabetes. Além disso, como a química envolvida na fabricação dos adoçantes sempre trouxe preocupações quanto à possibilidade do surgimento de outras doenças (como as neoplasias), a OMS sugere, em seu documento, que a troca sistemática de açúcares por adoçantes deve ser desestimulada. Pelo menos, a nível populacional…

Portanto, a nova diretriz da OMS acabou se posicionando definitivamente contra o uso de adoçantes para controle de peso e ainda levantou dúvidas sobre a segurança do produto, sugerindo que os usuários devam deixar o composto de lado. Entretanto, vários especialistas (endocrinologistas, nutrólogos) acabaram questionando esta nova recomendação, sugerindo que ela não deve ser aplicada a nível pessoal, mas que se trata de uma recomendação direcionada a governos e à saúde populacional (como estratégia para a rotulagem de alimentos, por exemplo). 

A orientação para interrupção não deve, porém, ser utilizada como orientação sistemática a nível pessoal. Ou seja, esta substituição pode sim ser benéfica e uma estratégia adicional para pacientes que desejam perder peso. Além disso, o uso dos adoçantes artificiais é indicado (e muito importante) para auxiliar no tratamento de pacientes diabéticos, que devem evitar o consumo de açúcares de qualquer tipo. Estes especialistas afirmam que, de maneira geral, não é necessário interromper o uso de adoçantes, mas que é importante consultar um profissional para ter uma orientação dietética personalizada.

Na verdade, as discussões sobre a toxicidade dos adoçantes ocorrem há décadas, mas ainda não há consenso científico sobre os potenciais benefícios ou malefícios desses compostos. 
No novo relatório, a OMS indica que o uso de adoçantes pode estar relacionado ao desenvolvimento de doenças como diabetes tipo 2, problemas cardiovasculares e certos tipos de cânceres em adultos. Contudo, também classifica as evidências científicas relacionadas a esse risco como de "baixas a moderadas".

Portanto, aqueles que preferem o sabor dos adoçantes (do que o açúcar) e que desejam otimizar sua dieta (diminuindo o consumo diário de calorias) poderiam consumir estas substâncias dentro de limites considerados seguros. De acordo com a FDA (agência americana reguladora de alimentos e medicamentos), a recomendação diária varia de acordo com o composto. O limite do aspartame, por exemplo, é de 50 mg/kg por dia. A ingestão da sacarina, por outro lado, é de até 15mg/kg. O limite da sucralose é ainda mais baixo, de 5 mg/kg.

Em relação ao uso para controle de peso, o estudo e a nova orientação deixaram claro que os adoçantes (quando comparados ao uso de açúcares) não causam grande perda de peso. São compostos utilizados em dietas para facilitar o déficit calórico, uma vez que possuem baixa ou nenhuma quantidade de calorias, mas não têm efeito de emagrecimento propriamente dito. Por fim, precisamos lembrar que o que causa emagrecimento é uma dieta balanceada, com alimentos saudáveis e poucas calorias. E que o uso de adoçantes ou produtos artificialmente adoçados, muitas vezes, funciona, no máximo, como um pequeno auxílio a esse objetivo...

Assim, no momento atual, podemos determinar que os adoçantes são produtos que ajudam no tratamento de diabetes e obesidade, e podem ser usados (idealmente em baixa quantidade diária) seguindo os critérios de recomendação de seu médico ou nutricionista pessoal. "Enquanto as evidências científicas são bem definidas com relação aos malefícios do consumo aumentado de açúcar, as evidências (contra o consumo) de adoçantes ainda não são definitivas”, como enfatizado no próprio posicionamento da OMS.


*Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.
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