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25/03/2023 às 08h00min - Atualizada em 25/03/2023 às 08h00min

E o consumo do ovo?! É bom ou ruim?!

JOÃO LUCA O'CONNELL
No último artigo de nossa coluna, discutimos sobre um tópico que não é tão controverso entre os cientistas, mas que é extremamente controverso nas mídias sociais... Apesar de que o consumo dos óleos vegetais (soja, girassol, canola) para o preparo do alimento ser o mais recomendado pelas Sociedades Médicas atualmente, ainda há grande discussão sobre o assunto. Ainda é muito comum, por exemplo, ouvirmos conselhos de “pop stars” midiáticos da área de saúde orientando a população a substituir os óleos vegetais por óleo de coco ou até pela banha do porco para o preparo dos alimentos... 

Outro assunto que gera grande polêmica, desta vez até mesmo entre os cientistas, é sobre os benefícios do consumo diário do ovo. Enquanto muitos defendem este alimento como um dos mais completos em termos de fontes de proteína e defendem o consumo do mesmo diariamente e em grandes quantidades, outros acusam o ovo de ser fonte de colesterol ruim e sugerem que o seu consumo seja evitado, especialmente entre os cardiopatas. Mas, afinal, devemos estimular o consumo do ovo, independente do seu teor mais alto de colesterol?!

Infelizmente, boa parte da controvérsia em relação ao consumo do ovo foi produzido pela própria ciência. A maioria dos estudos envolvendo o consumo deste alimento são muito contraditórios. Enquanto alguns sugeriram benefícios, em especial para a saúde óssea e muscular, outros vincularam o consumo aumentado de ovos a maiores índices de doenças cardiovasculares e até de óbito. 

Certamente, a confusão se dá pelo fato de que quase a totalidade dos estudos feitos foram observacionais, aonde uma grande possibilidade de erros de análise e fatores de confusão estão presentes. Por exemplo: seria justo comparar uma população de jovens atletas que não fuma e malha 2 horas todos os dias, e que consomem média de 2 ovos cozidos por dia, com um outro grupo de idosos, tabagistas, obesos acostumados a comer 5 ovos fritos com bacon, presunto e requeijão ao longo do dia? Se o segundo grupo morrer mais, significa realmente que é o fato de consumirem mais ovos (que o primeiro grupo) que explica a sua maior mortalidade? Estes fatores de confusão talvez possam ajudar a explicar parte das controvérsias encontradas em estudos prévios sobre o consumo de ovos. 

O que é certo é que, atualmente, sabemos que o consumo exagerado de ovos (mais do que 3 ao dia) tem o potencial de aumentar os níveis de colesterol (em especial o colesterol ruim) no sangue. Também já sabemos que não existe qualquer dúvida sobre a estreita relação entre o colesterol ruim e o aumento de incidência de morte por eventos cardiovasculares. Assim, todas as medidas para o controle adequado do colesterol ajudam a diminuir o risco de morte cardíaca. Em especial, o risco de morte por Infarto do Miocárdio e por Acidente Vascular Cerebral. Assim, evitar um consumo exagerado de ovos deveria ser mandatório para os pacientes sob maior risco cardiovascular (fumantes, hipertensos, diabéticos, obesos, renais crônicos, pessoas com antecedentes pessoais ou familiares de infarto ou AVC). 

Por outro lado, não há evidência científica robusta que justifique a proibição de um consumo moderado de ovos (3 a 6 ovos por dia) para atletas que visem aumento de massa muscular, por exemplo. De modo semelhante, não deve haver proibição para aqueles que monitoram os seus níveis de colesterol sanguíneo e que os mantêm sob níveis ideais para a sua idade e condição clínica. Por todos os benefícios e pela riqueza de nutrientes presentes no ovo, estimular o seu consumo entre pessoas que não possuem um colesterol muito elevado e que não possuem outros fatores de risco para eventos cardiovasculares é bastante aceitável e, até recomendado (como fonte alternativa de proteínas à carne vermelha).

Em suma, alimentos (como o ovo), que aumentam as concentrações do colesterol no sangue, não devem ser consumidos em grande quantidade, em especial em pacientes de maior risco de eventos cardiovasculares. Ressalta-se que estas são recomendações para a população geral e que casos particulares (como, por exemplo, o de atletas de alto rendimento ou pacientes desnutridos) deveriam ser analisados com mais atenção e cuidado por profissionais especialistas (nutricionistas e nutrólogos).


*Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.
 
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