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25/02/2023 às 08h00min - Atualizada em 25/02/2023 às 08h00min

A evolução do metabolismo do homem e a pandemia da obesidade – Parte I

JOÃO LUCA O'CONNELL
Estamos vivendo, atualmente, uma pandemia de Obesidade que vem modificando, inclusive, o perfil das doenças que mais atingem o Homem. Desde o início da história da humanidade, e pelos milhões de anos que se sucederam, a maioria das pessoas morria ou por doenças infecciosas ou relacionadas à falta de alimento (desnutrição). Boa parte das pessoas morria antes mesmo de completar um ano de vida! Apesar de continuarmos padecendo por estes males, atualmente, a grande maioria das pessoas sobrevive à infância e morre, após os 50 anos de idade, por doenças cardiovasculares ou por câncer (quase a metade das pessoas). Nós, humanos, somos uma das poucas espécies que temos conseguido aumentar nossa expectativa média de vida.  Mas, se por um lado, o desenvolvimento da Medicina (vacinas, medicamentos, antibióticos, prevenções e tratamentos médicos) preveniu milhões de mortes ao longo das últimas décadas, a mudança do comportamento do Homem também ajuda a explicar esta mudança no perfil das principais doenças que o atingem e que o levam a morte. 

Quase todos os aspectos de nossas vidas modernas marcam um enorme afastamento das leis que governam todas as outras espécies de animais do planeta, e também um grande distanciamento do comportamento diário dos nossos ancestrais.  Atualmente, muitos dos alimentos que ingerimos no nosso cotidiano não é reconhecível como um produto da natureza. A matéria-prima para muitos dos lanches e bebidas que ingerimos no dia a dia não seria reconhecida por cientistas experientes 100 anos atrás... Refrigerantes, sucos de caixinhas, requeijão, sorvete, bolachas, bolos e salgados empacotados, margarina, leite armazenado em caixas, cereais açucarados, carnes e embutidos ultra processados são exemplos de químicos com os quais a humanidade não tinha contato, até algumas dezenas de anos atrás.   

Por outro lado, apesar do conforto trazido pelo desenvolvimento tecnológico dos dias atuais (máquinas no campo e na construção civil e indústrias automatizadas), que otimizaram, em muito, a produtividade industrial, esta automação da produção acabou aumentando o nível de sedentarismo da população. Nas últimas décadas, portanto, observamos uma enorme transformação da rotina da grande maioria dos trabalhadores. Se, há 100 anos, a maioria cumpria longas jornadas de trabalho no campo (aonde a maioria da população vivia e trabalhava) ou nas indústrias, usando esforço físico para produzir ou para movimentar as máquinas, nos dias atuais, a maioria das pessoas não têm, nem de longe, o mesmo gasto calórico (metabolismo) diário que nossos antepassados. Tudo isso ajuda a explicar a grande mudança do gasto calórico médio das pessoas e o aumento do número de algumas doenças como a Obesidade e as doenças cardíacas, altamente relacionadas ao sedentarismo. 

Os macacos vivos, nossos parentes mais próximos, sobrevivem comendo frutas e folhas diretamente da árvore e mordiscando uma refeição ocasional de insetos ou pequenos animais, além de passarem boa parte do tempo andando e pulando. Estudos de fósseis das linhagens humanas mais antigas, os primeiros quatro milhões de anos depois que nos separamos dos outros macacos, indicam que nossos primeiros ancestrais seguiam as mesmas regras ecológicas: comer frutas, vegetais e grãos e andar atrás da comida.

Cerca de 2,5 milhões de anos atrás, as coisas tomaram um rumo improvável. As primeiras populações do gênero Homo se depararam com uma nova forma de ganhar o alimento: a caça.  Em vez de seguir uma carreira exclusiva de comedores de plantas, eles tentaram uma estratégia dupla: alguns caçariam, outros colheriam e compartilhariam tudo o que adquirissem. Essa abordagem cooperativa valorizou a inteligência e o desenvolvimento físico dos humanos. Ao longo de milênios, se tornaram mais fortes e o tamanho do cérebro começou a aumentar. O Homem começou a ficar cada vez mais inteligente e cooperativo e esta estratégia foi fundamental para unir o Homem contra seus principais predadores, melhorar sua alimentação e fortalecer o seu físico e sua mente, o que permitiu se tornar dominante sobre as outras espécies.  

Nossos ancestrais paleolíticos aprenderam a cortar lâminas delicadas de paralelepípedos redondos, caçar animais grandes e cozinhar sua comida.  Eles construíram lares e se reuniram em comunidades e começaram a mudar a paisagem, desenvolvendo um domínio ecológico que acabou levando à agricultura. Essas mudanças evolucionárias reverberam hoje. A coleta cooperativa que levou nossos ancestrais caçadores, coletores e agricultores a desrespeitar as regras ecológicas estabelecidas há muito tempo não mudou apenas os alimentos que comemos. Ele alterou aspectos fundamentais de nossa biologia, incluindo nosso metabolismo. Retomaremos o papo sobre as alterações do nosso metabolismo ao longo da evolução do Homem e a sua relação com a pandemia da Obesidade no artigo da nossa próxima coluna. Boa semana. 


 
*Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.


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